Goiás, 10 de maio de 1970. Santa Rita do Araguaia é uma pequena cidade à margem direita do Araguaia. Atravesso a ponte e ao invés do lendário e imponente rio vejo um riacho atrevido. Do lado oposto, Alto Araguaia com seus 7.971 habitantes e intensa movimentação de pedestres no final da tarde daquele domingo que marcou meu primeiro encontro com o abençoado e ensolarado Mato Grosso. O destino era Poxoréu, mas precisamente a vila de Paraíso do Leste, na casa de seo José Nalon, amigo antigo de minha família, que trocou Minas Gerais por aquele lugar e se transformou em pioneiro no cultivo de fumo na nova era da colonização mato-grossense que começava naquela ano.
Poeira, muita poeira na estrada arenosa com enormes erosões às suas margens. Pouco ou quase nenhum trânsito. Todo veículo que passava em direção contrária exibia no para-brisas os dedos de uma das mãos de seu motoristas. Aquilo não era saudação, mas uma forma de proteção contra pedras atiradas pelos pneus do carro que seguia em direção oposta.
Silencioso, de um e outro lado da estrada que o rasgava, o cerrado esperava pelo agricultor, que mais tarde o transformaria num dos pilares da política de segurança alimentar mundial.
Meio século é um bom período existencial. Creio que nessa quadra da vida permaneci ao menos 10 ou 12 anos à frente de uma máquina de escrever, computador, microfone, entrevistando, cobrindo algum evento ou viajando em busca de conteúdos jornalísticos – tempo também considerável.
Pra fazer um breve relato da minha atividade criei a série Meio século na estrada. Desde 3 de dezembro do ano passado posto neste site com chamada na página que mantenho no Facebook uma foto de minha atuação na área – são postagens sem cronologia nem prevalência; meros registros. A meta seria terminá-la amanhã, mas decidi antecipá-la. Tenho muitas fotografias do período e não gostaria de postar somente uma, hoje, em detrimento das demais, já que a derradeira seria a de agora, uma estatueta de jornaleiro. Por isso deixo comigo mesmo uma interrogação: qual seria a derradeira?
Observo que a foto da estatueta do jornaleiro foi um presente que recebi de minha irmã Selma, que a enviou do Pará, em 1999. Ela ocupa lugar de destaque no meu escritório. Entendo que no jornalismo somos todos jornaleiros, essa figura engolida pela transformação da profissão, mas que não será o único dessa cadeia laboral a nos deixar – os conceitos impostos pela internet esvaziam impiedosamente as redações. fotojornalismo, revisão, diagramação…
A série é o conjunto de 157 registros fotográficos e de curtos textos sobre eles dando o devido crédito ao fotógrafo. Agradeço os que a seguiram. De modo especial sou agradecido aos jornalistas do meu círculo de amizade e relacionamento, os ex-patrões e ex-colaboradores, aos repórteres fotográficos que me acompanharam por incontáveis viagens que me levaram a todas as cidades e vilas de Mato Grosso, ao pessoal das redações, leitores, anunciantes, aos que me denunciaram e acusaram, aos que me julgaram, às fontes que pediram sigilo e àquelas que informaram abertamente, aos que me criticaram e aos poucos que reconheceram meu modesto trabalho feito com afinco e dedicação sem um mês de férias sequer.
Pelos erros cometidos peço desculpas.
No período me atrevi a escrever alguns modestos livros, mas não aceito o rótulo de escritor.
Teria que agradecer minha família, mas isso faço a cada gesto e pensamento. Prefiro mantê-la fora do contexto profissional.
Não saberia viver em outro lugar que não fosse Mato Grosso. Gosto de suas 141 cidades e, de modo especial, da minha Rondonópolis.
Transcorridos 50 anos continuo trabalhando com prazer e pela necessidade de sobreviver. Até quando, somente Deus sabe, mas a disposição é a mesma do primeiro dia, de todas as décadas, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos. Mesmo com minha limitação espero ainda ser útil a Mato Grosso. Deus está comigo e sempre me amparou ao longo da vida em Minas Gerais, meu berço; Rondônia, onde morei; e nessa terra que adotei e por ela fui adotado e da qual sou filho de coração, por opção e Cidadania concedida pela Assembleia Legislativa graças ao generoso coração do ex-deputado Ságuas Moraes.
Caminhemos. Como nos ensina o poeta: O caminho não existe; o caminho se faz ao caminhar.
Cuiabá, 9 de maio de 2020
Eduardo Gomes de Andrade
A doçura e a simplicidade dos seus textos me encantam e eu sempre digo isso
Ruth Firmino
É o tempo voa, amigo. Você tem muitas estórias pra nos contar. Continua com a habilidade que lhe é particulaar em colocar de forma original no papel o que acontece no momento.
Sempre com sua forma precisa e concisa. Parabéns pelos 50 anos de JORNALISMO de letras maiúsculas. Abraços.
Francisco Carlos Souza – coronel da reserva remunerada da Polícia Militar – Rondonópolis
Quando li seu belo artigo,encimado pelo pequeno jornaleiro, lembrei-me de minha infância em que entreguei jornais e revistas para os clientes dabanca que ficava na esquina de minha Rua Tupi, em São Paulo. Obrigado e forte abraço
Jorge dos Santos – Cuiabá (via WhatsApp)
Brigadeiro, 50 tons de tinta.
Obrigado por seus exemplos.
Sílvio Simão
Nobre Eduardo Gomes. Sua voz e sua escrita fazem eco. CERTAMENTE QUE SIM. Ecos na cabeça dos maus políticos que são hoje expoente no Estado. Farão eco também no dia do juízo final, quando tiverem queprestar contas ao “Arquiteto do Universo”, pelas bandalheiras e mamatas implantadas sob o governo dessa gente. As mesmas palavras fazem econ na mente de muitas pessoas que não têm coragem ou não podem se manifestar publicamente, mas a verdade sempre será a verdade, ainda que os poderosos queiram perseguir ou menosprezar – Felicidade Brigadeiro pela sua marcha pela verdade e divulgação dos fatos em Mato Grosso. Ímpar seu trabalho contra o peleguismo do emprego do poder pra beneficiar castas. Sou seu fã desde 2004, quando coloquei os pés em Mato Grosso e os olhos em seus escritos. Pessoalmente nos falamos duas vezes, e de forma rápida, mas a primeira impressão é a que fica.
Inácio Roberto Luft – Radio Interativa FM e jornal Interativo – Água Boa
Eduardo é referência!
Uma das coisas mais importates deve ser essa liberdade.
Lauro da Mata
Brigadeiro, na sua humildade você fala discretamente sobre 50 anos de jornalismo. Isso deveria ser manchete em todos os veículos de comunicação no Mato Grosso. Parabéns meu amigo.
Celso de Abreu – advogado – Cuiabá
Parabéns seu Eduardo e obrigado por seus ensinamentos
Lourdes Maria
Parabéns e muito obrigado seu Eduardo Brigadeiro
Aracely Lopes
Perfeito.
Parabéns pelo trabalho, mergulhar na sua narrativa é viver a vossa epopeia num meio século que moldou os próximos 50 anos de MT. O jornalismo sério é a história sendo escrita. O agronegócio consolidado e em expansão e a mineração será outra grande locomotiva do crescimento econômico e social de MT. (que aprendemos com a experiência ambiental e normativa chilena na exploração do cobre e a METAMAT ou uma agência mineral para estabelecer o marco regulatório).
Eduarti Fraga – advogado – Chapada dos Guimarães