Fávaro insiste com candidatura natimorta ao Senado

Fávaro insiste, mas não é fácil
Adversário tira votos do concorrente e ninguém tem dúvidas quanto a essa realidade. e quando são vários os adversários e cada um mina o oponente em seus principais alicerces, a possibilidade de vitória se volatiliza. É isso que acontece com o pré-candidato ao Senado na eleição suplementar de 26 de abril. Carlos Favaro (PSD).

 

Em 10 de dezembro do ano passado, imediatamente após a cassação da chapa da senadora Selma Arruda (Podemos), por crimes de abuso de poder econômico e caixa 2, o nome de Fávaro despontou enquanto favorito à vaga aberta graças a uma ação da qual ele foi um dos autores. Com o passar do tempo, a reacomodação política e a cristalização dos principais nomes à disputa, Fávaro caiu em desgraça puxado por quatro fatores que analistas políticos julgam serem decisivos – se somados- para seu fracasso nas urnas.

 

Os fatores

 

Fávaro antes com Jayme Campos, agora sem

COMPANHEIROS – Em 2018 Fávaro disputou o Senado encabeçando uma chapa que se completva com Geraldo Macedo (PSD) e José Lacerda (MDB), numa ampla coligação que elegeu o governador democrata Mauro Mendes e seu vice Otaviano Pivetta (PDT), o senador Jayme Campos (DEM) deputados federais e dentre eles Carlos Bezerra, que é o principal cacique do MDB, e Emanuel Pinheiro – o Emanuelzinho (PTB), filho do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB); e uma expressiva bancada na Assembleia Legislativa, destacando-se o presidente daquele Legislativo, Eduardo Botelho (DEM).

Os aliados de Fávaro, excetuando-se Macedo, que é seu correligionário e foi seu companheiro de chapa, lhe viraram as costas. Ele perdeu o apoio que recebeu da grande coligação vitoriosa em primeiro turno ao governo. Perdeu por duas razões: Júlio Campos (DEM) é pré-candidato ao Senado e irmão de Jayme Campos.

Bons tempos aqueles de Fávaro com Bezerra

Bezerra está em traje de gala ao pé do altar esperando chegar a noiva chamada Coligação com o DEM, para abraça-la e juntos  caminharem ao padre que fará o casório.

Emanuel Pinheiro, o prefeito, é o que se chama de político do couro grosso. Enlameado pelo escândalo revelado em 2017por um vídeo onde aparece recebendo dinheiro de Sílvio Corrêa, então chefe de gabinete do à época governador Silval Barbosa, mesmo após o vídeo e ser delatado por Silval, o prefeito continua de cabeça erguida controlando a Câmara Municipal, o movimento comunitário e boa parte da Imprensa. Mesmo com o vídeo que lhe renseu o apelido de Paletó (pois um maço da dinheirama caiu do bolso de seu paletó), o pai do deputado Emanuelinho é considerado figura com boa densidade eleitoral. Emanuel Pinheiro veste a camisa de Júlio Campos.

Botelho é parente de Júlio Campos, e sua família tem atividade empresarial com integrantes do clã dos Campos. Ou seja, Botelho somente não é mais Júlio por falta de espaço.

Mauro Mendes não é de encarar enfrentamento político, mas terá que optar entre o companheiro Júlio ou o vice-governador Pivetta.

Apoiando Júlio, Mauro faria péssimo negócio para ele em 2022, pois uma vez eleito senador Júlio fortaleceria o mano Jayme para tentar o governo. Ficando com Pivetta o governador mostraria certa coerência grupal.

Resumo: nenhuma das opções de Mauro seria benéfica a Fávaro, que na lista de opção do governante seria o terceiro nome.

QUINTAL  – Fávaro e Pivetta´residem em Lucas do Rio Verde, no Nortão. O município tem 45.300 eleitores. Esse eleitorado além de ser dividido com Pivetta também votará em outros nomes, com destaque para o tucano Nilson Leitão, que é morador em Sinop, naquela região.

Em Lucas, Fávaro tem o apoio do prefeito Luiz Binotti (PSD), que em 2016 venceu Pivetta que tentava a reeleição. A vitória de Binotti foi por pequena margem, e Pivetta na antevéspera da eleição teve o registro de sua chapa cassado pela Justiça Eleitoral, que horas depois lhe devolveu a elegibilidade, mas o prejuízo eleitoral já estava cristalizado.

Leitão e Fávaro: o Nortão que os espere

VIZINHANÇA – Nortão é uma área com 35 municípios compreendidos entre a margem esquerda do rio Xingu e a direita do Arinos, do Pará a Diamantino. Tanto Pivetta quanto Leitão ali residem. Em 2018 Leitão tentou o Senado, sendo derrotado (330.430 votos). Analistas debitam sua derrota à concentração de sua campanha fora do Nortão, o que deverá ser diferente agora, segundo fontes ligadas a ele.

AGRO – Fávaro, Leitão e Pivetta são candidatos do agronegócio. Júlio também é, mas em escala menor.

Pivetta é um dos maiores produtores de soja do mundo e grande exportador de carne suína. Por três vezes foi prefeito de Lucas; foi secretário de Desenvolvimento Rural em parte do primeiro mandato do governador Blairo Maggi (2003/06), exerceu mandato de deputado estadual; em 1990, sem sucesso foi candidato a segundo suplente de senador pelo PSB numa chapa encabeçada por Moisés Martins (PDT); em 2014 Pivetta (PDT) foi companheiro de chapa de Mauro Mendes (PSB) ao governo, na eleição vencida em primeiro turno por Silval Barbosa (PMDB).

Leitão nunca entrou numa lavoura, mas apreendeu a empunhar a bandeira dos produtores rurais tão bem, que hoje ninguém sabe onde ele termina e ela começa. Seu currículo político inclui mandato de vereador por Sinop, onde foi prefeito reeleito; suplência  de deputado estadual, deputado federal, líder do PSDB na Câmara e a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), da qual agora é consultor altamente remunerado.

Fávaro foi vice de Pedro Taques

O paranaense Carlos Henrique Baqueta Fávaro é produtor rural, presidiu a Associação dos Produtores de Soja e Miho de Mato Grosso (Aprosoja), e em 2014, quando se elegeu vice-governador de Taques, pelo PP, seu nome foi apadrinhado por Eraí Maggi, que é um dos barões mundiais da soja.

Eleito vice-governador pelo PP, Fávaro o trocou pelo PSD, até então presidido pelo ex-vice-governador Chico Daltro e liderado pelo mandachuva José Riva, que durante 20 anos deu as cartas na Assembleia Legislativa. Riva caiu em desgraça eleitoral e Fávaro assumiu o partido mantendo filiados os políticos que são apelidados de Viúvas de Riva.

SÍNTESE – Sem o apoio que recebeu em 2018 da coligação vitoriosa naquele pleito. dividindo votos em Lucas com Pivetta; rachando o eleitorado do Nortão com Pivetta e Leitão, além dos demais candidatos; fragmentando o agro, Fávaro está em mãos lençóis.

 

Contexto da eleição

 

Fávaro terá fortes adversários além de Leitão, Pivetta  e Júlio. O presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM),  Neurilan Fraga (PL), com apoio municipalista e do senador liberal Wellington Fagundes; o deputado federal José Medeiros (Podemos), amparado pelo bolsonarismo; Waldir Caldas (Novo), com o discurso da moralização; a suplente de deputada federal Gisela Simona (Pros); o deputado estadual Waldir Barranco (PT), com o rescaldo do ex-presidente Lula da Silva; o deputado estadual Elizeu Nascimento (DC); e possivelmente outros nomes estarão em campos opostos da Fávaro.

Em 2018, quando estava em pré-campanha ao Senado, Fávaro renunciou ao cargo de vice-governador, temendo que Taques viajasse ao exterior sem que ele soubesse, o que automaticamente o faria governador em exercício e o tornaria inelegível para senador.

Na eleição em 2018 recebeu 434.972 votos ao Senado ficando em terceiro lugar.

 

Eduardo Gomes de Andrade – blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 e 4 – Site público do Governo de Mato Grosso – Divulgação

2 – Dinalte Miranda

3 – Flickr de Campanha em 2018

 

 

 

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