Entre o grito de protesto e o silêncio cúmplice
Por
Eduardo on 14 de dezembro de 2025
EDUARDO GOMES
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Mato Grosso é um amontoado de bolhas que reúnem pequenos grupos de críticos do cenário político nacional, que não raramente atacam no campo pessoal a primeira-dama Janja e sua antecessora Michelle Bolsonaro. Nos grupos de WhatsApp, nas páginas do Facebook e nas demais redes sociais a cuíca ronca nacionalmente enquanto aqui impera o silêncio sepulcral sobre as mazelas, a corrupção e outros males que corroem os cofres públicos. Uma das facetas mais vergonhosa do legislativo federal e estadual na Terra de Rondon é o deleite parlamentar bancado pelo dinheiro público, sem que nenhuma boca se abra em protesto – e alguns até vibram com carinhas angelicais e narrativas de figuras pré-diluvianas. A silenciosa subserviência é nociva ao processo democrático e contribui para a eternização daqueles que se sentem donos do poder e titulares de candidaturas como se fossem senhores das decisões partidárias.
Estamos numa fase pré-eleitoral se considerarmos o calendário oficial. Porém, na prática todos os detentores de mandato estadual e federal estão em campanha velada, mas usando artifícios para não serem alcançados pela lei, que mesmo sendo frágil tem peso de dura lex.
Nas redes sociais, deputados e senadores ocupam todos os espaços possíveis defendendo causas que são abraçadas por todos, se derramando em emoção por ritos canônicos, pela beleza do lugar onde se encontram. Por acaso alguém parou para pensar quanto o contribuinte – aquele que banca tudo – desembolsa para cobrir o custo de uma viagem aérea de uma figura pública acompanhada por assessores de Imprensa, fotógrafos, cinegrafista e aspone, de Cuiabá a Jauru? Ou da Assembleia a uma aldeia indígena no Chapadão do Parecis? Ou ainda a Vila Rica, para abraçar um pioneiro? Ou de uma pequena carreata a Poconé para jogar conversa fora?
Suas Excelências usam e abusam do poder. A Assembleia, Câmara e Senado, abarrotados na dinheirama, pagam tudo sem questionar.
É uma vergonha que num Estado com tantos problemas um deputado ou senador saia por aí contando causos, recordando como era a 30, 40 anos a região onde se encontra.
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Precisamos monitorar a ciranda da hipocrisia que essa gente faz com recursos públicos. Numa visão mais ampliada isso é abuso de poder político e campanha extemporânea. Que o eleitorado tenha isso em conta e não os reeleja nem os eleja para outros cargos – ainda que o Ministério Público Eleitoral permaneça de braços cruzados, por mais que o Tribunal de Contas do Estado aprove os balancetes de Suas Excelências.
Estamos no ciclo da futilidade e da vulgaridade. Parlamentares que permanecem calados sobre o escândalo das emendas para a Secretaria Especial de Agricultura Familiar (Seaf) para a compra de kits para a agricultura familiar gritam até pelos cotovelos sobre a banalidade sem nenhuma preocupação de prestar contas de seus atos – e dos atos daqueles a quem delegaram ou delegam poder.
Se hoje você pensa em criticar Lula ou Bolsonaro e permanecer calado sobre Mato Grosso, você participa da parcela populacional que tenta reformar o segundo andar enquanto o primeiro está prestes a cair, contaminado e dominado pela escória política.
Ninguém pode alegar que desconhece a sordidez das campanhas extemporâneas nas mídias sociais e o esbanjamento de recursos públicos com o turismo eleitoral, pois tudo isso é exibido recorrentemente, como se fosse algo digno e republicano. Reflitam qual caminho seguir: se o confronto com os oportunistas ou o silêncio cúmplice que desqualifica o silencioso tanto quanto os vídeos dos poderosos os desqualificam.