Educação em tempo integral: Presença que transforma
Por
Eduardo on 13 de setembro de 2025
Alan Porto*
CUIABÁ
Falar de escola em tempo integral é falar de presença. Não apenas de estudantes que passam mais horas na escola, mas de uma rede inteira que decide estar presente na vida deles. Presente para educar, orientar, proteger. Presente antes que o erro aconteça, antes que o abandono ou a violência batam à porta.
É transformar a escola em um espaço de formação integral, que dá sentido às escolhas dos jovens, fortalecendo vínculos e oferecendo oportunidades de aprendizado, cultura, esporte e convivência.
Mato Grosso vem escolhendo esse caminho. Hoje, 96 das 628 escolas estaduais já funcionam em tempo integral. Não se trata de uma simples adequação da rotina, mas de uma mudança na concepção do que é e do que pode ser a presença da escola na vida dos estudantes.
Trata-se de uma política pública articulada sobre quatro pilares estruturantes: a prevenção da violência e o fortalecimento da segurança pública, a qualificação da formação acadêmica, o suporte concreto às famílias trabalhadoras e o cuidado com a saúde emocional dos jovens. Juntos, esses eixos sustentam uma das políticas educacionais mais estratégicas e transformadoras do nosso tempo.
Os resultados mostram que estamos no rumo certo. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelou que Mato Grosso foi o único estado a registrar aumento contínuo de internação de adolescentes entre 2018 e 2024.
Mato Grosso escolheu agir e está respondendo com a ferramenta mais poderosa que existe: a educação. Mais do que isso, a escola em tempo integral. O enfrentamento da criminalidade juvenil não se resolve com repressão tardia, mas com presença antecipada. Onde a escola chega, o crime recua. Onde ela se firma, o jovem permanece. Onde há propósito, não há aliciamento. Agimos para prevenir.
Posso garantir: o tempo a mais na escola é tempo com propósito. Projetos de vida, oficinas, esportes, ciência e mediação pedagógica tornam o contraturno produtivo e transformador.
A ampliação da jornada permite à escola desenvolver estratégias que aprofundam o ensino, respeitando o ritmo e as especificidades de cada estudante. Acompanha dificuldades e fortalece a aprendizagem. Onde há tempo, há construção. Onde há vínculo, há permanência. Onde há escola em tempo integral, há justiça social feita com caderno, lápis, livros e oportunidade.
As famílias também sentem essa mudança. Para quem sai cedo para trabalhar, saber que o filho está em ambiente seguro, com alimentação, rotina e cuidado, é um alívio. É a certeza de que, enquanto trabalham para prover o presente, seus filhos estão sendo preparados para construir o futuro.
Essa política também ampara as mulheres, que historicamente carregam a responsabilidade pelos filhos e pela casa. O Estado permite que essas mães trabalhem com mais tranquilidade, busquem autonomia econômica e rompam ciclos de dependência social que limitam sua liberdade e desenvolvimento.
Na escola de tempo integral há ainda um ganho silencioso e poderoso: o cuidado com a saúde emocional. Vivemos tempos em que ansiedade e depressão entre jovens crescem de forma preocupante.
A escola ajuda a reduzir esse sofrimento, criando pertencimento, oferecendo escuta, incentivando o esporte e fortalecendo a autoestima. Onde o jovem se sente visto, o silêncio vira conversa, e a dor deixa de ser invisível.
Neste Setembro Amarelo, é preciso lembrar que o cuidado também é política pública. A escola em tempo integral salva vidas porque chega quando muitos se afastam, permanece quando quase tudo desaba e oferece ao jovem algo raro: a certeza de que ele importa.
Mato Grosso fez sua escolha: estar presente, construir presença, sustentar futuro. Essa política não é passageira, é projeto contínuo. E cada jovem que permanece na escola é sinal de que não estamos apenas educando. Estamos construindo com eles, por eles e com todos os que acreditam na força da escola pública.
*Alan Porto é Secretário de Estado de Educação de Mato Grosso