Dança de lobos em busca de carne podre. Essa frase bem define a disputa por uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), muito embora se faça necessário reconhecer que há exceções e nem todos os que querem a cadeira que um dia foi ocupada pelo conselheiro Humberto Bosaipo, uivam.
Ao longo do tempo Mato Grosso acompanhou silencioso e distante o preenchimento de vagas no TCE. Voz corrente sustenta longe de depoimento judicial ou declaração a jornalista, que sempre houve anomalia na indicação de conselheiro. Tímida e irresponsavelmente alguns jornais publicavam notas metafóricas sobre compra de vaga no TCE, “Num distante reino, a douta corte de contas subiu o preço da vaga de conselheiro de US$ 2,5 milhões para US$ 5 milhões” – não passava disso.
Agora, com o destravamento judicial para a escolha do substituto de Bosaipo, começou uma guerra com sangue na canela pela cadeira que um dia foi ocupada por aquele conselheiro. Bosaipo é um colecionador de ações judiciais por suposta improbidade administrativa quando deputado estadual. Titular do TCE, afastado judicialmente, Bosaipo optou pela cômoda aposentadoria precoce, para que seus processos baixassem à primeira instância e, assim, ele ganhasse fôlego durante a tramitação.
Briga-se pelo preenchimento de uma vaga que assim se encaixa naquilo que defini como sendo carne podre.
Quem quer a vaga?
Muitos a querem. Notadamente os deputado estaduais Guilherme Maluf (PSDB) e Sebastião Rezende (PSC). Salvo melhor juízo nenhum deles tem o quesito da ilibada conduta moral para a indicação. Na quinta-feira, 14, o Tribunal de Justiça acatou denúncia oferecida pelo Ministério Público contra Maluf; o MP também pediu seu afastamento do cargo, mas o deputado se salvou com o chamado voto de minerva, do desembargador que preside o TJ, Carlos Alberto Alves da Rocha. Maluf é citado enquanto participante de um esquema que teria desviado R$ 56 milhões da Secretaria de Educação do Estado, no governo Pedro Taques; e dentre outros crimes, o de embaraçar as investigações sobre aquela gatunagem, que resultou na prisão do então secretário de Educação Permínio Pinto.
Rezende, segundo o ex-governador Silval Barbosa em delação premiada ao Ministério Público Federal homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, recebeu mensalinho em seu governo. Essa delação foi decisiva para que Silval, mesmo condenado passasse a gozar de benefícios – hoje Silval cumpre pena em quase total liberdade na sua cidade, Matupá.
Bons nomes querem a vaga. São figuras do MP, do Judiciário e sem vínculos com instituições. A Assembleia deveria se debruçar sobre essas figuras. O prazo para oficialização dos concorrentes é curto e termina na próxima terça-feira. Nesse período a população deveria pressionar deputados e o TCE, com manifestos, pela moralização daquela corte auxiliar de contas da Assembleia.
Tomara que o Brasil alcance a cidadania plena. Que em breve não tenhamos mais TCE e outros entulhos de poder. Quando isso acontecer, o TCE será reduzido a uma câmara setorial da Assembleia, formada por servidores concursados, e com boa formação técnica, para auxiliarem os deputados na aprovação política das contas dos jurisdicionados estaduais, e ao MP, que tem a prerrogativa de investigação criminal sobre a aplicação do dinheiro público.
Lamentável que a Imprensa ao invés de sintetizar o noticiário de modo a facilitar seu entendimento, participe – há exceções – de uma manobra jornalística para confundir o leitor com um grande volume de citações que só interessa aos lobos e a carne podre. Essa carne pobre funciona com uma cadeira em disputa, com cinco cadeiras com os titulares afastados judicialmente (Valter Albano, Waldir Teis, José Carlos Novelli, Antônio Joaquim e Sérgio Ricardo) e um único titular, o presidente Campos Neto, que é citado enquanto mensaleiro do ex-presidente da Assembleia, José Riva.
Está na hora do cidadão de Mato Grosso sair da superficialidade e assumir sua verdadeira cidadania. Chega de silêncio cúmplice. Basta de se deixar guiar pelas distorções jornalísticas. É hora de cobrar posicionamento aos deputados. O Brasil precisa realmente entrar no tempo da moralidade. Chega de lobos e de carne podre.
Eduardo Gomes é editor de blogdoeduardogomes
FOTO: José Medeiros em arquivo blogdoeduardogomes