Dois dedos de prosa com Rondonópolis sobre amnésia

Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com

 

Não é preciso ir a Rondonópolis para revê-la. Rondonópolis vem até nós, não importa onde estejamos. Foi assim, que estive na abençoada e ensolarada terra do rio Poguba, representada pelo Laurinho. No nosso encontro recebi uma informação, citada aleatoriamente, mas sem nenhum tipo de mágoa ou cobrança. Laurinho é o engenheiro civil e professor universitário aposentado Lauro Mendes Filho, de família rondonopolitana raiz e que herdou o nome do pai, que foi vice-prefeito e prefeito da nossa cidade.

Em Rondonópolis não há uma rua sequer com o nome de Lauro Mendes. Laurinho disse com naturalidade, que o município não reverencia a memória de seu pai, que participou da comissão pela emancipação do então distrito de Poxoréu e que foi eleito vice-prefeito (o segundo do município) para um mandato de quatro anos entre 1959 e 1962, e que o engenheiro civil  Luthero Lopes, que era o prefeito, renunciou – e ele o substituiu.

Não falarei sobre a crise política que levou Luthero Lopes à renunciar, nem a decisão de Lauro Mendes, que também renunciou. O cenário político à época era de extremo radicalismo político nos municípios, sobretudo nas pequenas cidades. Mais dias menos dias os historiadores e memorialistas abordaram a questão.

Quero apenas registrar a ausência do nome de Lauro Mendes entre as ruas e outros logradouros públicos rondonopolitanos.

Rondonópolis não deve continuar sepultando a memória de seus vultos, como faz com Lauro Mendes e tantos outros, a exemplo do garimpeiro mineiro que era radicado em Poxoréu, Jacinto Silva, que abriu a estrada ligando aquela cidade a Rondonópolis, num trajeto de 86 km aberto no braço, na mata e no cerrado, sem emprego de máquinas, e com recursos do próprio Jacinto.

Que a Câmara Municipal, o prefeito Cláudio Ferreira e o vice-prefeito Altemar Lopes não permitam a volatilização da memória dos rondonopolitanos que deram o sopro de vida fazendo surgir a metrópole emergente que ganhou forma na prancheta do major Otávio Pitaluga.

Com o reconhecimento e o respeito devido ao cultivo da soja, a introdução de sua lavoura à economia regional – onde é o carro-chefe – não é marco temporal para a valorização ou não do ser humano de alma rondonopolitana. Recentemente, num gesto intempestivo, o prefeito Cláudio Ferreira propôs e a Câmara submissa referendou o nome do Patriarca da Independência José Bonifácio de Andrada e Silva para o terminal rodoviário urbano em construção, quando o mesmo poderia (e deveria) reverenciar a memória de um dos dois pioneiros do transporte de passageiros urbanos, Aurino Feltrin ou Rozendo Ferreira de Souza – o último avô do prefeito.

Legislar e administrar também é ato de exercer a sensibilidade humana. Que os vereadores neorrondonopolitanos, ou nascidos na cidade e antigos moradores eleitos para a Câmara ; que o vice-prefeito Altemar; e o rondonopolitano de berço Cláudio Ferreira, não contribuam para que a amnésia em si ou de conveniência atente contra o povo que está acima das jogadas políticas e do direcionamento do poder para interesses nada republicanos.

Viva a memória da Rondonópolis do ontem, onde tudo começou!

Comentários (1)
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  • Suziene Cavalcante

    Louvável e mui necessário este rico artigo que resgata a ilustre memória do senhor Lauro Mendes 👏.
    Que este Manifesto Histórico ressoe e reverbere na Câmara Legislativa de Rondonópolis.
    Meus parabéns, Eduardo Gomes!