Da Espanha, Dr. Eugênio atende Mauro Mendes e trava reajuste do TJ
Em Barcelona, na Espanha, visitando uma feira sobre cidades inteligentes, o deputado Dr. Eugênio (PSB) deu a tacada que o governador Mauro Mendes (União) queria, para barrar – ainda que temporariamente – a concessão de um aumento de 6,8% para servidores do Judiciário. Participando remotamente da reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) da Assembleia, o Dr. Eugênio pediu vistas ao projeto sobre o aumento. O pedido travou a tramitação, pois para ser levado ao plenário da Assembleia ele teria que receber parecer favorável da CCJ. A trava deixou os parlamentares entre a cruz e a espada, porque mais dia menos dia terão que decidir se atenderão ao Tribunal de Justiça (TJ) autor do projeto ou a Mauro Mendes, que não o aceita.
Pode soar estranho ao leitor, mas Mauro Mendes não quer a aprovação do projeto. Porém, esse posicionamento é descartado pela mídia, ou quando muito tocado superficialmente. O episódio expõe as entranhas dos três poderes, ainda que esse fato não chegue à tela de seu computador ou celular.
Nesta quarta-feira (5), quando do pedido de vistas, a sala de reuniões da CCJ estava repleta de servidores do TJ, reforçados com as presenças dos desembargadores José Zuquim (presidente do TJ), Orlando Perri e Carlos Alberto Rocha (ambos ex-presidentes do TJ). Após o pedido de vistas os servidores do TJ anunciaram que nesta quarta-feira cruzarão os braços como protesto e acrescentaram que se o impasse for mantido poderão deflagar uma greve geral por tempo indeterminado. No anúncio da paralisação o presidente do sindicato dos servidores, Rosenwal Rodrigues dos Santos, chamou Mauro Mendes de “Brucutu”.
Prtojeto de Zuquim bate na trave na CCJ
Em miúdos e objetivamente: o TJ quer conceder o aumento, que chegou a ser chamado de penduricalho. Mauro Mendes não aceita a ideia temendo comprometimento orçamentário (para o duodécimo bancar o inchaço da folha do TJ). Isso deixou deputados de saia justa, pois de um lado está o governante que manobra a Assembleia em todos os sentidos possíveis, e de outro, o Judiciário. Parlamentares precisam do primeiro e temem o outro.
Que os parlamentares precisam de Mauro Mendes (como as legislaturas anteriores precisaram de outros governadores) é de domínio público, porque a linha que separa os dois poderes políticos é tão tênue que fica até difícil saber de que lado o indivíduo está.
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O temor é plenamente justificado. Vários deputados respondem a ações ou estão sob crivo de investigações em curso ou que hibernam. Contrariar o TJ pode ser um tiro no pé.
Habilidosos, os parlamentares apelam para o banho-maria acompanhando a orientação de Mauro Mendes. O pedido de vistas apelidado de Vista Olé nos corredores da Assembleia (em alusão às touradas espanholas) empurra o projeto por mais uma ou até mesmo duas semanas. No passo seguinte ele irá ao plenário, onde (quase) tudo pode acontecer. Com boa dose de jogo de cintura os deputados vão encerrar o ano fiscal sem a chancela sobre o aumento, que ficará para 2026. Assim, afagam o governador e não irritam o TJ.
Nos corredores da Assembleia grupos de jornalistas tratam o caso com irreverência sem nenhuma pitada de senso profissional. Eles aprenderam nas redações que o melhor texto em situações assim é o silêncio. Porém, conversando em off eles dizem que se o projeto for barrado a maioria dos gabinetes dos deputados será alvo de mandados de busca e apreensão, celulares serão apreendidos e não se descarta inclusive decretação de prisões, por conta do escândalo das emendas para a compra de kits de ferramentas agrícolas pela Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf); esse escândalo foi revelado pelo portal UOL em 16 de junho e permanece abafado.
Por enquanto a Assembleia faz o jogo de Mauro Mendes
O UOL revelou detalhes de supostas compras superfaturadas de itens dos kits e destacou que Mauro Mendes exonerou o secretário da Seaf, Luluca Ribeiro, e seus assessores diretos, por conta desse fato. Luluca e sua equipe foram nomeados a pedido da deputada Janaína Riva (MDB), para a qual trabalhava em seu gabinete, e após a demissão voltou ao cargo. Ou seja: a apuração dos detalhes das emendas para a Seaf poderia atingir Luluca e deputados autores das emendas.
DETALHES – O caso das emendas saiu dos corredores do Palácio Paiaguás para a Polícia Civil, que iniciou investigações sobre ele, após o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos), no exercício do cargo, ter recebido informações funcionais, o que resultou em sua determinação à Controladoria Geral do Estado para apurá-lo.
O episódio das emendas sequer é citado na Assembleia, que o desqualificou, o governo estadual também não o aborda e o Ministério Público aparentemente não o tem em pauta.
SÍNTESE – Caso a Assembleia vote com urgência o aumento pedido pelo TJ não haverá animosidade entre aqueles poderes, avaliam os jornalistas silenciosos. Porém, se a determinação de Mauro Mendes prevalecer, o caldo pode entornar, insistem os jornalistas. Em meio ao bate-papo entre os repórteres, os poderes seguem cumprindo seus papéis e a informação chega ao leitor no formato que não desagrada gregos nem troianos – e quem foge ao padrão da comunicação cuiabana corre o risco de arcar com as consequências.
RODAPÉ – Não é necessário, mas para que não fique dúvida, Mauro Mendes quer empurrar o aumento para 2026, pois no começo do ano ele deixa o Palácio Paiaguás em busca de um mandato de senador – e seja o que Deus quiser com seu substituto Otaviano Pivetta.