Delatados por Alan Malouf não podem se calar

Pedro no centro de um furacão

Delação premiada não permite mentira, leviandade ou escamoteamento da verdade. Tem que ser exata, fiel aos fatos, sob  pena de prejudicar o delator. A delação do empresário Alan Malouf ao Ministério Público Federal (MPF), com a devida homologação no Supremo Tribunal Federal em 19 de abril e mantida sob segredo de Justiça por exatos seis meses, é avassaladora. Atinge em cheio o governador Pedro Taques, outras autoridades e parte da mídia eletrônica cuiabana. Mesmo tendo-se em conta que se trata de uma confissão acordada, que interessa tanto a Malouf quanto ao MPF, é preciso que os delatados se pronunciem com clareza, rapidez e detalhamento, porque o teor do que foi dito, se confirmado, seria uma repugnante página da história mato-grossense.

Malouf delata crimes de Caixa 2 na campanha de Pedro ao governo em 2014.

Delata que houve Caixa 2 a prazo.

Delata que o Caixa 2 a prazo seria quitado com corrupção no governo Pedro, por meio de superfaturamento de obras, pagamento de propina (o caso do escândalo do suposto rombo de R$ 56 milhões na Secretaria de Educação/Seduc, que resultou na prisão do secretário Permínio Pinto – que virou réu confesso e delator).

Delata o envolvimento dos ex-secretários Júlio Modesto, Paulo Brustolin, Paulo Taques, Permínio Pinto, Fábio Galindo e outras figuras do governo.

Delatado e delator, nos bons tempos

Delata pagamento feito por Pedro, “por fora”, ao sites Folhamax, Midianews. RDNews, Repórter MT para deturpação, desqualificação ou omissão de matérias para beneficiar Pedro.

Delata pagamentos em Caixa 2 a institutos de pesquisa.

Delata o envolvimento de renomados empresários com esse esquema, a exemplo de Marcelo Malouf, Juliano Bortoloto, Fernando Minosso e Erivelton Gasques.

Repetir o que disse Malouf seria redundante. Boa parte da mídia se encarrega dos detalhes, claro, que em quase sua totalidade omitindo a citação aos quatro sites.

Até o momento, somente Pedro se manifestou por meio desta lacônica nota: ”

“Conforme já declarado desde 2016, o governador Pedro Taques nega a prática do chamado “Caixa 2” em sua campanha eleitoral ao Governo de Mato Grosso em 2014 e tampouco autorizou vantagens indevidas a qualquer empresa durante o exercício do mandato. Apesar de citado por delator em acordo de delação premiada, Taques não é réu no processo da chamada “operação Rêmora” e terá direito a ampla defesa nos autos. O governador já constituiu advogados para atuar no processo e garantir que a verdade prevaleça.”

Permínio com Pedro na Seduc, onde, segundo investigações, o rombo foi de R$ 56 milhões

A resposta de Pedro é quase um silêncio, diante da gravidade do fato. O correto seria a convocação da Imprensa para uma coletiva, onde os repórteres pudessem questioná-lo. Idêntico procedimento deveriam adotar os ex-secretários, os empresários e donos de institutos de pesquisa delatados.

Sobre os sites o caso ganha contornos de extrema gravidade. Não se pode lançar sobre os mesmos a pecha que lhes impôs Malouf. A presunção da inocência é regra jurídica, mas, todos deveriam se manifestar com clareza, objetividade e rapidez. Seria doloroso para Mato Grosso que alguns de seus principais sites estivessem atolados num escândalo dessa proporção. Não é crime receber pagamento de Poder ou órgão público, desde que feito legalmente com emissão de nota fiscal autorizada por PI de agência devidamente credenciada; também não se configura ilícito faturamento em campanha eleitoral, desde que observadas as regras para tanto. Porém, o chamado ‘por fora’ é inadmissível

Que todos os delatados esclareçam a parte que lhe toca.  Malouf é cidadão condenado, firmou acordo para devolver R$ 5,5 milhões aos cofres públicos e sabe de sua responsabilidade sobre o que disse na delação. Se mentiu, terá que responder por isso, mas, se disse verdade, realmente estamos no fundo do poço.

blogdoeduardogomes sempre faz duras cobranças aos políticos que são acusados ou se encontram metidos em atos ilegais. Em 30 de agosto, o editorial “Renúncia é a única saída pra Pedro Taques” levava em conta alguns fatos gravíssimos, inclusive essa delação de Malouf que ora vem à tona. Para ler o referido editorial acessem no ícone Procura, no canto superior direito da capa do site.

O site reitera que o melhor caminho para Pedro seria a renúncia, como pediu seu editorial, mas desde que a mesma não seja o último capítulo desse triste e deplorável episódio. Que todos os delatados se manifestem.

 

Eduardo Gomes de Andrade é editor de blogdoeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

FOTOS:

1 – Flickr da campanha de Pedro ao governo

Arquivo Gabinete de Comunicação do Governo de Mato Grosso