O Chapadão dos Parecis, habitado por Paresí, Nambiquara, Irantxe, Rikbaktsa, Arara, Cinta Larga e outros povos é repleto de histórias de desbravamento, coragem, persistência, e, também, de muitos causos que vão das luzes hipnóticas até a mulher de branco.
Esta narrativa é real e mostra a sabedoria de um líder indígena que soube atravessar décadas e bem orientar seu povo: seu nome – João Garimpeiro, sempre acompanhado de uma temida borduna, vestido com um colete de couro de onça, e com um colar de dentes de animais, inclusive da própria onça cuja pele fez o colete.
Ouvia muito, falava pouco, e em todas as vezes que se pronunciava, todos os demais parentes faziam um silêncio total, olhando para Ele com respeito e admiração.
A população de Campo Novo do Parecis e de Sapezal tinha uma reivindicação antiga, que era o asfaltamento da estrada que pudesse unir as duas sedes de município em linha reta, porém com o dilema de cruzarem as terras indígenas.
Constitui-se uma comissão com todas as lideranças regionais, inclusive indígenas, e o Governo apresentou um projeto detalhado sobre o traçado e os benefícios da obra que resultaria num pedágio, cobrado em dois locais, cujos valores seriam divididos entre as diversas aldeias da área.
Tinha-se que superar as exigências da legislação com o licenciamento nas diversas autarquias e obter o de acordo ou concordo, do Ministério Público. Etapas superadas, a grande maioria a favor da implantação e chegou o dia da audiência pública para se definir a questão. Juntou muita gente, momento histórico, muitos se apresentando para o debate e várias autoridades fazendo uso da palavra.
Ao lado da grande tenda montada para o evento, a carne assava para alimentar os presentes. As horas foram passando com exaustivas explanações, até que já sem paciência João Garimpeiro se levantou, brandiu a borduna, e a plateia com 60% de indígenas imediatamente silenciou, e, então falou: muita conversa, índios querem estrada, brancos querem estrada, então está resolvido vai ter estrada, e olhando para o procurador de Justiça, continuou, vamos assinar o papel, porque os índios aprenderam que a força do lápis é maior que a força da borduna.
E, assim, se procedeu. Em 120 dias a estrada ficou pronta e pavimentada, depois de muitos anos de idas e vindas, e trouxe a todos uma melhor qualidade de vida.
Luiz Antônio Pagot, economista, consultor e empresário foi secretário de Estado em Mato Grosso e presidiu o Dnit