Com meias palavras sem mencionar Megaron, Raoni denuncia desmatamento

Eduardo Gomes 

@andradeeduardogomes

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Em clima festivo o presidente Lula condecorou o cacique Raoni Metuktire com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito. A solenidade aconteceu na sexta-feira (4), na aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, município de São José do Xingu. No ato, diante dos holofotes do mundo, o condecorado líder caiapó criticou a possibilidade de exploração de petróleo na costa do Amapá e o desmatamento. O comendador Raoni não deu nome aos bois sobre a derrubada da floresta, dentre os quais seu sobrinho e cacique Megaron Txucarramãe ocupa lugar de destaque.

A solenidade foi boa para Lula e Raoni. O presidente em queda de popularidade recorreu ao seu velho aliado caiapó, ao qual assegurou que os indígenas podem reivindicar tantas e quantas áreas quiserem. Raoni fez um pronunciamento em defesa do meio ambiente, criticando a eventual exploração de petróleo na costa do Amapá e o desmatamento.


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Raoni fez critica seletiva sobre o desmatamento, mas não tocou no nome do parente famoso. Sobre a derrubada da floresta o líder caiapó tem razão. Nos meios madeireiros há uma frase de domínio público que diz: Homem vira madeireiro, mas madeireiro não vira homem. Porém, quanto ao corte raso Megaron é réu confesso e impune. Em 2015, no livro Dois dedos de prosa em silêncio para rir, refletir e arguir, que publiquei sem apoio das leis de incentivos culturais dediquei um capítulo ao caso Megaron. Leiam o texto abaixo:

O livro

Considerado uma das maiores lideranças indígenas brasileiras, Megaron Txucarramãe, cacique em Capoto/Jarina e sobrinho do cacique Raoni é uma dualidade.

O Megaron que enfrenta o governo e empresários para defender seu povo e o rio Xingu é figura pública das mais conhecidas. Transita na cúpula da Funai, conta com as bênçãos de poderosas ONGs internacionais e tem cadeira cativa nas manchetes dos principais jornais brasileiros.

O outro Megaron, que bota em risco o meio ambiente, não é conhecido do povo brasileiro nem no exterior. Esse viajou ao Canadá para oferecer mogno – espécie protegida por lei – a uma empresa daquele país. Isso consta de seu depoimento prestado em maio de 2005 à CPI da Biopirataria na Câmara dos Deputados. Megaron disse que agiu com autorização do Ministério de Meio Ambiente e do Ibama.

O depoimento de Megaron não convenceu o deputado Hamilton Casara (PL/RO), no tocante ao suposto sinal verde que ele teria do ministério e do Ibama. Casara presidiu a sessão que o ouviu e tentou encontrar a ponta da meada de uma nebulosa venda para canadenses de 66 mil m³ de mogno retirado de terras indígenas.

Réu confesso, Megaron não foi condenado. A Funai e o Ibama fingiram que não tomaram conhecimento de seu depoimento. O Ministério Público Federal imitando vampiro quando vê claridade, não mostrou sua face.

Capoto/Jarina é uma área de 634.915,22 hectares no Nortão e no Vale do Araguaia. É vizinha ao Parque Indígena do Xingu. Banhado pelo rio Xingu, é habitada por 1.388 indivíduos caiapós e tapaiúnas.

Megaron foi supervisor da Funai no Parque Indígena do Xingu, de 1984 a 1994, e foi diretor da Funai em Colíder, no período de 1995 a 28 de outubro de 2011, quando uma portaria do presidente da Funai, Mário Meira, o exonerou sem apresentar justificativa.

Desde a exoneração a relação de Megaron com a Funai é tão misteriosa quanto a floresta em Capoto/Jarina e nenhuma das partes fala sobre vínculos empregatícios ou função.

Fotos:

1 – Ricardo Stuckert/PR

2 – Youtube – ISA