Chute no peito do diretor (**)

Foi pelas mãos do presidente da Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange, que Agripino Bonilha Filho chegou à presidência da FMD, que comandou de outubro de 1969 até início de 1975, quando foi para o Rio de Janeiro participar de um curso da Escola Superior de Guerra, passando o cargo para o 3° vice-presidente, Levi Prado. Quando voltou do Rio, no fim do ano, Bonilha Filho preferiu não reassumir o cargo.

 

Cansado de tocar a falida FMD, poucos dias antes da eleição em 1969 o presidente da entidade, advogado Hermann Pimenta, ligou para Havelange e pediu para ele ajudar a eleger o seu candidato preferido. Imagine se o poderoso presidente da CBD ia deixar de apoiar seu afilhado de batismo e crisma Bonilha Filho. No dia da eleição, deu Bonilha fácil na cabeça…

O autor

Com a FMD de cofres zerados e ainda por cima endividada até o pescoço, Bonilha começou a pensar no campeonato estadual do ano seguinte. O presidente pretendia dar uma nova dimensão ao futebol de Mato Grosso. No entanto, para alcançar seu objetivo era preciso arrumar dinheiro para investir nos clubes que tradicionalmente participavam do certame.

Depois de matutar muito, Bonilha decidiu convidar para ocupar a vice-presidência da FMD o bancário Amauri Gonzaga, que era gerente do Banco Mercantil de São Paulo em Cuiabá. Aceito o convite, Gonzaga passou a ocupar também o cargo de diretor do Departamento Técnico da FMD e que tinha a responsabilidade de comandar o futebol.

Por que um bancário no comando do futebol da FMD? Porque Gonzaga podia arranjar dinheiro para o futebol. É que naqueles tempos nada modernos, o que rolava nas operações bancárias eram os famosos “papagaios” ou notas promissórias. E como Gonzaga recebia diariamente empresários de todos os segmentos para tratar de operações financeiras, podia tentar conseguir algum dinheiro para investir no futebol…

O plano de Bonilha estava dando certo até a primeira reunião do Departamento Técnico com os clubes filiados à FMD para se tratar da organização do campeonato de 1970. Lá pelas tantas, não se sabe por que, o radia¬lista Ivo de Almeida, que transmitia ao vivo a reunião, desentendeu-se com Gonzaga, subiu em cima da mesa e saiu chutando tudo que encontrava pela frente – pastas de dirigentes, cinzeiros, troféus. O último pontapé foi no peito de Amauri Gonzaga.

No dia seguinte, nem bem amanheceu, Bonilha recebeu a visita do vice-presidente, que foi logo desembuchando: “Vim lhe entregar meu cargo…” – disse Gonzaga, que bateu em retirada em seguida e nunca mais pisou na Federação… (Continua **…)

 

Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino