Quando duas pessoas divergem sobre o mesmo tema, ou se chega a um consenso ou se descamba para o embate. E caso a primeira hipótese não seja acatada por nenhuma das partes, o resultado pode ser um conflito de ideias.
E pelo andar da carroça, tudo indica que os senadores eleitos Jayme Campos (DEM) e Selma Arruda (PSL) podem caminhar para um embate no Senado, quando o assunto for o agronegócio, ou melhor, a taxação ou a desoneração tributária do setor.
Jayme, um dos caciques da política mato-grossense, eleito para seu segundo mandato alternado de senador, com pouco mais de 490 mil votos, defende o fim de certos benefícios fiscais, como a isenção de impostos para a exportação das commodities, garantido pela Lei Kandir. Selma quer mantê-los, por entender que o setor é massacrado pela já ‘enorme’ carga fiscal.
Selma, que defendeu durante a campanha o combate à criminalidade e à corrupção, conduta normal para quem foi juíza por 22 anos e mandou para a cadeia políticos importantes de Mato Grosso, colocou um pé no agronegócio, setor, no qual, diz sentir-se à vontade. Nascida no Rio Grande do Sul, Selma é filha de produtor rural que cultivou café em São Pedro do Ivaí e Borrazópolis, no Paraná – essa última, cidade que, coincidentemente, é a mesma do ex-governador Silva Barbosa, preso e condenado por ela sob acusação de corrupção e outros crimes.
“O agronegócio é um tema que eu tentei tratar desde o princípio da minha pré-campanha com os representantes do agronegócio”, lembrou durante visita a Campo Verde nesta sexta-feira (26). “Não tive acesso ao agro na ocasião. Agora, depois de eleita, o agro está me procurando para que nós possamos tratar desses assuntos”, completou. Afirmando ter ideais pré-definidas a respeito do tema, Selma expôs algumas das suas opiniões. “Por exemplo, ou sou contra o Fethab 2. Eu acho que é um abuso, é um absurdo”, criticou. “Eu sou a favor da Lei Kandir”, completou.
A contrariedade de Selma ao Fethab 2, por exemplo, destoa da postura do governador eleito Mauro Mendes (DEM), que no último dia 25 pediu ao governador Pedro Taques (PSDB) que prorrogue aquele fundo até 2019 – sua extinção acontece em dezembro deste 2018. Com estimava de arrecadação de R$ 450 milhões. Segundo Mauro Mendes, seu fim, “traria consequências gravíssima para o equilíbrio fiscal do próximo ano”.
Em relação à postura de Jayme Campos, Selma contemporiza e acredita na conjunção das ideias. “Pior que a gente senta um ao lado do outro (no Senado Federal) mas acho que não vamos chegar às vias de fato”, disse em meio a risadas. “O que quero dizer com relação a isso (é que) eu não sou a favor de revogar a Lei Kandir, porque acho que todo cidadão brasileiro já superou todos os níveis aceitáveis de tributação, de taxação. Não tem mais o que taxar”, destacou. Para ela, é preciso aviar uma receita que seja o contrário do que tem sido feito até agora. Uma das soluções apontadas é a diminuição do Estado, a redução de ministérios, de secretarias, do chamado ‘cabide de emprego’ e da sangria dos cofres públicos por meio de esquemas de corrupção. “A medida que o Estado cresce e vai tomando para si responsabilidades que não deveriam ser do Estado, ele fica cada vez mais oneroso e você tem que pagar imposto. O Estado não está dando conta, vamos criar mais um imposto”, enfatizou.
Para a senadora, eleita com mais de 678 mil votos, não é assim que deve funcionar. É o contrário. “Eu defendo a Lei Kandir. Isso está dando incentivos para essa produção. O Brasil é um país que depende da agricultura. A agricultura sustentou esse país no meio da crise. A gente precisa ter essa visão e não desmerecer o setor que, na verdade, está conduzindo o nosso País”, observou.
Selma é a favo,r também, da desoneração tributária de outros setores da economia. “O que se tem que fazer é desonerar também o comércio, a indústria, porque aí você tem uma coisa igualitária, não se tem uns contra os outros. Agora, dizer que precisa onerar um segmento é absurdo, é andar para trás”, disse.
Valmir Faria – de Campo Verde – com fotos