Boechat é fonte de inspiração aos jovens jornalistas

Tudo que poderia ser dito sobre Ricardo Boechat, que nos deixou nesta segunda-feira, 11, está na TV, no rádio, jornais e nos sites. Sobre sua dignidade profissional, sua vida e a fatalidade que o levou não há nada a acrescentar. O que se pode escrever ainda sobre uma das referências do jornalismo brasileiro? Acho que somente sobre a inspiração que seu caráter pode transmitir às novas gerações de jornalistas nesta terra mato-grossense de tão pouca crítica e de tanto governismo gutembuergueano.

Sim, as meninas e os rapazes que ensaiam os primeiros passos nas redações devem buscar inspiração em Boechat, o jornalista sem atrelamento político, sem paixão ideológica, que era capaz de criticar com isenção e elogiar sem bajulação, predicado esse que lhe conferia credibilidade nacional. Isso, porque ele agia com o grande sentimento que deve nortear o jornalismo: a sinceridade.

É preciso ser sincero. O texto não pode ser cúmplice, nem amigo ou inimigo; tem que se pautar pela sinceridade – aquela que bota o dedo na ferida quando se faz necessário.

A sinceridade não é possível quando se presta ao subserviente papel de blindar figuras públicas contratantes de textos – não confundir com mídia institucional. Mais: a blindagem ganha forma mais nociva ainda, quando o repórter se oferece bajulativamente plantando mimos aos poderosos, em busca de espaço em suas assessorias.

Boechat é exemplo a ser seguido pelos jovens. Não digo aos antigos jornalistas que tentem se espelhar nele. Os calos da profissão costumam moldar o perfil do cidadão que atua na área. Não seria fácil mudar o hábito de quem atravessa décadas com o mesmo discurso insonso, bajulativo – ou como se diz: chapa branca.

Que a renovação natural da Imprensa mato-grossense busque os exemplos de Boechat, pois a evolução é imprescindível em todas as atividades e, de modo mais abrangente, na conduta humana. Precisamos da humanização da nossa Coimunicação. Humanização no sentido de se trabalhar com dignidade, altivez, independência e tendo por objetivo bem informar ao leitor.

É tempo de se tentar o reencontro com a manchete exclusiva, com a informação detalhada, rica. Também é tempo se de abrir mão da prática do jornalismo socializado entre colegas, que publicam o mesmo texto, como se a atividade ao invés de ser jornalística fosse de fotocopiadores.

Claro que os novos devem se inspirar em Boechat. Os demais precisam estender a mão à palmatória, com as devidas exceções, pois sempre há jornalista nadando contra a correnteza – que é o melhor exemplo figurado das dificuldades enfrentadas na Terra do Patrono das Comunicações por quem diz verdade sobre o mar de lama que se espalha pelos poderes.

Homem acostumado ao trabalho e que gostava de se manter em atividade, Boechat mesmo depois de seu adeus ainda poderá ser útil ao jornalismo, especialmente o de Mato Grosso, sendo fonte de inspiração aos jovens – nossa única chance de mudança conceitual na forma de se fazer jornalismo.

Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes

FOTO: Portal TV Cariri

 

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