No feriado nacional de 21 de abril, Peixoto de Azevedo recebeu uma triste notícia: o ex-prefeito Francisco de Assis Tenório foi encotrado morto em sua residência, na zona rural daquele município. Assis era pioneiro e pelo PDT se elegeu em 1996 para a prefeitura. Sua morte foi por causas naturais.
Assis foi um dos personagens de um dos meus livros, esse publicado em 2015. Em respeito à sua morte não postei esse capítulo imediatamente após sua morte, mas o faço agora, pra que Mato Grosso tenha mais um canal pra se encontrar com sua memória política.
(Capítulo do livro Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir, publicado em 2015 e escrito pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, com ilustração de Generino e capa de Édson Xavier– sem apoio das leis de incentivos culturais).
Bê-á-bá da intenção de voto
Enquanto no restante do país a média dos votos nulos e brancos girava em torno de 40%, em Peixoto de Azevedo, cidade garimpeira à margem da rodovia Cuiabá-Santarém, na Amazônia Mato-grossense, o patamar não chegava a 3%. Esse fato chamou a atenção da imprensa pelos números apresentados no campo estatístico, pois eles representavam a manifestação política da classe garimpeira, que não prima por ideologia.
O que mais mexeu com jornalistas foi a votação recebida por Francisco de Assis Tenório (PDT), líder político local e candidato a deputado estadual coligado com outros partidos.
Assis Tenório recebeu 7.969 votos batendo Dante de Oliveira (PDT), o candidato mais votado ao governo, que não passou de 6.304 e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o campeão na preferência à Presidência e que cravou 7.454.
Encerrada a votação – à época não existia urna eletrônica – em Peixoto de Azevedo, a imprensa questionou o resultado. Matéria dali, reportagem daqui, o assunto foi parar no Ministério Público Eleitoral e desembocou num pedido de recontagem de votos por parte do procurador da Regional Eleitoral Roberto Cavalcanti Batista.
Apurou-se que os votos nulos e em branco foram computados em quase sua totalidade para Assis Tenório, e em menor escala aos seus correligionários Antônio Joaquim, candidato a deputado federal e Antero Paes de Barros, que concorria ao Senado. Daí o desempenho do líder local nas urnas.
Durante a revisão, os advogados de Assis Tenório tentaram justificar o injustificável. Tanto tentaram que no começo da recontagem um escrutinador quase foi agredido ao anular um voto assinalado com um enorme “X” no espaço destinado ao nome do candidato a deputado estadual.
“Esse voto é válido. Não se atreva a anulá-lo ou vamos sair no braço”, gritou um dos advogados de Assis Tenório ao escrutinador. Para o defensor do candidato, o “X” era a maneira de o eleitor semianalfabeto escrever o nome de seu candidato: (A) X – AX (Tenório).
Foi preciso habilidade por parte do escrutinador para convencer o advogado que o “X” era opção pelo voto nulo e não sufrágio para Assis Tenório.
Concluída a recontagem, a votação de Assis Tenório caiu pela metade. A cadeira de deputado escapou entre um carimbo e outro da Justiça Eleitoral, que considerou voto nulo, nulo; voto em branco, branco; e de voto para Assis Tenório, voto de Assis Tenório.
A recontagem garantiu uma vaga na Assembleia Legislativa para Luiz Soares (PSDB). Antonio Joaquim e Antero se elegeram e independentemente da votação naquela cidade seriam eleitos. Hoje, Antonio Joaquim é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso. Dois anos depois Assis Tenório venceu a eleição para prefeito de Peixoto de Azevedo.
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Redação blogdoeduardogomes
FOTO: peixotononline.com.br
ARTE: Generino no livro Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir