Coronavírus não é nacional nem estadual. Porém, em Mato Grosso, salvo uma exceção aqui ou ali, tanto na Imprensa quanto nas redes sociais ele ganha essa conotação. Ataques violentos ao presidente Jair Bolsonaro por seu infeliz pronunciamento em cadeia na noite da terça-feira, 24, e silêncio sepulcral sobre a fala enganadora do governador Mauro Mendes, na mesma data, sobre suposta ordem que teria dado para a compra de 10 mil testes para a doença.
Fiz o chamado voto útil para presidente em 2018. Cravei Bolsonaro, menos por ele, e mais pra que expurgássemos a camarilha que solapava o Brasil e criava um clima de instabilidade social lançando classe contra classe enquanto em Brasília a nata do empresariado se lambuzava nos generosos créditos do BNDES e outra parte movimentava um dos dentes da engrenagem da corrupção simbolizada por grandes construtoras.
À época, o cancro a ser combatido era o casório surubal do PT com PMDB (agora MDB), PP, PTB, DEM, PCdoB e outras siglas juntamente com os capitães financeiros da Avenida Paulista e o empresariado de gigantescas construtoras.
Para enfrentar essa máfia Bolsonaro era o antídoto, mas não o via enquanto líder de dimensão nacional. Os milhões de votos que recebeu não foram à sua capacidade de liderança, mas ao estilo combatente que o rotulava. Antes da campanha o entrevistei quando de sua visita a Campo Novo do Parecis para um evento de produtores rurais. Na entrevista constatei sua falta de liderança e conduta de chefe de Estado. (Posto diariamente neste site uma foto de minha trajetória profissional numa série numerada chamada Meio século na estrada. Numa das fotos estou ao lado dele). Mesmo com essa avaliação fui à urna e ajudei a elegê-lo.
Desde o surgimento da primeira suspeita de coronavírus no Brasil observo que a postura de Bolsonaro não é aquela que se espera de um presidente. Em alguns episódios o mandatário foi incoerente. A soma de seus tropeções verbais se agravou com a fala em cadeia. Não estamos à véspera de Fla-Flu, para apostarmos num ou outro time. Estamos em meio a uma pandemia e autoridades médicas do mundo inteiro recomendam isolamento para cortar ou minimizar a cadeia de contágio comunitário. Nessa quadra de ansiedade o presidente vai ao rádio e TV tentando desqualificar as medidas preventivas que inclusive são recomendadas por seu governo, por meio do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Permancerei reticente quanto a Bolsonaro, mas não engrossarei a corrente ensandecida mato-grossense que o ataca, inclusive moralmente. Na condição de brasileiro sou um a mais na lista dos desrespeitados pelo presidente. Seria repetitivo citar o que foi dito por ele. De igual modo, continuarei denunciando Mauro Mendes por sua omissão na luta contra o coronavírus, e mais recentemente por seu falso anúncio sobre a compra de 10 mil testes. O governador disse à TV Centro América que determinou a aquisição de tais insumos, transmitindo ao telespectador a sensação de que o secretário de Saúde, Gilberto Figueiredo, iria à esquina e voltaria com as caixas dos testes. Não é assim! Primeiro, o governo não tem caixa para comprá-los, depois trata-se de importação – que mesmo em período de calamidade pública é operação complexa – e finalmente, mesmo que a transação aconteça a entrega será demorada, o que não funciona como resposta para a situação de emergência em que nos encontramos.
Continuarei acompanhando o destempero virtual mato-grossense contra Bolsonaro, atitude, que, para mim, na maioria das postagens, é hipócrita na medida em que os valentões contra o presidente distante não cobram de Mauro Mendes a falta de postura que tanto alegam faltar ao chefe de Estado.
Vejo com pesar a insensatez verbal de Bolsonaro. De igual modo observo a incapacidade e a falta de vontade de Mauro Mendes em criar mecanismos preventivos contra a doença e de amparo às camadas populacionais mais vulneráveis socialmente. Temos 40 mil famílias na ou abaixo da linha da pobreza, ou seja, 240 mil crianças, adultos e idosos nessa situação, que serão duramente afetados com a crise humanitária que inevitavelmente surgirá em decorrência da pandemia. No mesmo dia em que o presidente sugeriu o fim da quarententa, Gilberto Figueiredo divulgou balanço sobre a doença em Mato Grosso (Link a seguir) e numa clara demonstração de falta de controle da situação, ao relacionar os municípios onde há suspeita de casos, citou um que a sua secretaria sequer sabe o nome – Mato Grosso permanece calado diante dessa aberração.
Sou mais Brasil, mais Mato Grosso, mas nem por isso me sinto obrigado a ser Bolsonaro ou Mauro Mendes. Sou mais pela voz em defesa da população e não comungo o barulho que execra o presidente e o silêncio submisso e conivente que blinda o governador.
Em nome da razoabilidade entendo que tanto Bolsonaro quanto Mauro Mendes devem renunciar. O general Hamilton Mourão saberia lidar melhor com o momento adverso nacional; Otaviano Pivetta, com seus erros e acertos tem capacidade e visão pra governar, o que falta ao titular.
Eduardo Gomes de Andrade
eduardogomes.ega@gmail.com
Secretaria de Saúde desconhece nome de município com suspeita de coronavírus