Pensem numa cidade tão identificada com seu rio Paraguai e a pesca, que a maneira de seu povo agradar a alguém é chamando-o de Meu peixe! Esse lugar é Cáceres, um paraíso no Pantanal, ao lado da Bolívia, onde vivem 91.626 cacerenses natos e adotivos, e onde se promove o maior festival de pesca fluvial embarcada do mundo. Somem a isso cenários de rara beleza natural, a sede da Universidade do Estado (Unemat), a abençoada localização geográfica que a faz porto mais ao Norte da Hidrovia do Mercosul e ponto equidistante do Corredor Bioceânico.
Cáceres tem o pior tratamento de esgoto em Mato Grosso, Isso, eleição após eleição e com o município elegendo deputados estaduais, deputados federais, senador, vice-governador, prefeitos e vereadores. Essa cidade, onde o rio Paraguai passa ficando, completa 246 anos de fundação neste domingo, 6 de outubro de 2024.
No centro, a praça Barão do Rio Branco, com a Matriz, o Marco Jauru e um monumento da Maçonaria
Cáceres foi fundada em 6 de outubro de 1778, por ordem do quarto governador da província de Mato Grosso e capitão-general Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres – daí, seu nome –, à margem esquerda do rio Paraguai, para reforçar a presença da Coroa Portuguesa na área de fronteira com os domínios da Espanha. Ao lado da Catedral Diocesana de São Luís, na Praça Barão do Rio Branco, está o Marco do Jauru, construído em Lisboa e que foi colocado nas barrancas do rio Jauru em 18 de janeiro de 1754, pelo primeiro governador de Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura Tavares, para demarcar a fronteira dos domínios de Portugal e Espanha, extraída do Tratado de Madrid. Em 2 de fevereiro de 1883 esse memorial foi removido para o local onde agora se encontra, pelo então tenente-coronel Antônio Maria Coelho.
O município, com 24.593 km², é um dos maiores em Mato Grosso, e supera a extensão territorial de Sergipe, de 21.910 km². Cáceres tem densidade demográfica de 3,61 habitantes por quilômetro quadrado. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0.708 numa escala de zero a um. A cadeia pecuária é a principal atividade econômica e seu rebanho bovino é de 1.399.931 sendo o maior de Mato Grosso e o quarto do Brasil O turismo tem importante participação na economia. A cidade promove anualmente o Festival Internacional de Pesca Esportiva (FIPe), considerado a maior competição de pesca embarcada em água doce no mundo – esse evento movimenta o setor turístico.
A cidade e seu rio Paraguai
No campo da memória militar, Cáceres reverencia o sargento do Exército Luiz Geraldo da Silva, cujo nome foi dado ao seu estádio municipal e o popularizou enquanto Estádio Geraldão. Luiz Geraldo da Silva morreu nos campos de batalha na Itália, lutando contra o nazismo e o fascismo nas fileiras da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Foi um dos 16 mato-grossenses que derramaram sangue e perderam a vida na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.
O Exército tem um batalhão em Cáceres. É o Comando de Fronteira JAURU/66º, Batalhão de Infantaria Motorizado – “Batalhão General José Miguel Lanza”,
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Cidade plana, Cáceres tem uma das maiores taxas proporcionais de bicicleta por habitante no Brasil. No centro as ruas são estreitas e serpenteiam entre o casario histórico. Nos bairros novos as vias são largas e boa parte da cidade é pavimentada.
Porto mais ao Norte da Hidrovia do Mercosul, com 3.342 quilômetros até Nueva Palmira, no Uruguai, e que também banha a Bolívia, Paraguai e Argentina, Cáceres é perfeitamente identificada com a navegação fluvial, que em seus primórdios foi seu único meio de acesso. Pela hidrovia a economia cacerense exportava charque, poaia, madeira, açúcar mascavo, látex, milho e arroz, e importava manufaturados, cerâmica, cimento, medicamentos e outros produtos.
Um projeto prevê a construção do Porto de Santo Antônio das Lendas, cerca de 86 quilômetros abaixo das instalações portuárias existentes na área urbana. A obra ainda não começou, apesar de ter sido lançada há quase duas décadas. Além disso, para viabilizar o embarque será preciso pavimentar 68 quilômetros da BR-174 até a barranca do rio – esse trecho foi federalizado, mas tanto a pavimentação quanto o complexo portuário permanecem no papel.
Inicialmente a hidrovia era seu único meio de acesso. Com o passar do tempo, a cidade ganhou outras matrizes de transporte e conta com Aeroporto Nelson Dantas, que tem pista pavimentada; com acesso por rodovias federais asfaltadas para o Centro-Sul, Rondônia e Bolívia, e estradas estaduais também com pavimento, para as cidades circunvizinhas. Cáceres dista 210 quilômetros de Cuiabá pela BR-070 e 85 quilômetros de San Matias, na Bolívia, pela mesma rodovia.
Em sua expedição pela Amazônia em 1913/14, o ex-presidente americano Theodore Roosevelt passou por Cáceres acompanhado pelo futuro Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
O médico, jornalista e líder da revolução baiana Sabinada, Francisco Sabino Vieira, após condenação e comutação de sua pena capital, viveu em Cáceres e prestou serviços médicos humanitários aos cacerenses. Reconhecendo seu trabalho, a cidade lhe rende homenagem: uma rua recebeu o nome de Dr. Sabino Vieira.
A sanguinária Coluna Prestes cruzou as terras cacerenses em sua fuga para a Bolívia.
Cáceres enfrenta problemas com o narcotráfico. Por sua localização na fronteira com a Bolívia se tornou rota da cocaína. Parte da população carcerária feminina cacerense é formada por bolivianas presas transportando pequenas quantidades de drogas. Essas mulheres são chamadas de “mulas” – mesmo tratamento dispensado aos homens.
Cáceres é um dos cinco municípios na fronteira com a Bolívia, com 983 quilômetros – 730 quilômetros em solo firme. Esse grupo se completa com Poconé, Porto Esperidião, Vila Bela da Santíssima Trindade e Comodoro.
Ponte Marechal Rondon (BR-070/174) sobre o rio Paraguai
LOGÍSTICA– Cidade no ponto equidistante no Corredor Bioceânico Atlântico-Pacífico, Cáceres espera a conclusão de um pequeno trecho de rodovia na Bolívia, e da liberação do mercado do volante profissional naquele país – controlado pela COB – central operária semelhante às entidades sindicais brasileiras -, para alcançar os portos do Norte do Chile e Sul do Peru, no Pacifico.
O gasoduto Bolívia-Mato Grosso cruza Cáceres, que não tem tem city gate para liberar o gás natural boliviano para indústrias e a frota automotiva daquela e das cidades vizinhas.
Ao lado da cidade, o rio Paraguai recebe as águas do Sepotuba e do Cabaçal. Em meio a tanta água, a cidade tem um gargalo ambiental: de cada 10 litros de esgoto lançados ao rio Paraguai – principal formador do Pantanal – nove não têm nenhum tipo de tratamento.
MEMÓRIA – Brasília, 7 de março de 1990. O presidente José Sarney cria a Zona de Exportação de Cáceres (ZPE) numa área de 247 hectares. Ao longo de 33 anos os governadores que se sucederam no cargo não conseguiram tirá-la do papel.
Depois de muitas promessas políticas, finalmente em fevereiro deste 2020 o governo estadual iniciou a construção das instalações administrativas da ZPE. Finalmente, neste ano a ZPE foi concluída e alfandegada. Resta agora aguardar pelas instalações de empresas para seu funcionamento. O engenheiro civil Adilson Reis, presidente da Administradora da ZPE (AZPEC) acredita que no próximo ano a ZPE entrará em pleno funcionamento.
ZPE– Para se entender ZPE: trata-se de um centro de industrialização que necessariamente tem que exportar 80% de sua produção podendo desovar 20% no mercado doméstico.
ROTAS – O governo federal criou um programa para implantação de rotas de integração sul-americanas. Uma delas, a Quadrante Rondon, prevê a ligação rodoviária pavimentada de Cáceres e de Vila Bela da Santíssima Trindade com a Bolívia visando o mercado boliviano e de seus vizinhos chilenos e peruanos, além é claro, dos portos de Chile e Peru, no Pacífico.
VULTOS – Cáceres é uma cidade tão democrática, que todos os seus habitantes são protagonistas de sua história, mas, dentre eles, alguns ganharam destaques:
Padre Geraldo José dos Santos, primeiro cacerense ordenado sacerdote católico, foi um líder espiritual respeitado por todos os credos. Padre Geraldo morreu em 25 de junho deste ano, aos 91 anos, de causas naturais.
José Márcio Panoff de Lacerda, o Márcio Lacerda, advogado e pecuarista nascido em Corumbá (MS) exerceu vários mandatos eletivos, com destaque para os cargos de deputado federal, senador e vice-governador; também presidiu a Funai.