Ainda há sabiás…

Já se passaram dois anos e meio que assino esta coluna, às quartas feiras, por culpa única e exclusiva da jornalista Margareth Botelho que enfrentou a minha recusa de articulista temporário para me transformar em semanal. Chego à conclusão de que a minha amiga   estava certa, pois não há como se domar um rebelde a não ser fazendo-o assumir obrigações. O certo é que tenho cumprido, religiosamente, a incumbência.

Tenho dado  pitacos em quase tudo. Faço questão de ser independente, pois não pertenço a nenhum partido e nem comungo qualquer credo. A esquerda me carimba como  de direita e a direita me tem como de esquerda. Eu, simplesmente, acho que não sou de quase nada.

Ultimamente, fui atacado por um banzo que me leva frequentemente para o fundo do poço para onde eu enredo os meus estimados leitores. Na verdade, eu não sou afeito a imiscuir em assuntos políticos prefiro a crônica sobre a vida e o cotidiano. Entretanto, com este País tão problemático, é preciso que se debata e se discuta tudo e daí, a minha incursão indevida, nas mais diversas questões sociais e políticas.

Este texto é para me redimir. Vou  tentar discorrer  sobre o otimismo. Eu gosto muito de crianças. Sou vizinho de três crianças adoráveis. Tenho prazer de falar e estar com elas. Depois, fico pensando, o que estamos reservando para as crianças? Este País errático que não se emenda! Não saímos da beira do abismo e o contemplamos de perto, como se as suas desconhecidas forças fossem nos tragar a qualquer momento.

Receio, entretanto, que este Brasil que foi um dos eleitos como Colônia Penal pelos seus descobridores ainda esteja cumprindo tal ideal. Don Pedro I, ao receber a incumbência de ficar aqui disse a seu pai que não merecia o legado (antes que algum aventureiro lance mão), pois isto “aqui não tinha saída”. O certo é que esta constatação ainda continua nos perturbando.

Pode até ser que o Imperador tivesse razão, mas não caímos outra vez sob o jugo de qualquer outra nação estrangeira.  Continuamos crentes e andando para frente. Superamos governos medíocres, autoritários, corruptos, crises e mais crises, e ainda continuamos de pé. Estamos estoicamente errando sistematicamente e aprendendo com os erros, para quem sabe acertar. Sísifo é nosso mestre. 

Se o atual Governo não der certo, o País não vai acabar, como não acabou com as desastrosas administrações recentes. Ele continuará em frente à procura do seu destino. O inconformismo demonstrado, nas últimas eleições, comprova esta constatação. Se a nossa profissão é esperança, vamos continuar esperando na arraigada crença de que D. Pedro I estava errado. E que os nossos descendentes tenham a mesma fé que temos e continuem com este andor, pois cabe a eles a condução futura desta nau de insensatos.

Pousou, neste instante, um pássaro que não sei identificar na minha janela. Lembrei-me de Ruben Braga: – “Ainda há sabiás nas palmeiras, ainda há esperança no Brasil”.

 

Renato Gomes Nery – advogado em Cuiabá e ex-presidente da OAB/MT

rgnery@terra.com.br

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