A infeliz fala de Wellington

Eduardo Gomes

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Com desencanto vejo o senador Wellington Fagundes (PL) ressaltar em pronunciamento nesta ensolarada e quente terça-feira, 30 de setembro, “a relevância do julgamento que o Supremo Tribunal Federal realizará nesta quarta-feira, 1ª de outubro, para definir a viabilidade da Ferrogrão” – segundo sua assessoria. Lamentável sob todos os aspectos que a voz do presidente da Frente Parlamentar de Logística e Infraestrutura (Frenlogi) renuncie à sua prerrogativa de legislar, para bajular o Judiciário, que na visão mais ampla da independência dos poderes, jamais poderia definir sobre a viabilidade ou não da Ferrogrão, a ferrovia que nunca saiu do papel por pirraça ideológica, pressão ambiental e judicialização.

A iniciativa privada brasileira está atada; o Executivo em todas as suas esferas, idem; e o Legislativo em sua abrangência é plenário de Suas Excelências inúteis, enquanto o Judiciário denuncia, acusa, julga, legisla e administra.

Nenhuma obra de porte, que resulte em contribuição ao desenvolvimento e ao crescimento é aceita pelo radicalismo de esquerda. A Ferrogrão, sonhada por um grupo de empresas, para ligar Sinop ao porto de Miritituba, no rio Tapajós, em Itaituba, no Pará, distante 933 km ao Norte, sempre foi apresentada pelos inimigos do Brasil como sendo uma ferrovia satanizada, e em 2020, quando seu arcabouço começaria a tramitar no (dispensável) Tribunal de Contas do União (TCU), o PSOL acionou o STF por meio de uma ação direta de inconstitucionalidade contra os trilhos.

A argumentação dos comunistas filiado ao PSOL foi a medida provisória editada em 2016 pelo presidente Michel Temer, que alterou um dos limites do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, por meio de uma medida privisória, que permitiria o trem seguir seu rumo sem tocar no entorno daquela área de proteção, porém com a União incorporando ao Jamanxim uma área maior que a removida.

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A classe política recua e o STF avança. A Ferrogrão é um bom retrato do esvaziamento dos poderes políticos e do agigantamento do Judiciário. Vergonhoso o discurso bajulativo de Wellington, congressista bicameral desde 1991 e que sonha em governar Mato Grosso. A fala do senador e o silêncio dos demais da bancada federal, da Assembleia Legislativa e do governador Mauro Mendes nos dizem nas entrelinhas que o vácuo do poder político mato-grossense é tão grande quanto sua área territorial.

Poderia citar a título de exemplo de praticidade na expansão do sistema de transporte terrestre, o método adotado por Luiz Antônio Pagot – quando presidente do Dnit 0 com os índios mundurukus, numa reunião em Novo Progresso, para não deixá-los barrar a pavimentação da rodovia Santarém-Cuiabá (é assim que a BR-163 é chamada no Pará) ou ainda a proposta que presenciei do brasileiro Marco Polo Moreira Leite, CEO do grupo chinês Asian Trade & Investiments (ATI) feita em 3 de setembro de 2011 aos então governadores Simão Jatene (PA) e Silval Barbosa, em Castelo de Sonhos, para a construção da Ferrogrão (mas de Cuiabá a Santarém, com 1.800 km) em 450 dias em troca de sua concessão. Porém, deixo os detalhes destes dois exemplos para outra oportunidade.  O que foi dito por Wellington é suficiente para a postagem de todos os editoriais, artigos e de todas as matérias do mundo, em tom de protesto e de desprezo por suas palavras ofensivas aos mato-grossenses, paraenses e ao Senado onde ocupa cadeira.

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