A Eslováquia é aqui

 

Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
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The book is on the table é inglês demais para o meu poliglotismo – permitam-me o neologismo. Sem entender nada de eslovaco e inglês fiquei frente a frente com o presidente da Eslováquia, Rudolf Schuster, em seu leito hospitalar.

O presidente Schuster veio ao Brasil para refazer pela segunda vez  a trilha pantaneira percorrida em 1927, por seu pai, Alojz Schuster. Com familiares e forte esquema de segurança brasileiro, ele partiu de Cáceres para Corumbá pelas águas do nosso lendário rio Paraguai. Isso, em 24 de julho de 2001, num período em que a respiração em Mato Grosso era quase um milagre, tamanha a fumaça das queimadas que atingiam inclusive Rio Branco, no Acre, e levaram o governador Jorge Viana a advertir que poderia representar contra o governo de Dante de Oliveira no STF.

No fumaceiro, o presidente Schuster zarpou numa chalana diante da praça Barão do Rio Branco, em Cáceres. A temperatura estava na casa de 38º e a visibilidade era quase zero, pela fumaça. Embarcado, com os mimos que todos os poderosos recebem, o mandatário encheu a cara e a pança com caldo de piranha e caipirinha. Não deu outra. A diarreia foi implacável e os vômitos, também. A queda da pressão arterial acendeu a luz vermelha da médica Ingrid Schuster, sua filha, que o acompanhava.

A Marinha do Brasil acionou o Palácio Paiaguás e o único helicóptero da PM, o Águia, voou para resgatar o presidente. O Hospital Santa Rosa foi mobilizado. O Exército ocupou os pontos de acesso àquela unidade hospitalar. A Polícia Federal destacou agentes para o controle das portarias.

O diretor clínico do hospital, cardiologista e cirurgião Renato Mello, cuidou do presidente. Dizem – não sei – que antes de retornar à base no aeroporto em Várzea Grande, o Águia passou por uma minuciosa limpeza.

Antes, pouco antes do acionamento do hospital para atendimento ao presidente, minha mulher foi submetida a uma pequena cirurgia na nuca, para a retirada de um caroço ou nódulo (benigno, graças a Deus) e quem a operou foi o Dr. Renato. Após o ato cirúrgico ela foi mantida em observação por algumas horas. No horário determinado para a alta, fui ao Santa Rosa buscá-la. Na chegada deparei-me com vários colegas, todos à espera do sinal verde para uma entrevista com o paciente nobre, e em meio a eles, alguns dos que dominavam o inglês.

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Enquanto caminhava para o hospital, alguns me disseram que repórter não poderia entrar isoladamente, que seria preciso aguardar o OK da Polícia Federal. Argumentei o que me levava ao local. Na portaria, depois da checagem, entrei. O escritório do Dr. Renato era no segundo andar, e ao lado dele, a suíte do presidente.  Conversamos rapidamente, e minha veia jornalística falou mais alto. Pedi autorização para conversar com o Homem. Meio receoso, mas rendido aos argumentos, Dr. Renato foi comigo.

Entramos na suíte. O presidente estava com aspecto saudável, mas não falava português. Por sorte, a mulher do cônsul da Eslováquia em São Paulo, uma brasileira, estava lá ao lado do mandatário. Ela fez a ponte e ouvi o que precisava, mas numa rápida conversa, pois estava definido que em seguida o paciente receberia a Imprensa.

Terminamos a prosa. Depois do aperto de mão caminhei rumo à porta, que naquele momento foi aberta pelo lado externo. Os repórteres bateram o olho em mim. Senhorial virei para o paciente e falei no mais puro inglês oxfordeano: Thank you, Mr. President!

Todos me olham perplexos. Alguém perguntou: não sabia que você fala inglês; como você entrou antes? Caminhando para a escada disse apenas: coisas de Rondonópolis.

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