Enquanto se irradia a energia gerada pela vida, de forma circular, num processo de captação e transferência entre as pessoas, se persegue um objetivo comum: ser feliz – que, curiosamente, é um horizonte que não se consegue construir sozinho. Identifica-se, portanto, uma das principais características humanas: a interdependência, ou seja, a necessidade da presença do outro na vida de cada um. A origem latina da palavra feliz remete à fertilidade, à capacidade de despertar em si e no outro a vida fulgurada.
Assim sendo, felicidade tem relação direta com o sentimento de vida fértil. José Outeiral, médico psiquiatra, tem um exemplo pertinente ao contexto conceitual que se pretende construir, no que diz respeito ao adulto responsável. Trata-se daquele que vê em seu filho/aluno o Davi que Michelangelo conseguia enxergar em um pedaço de pedra. A sua arte concentrou-se, apenas e tão somente, em retirar os excessos, para que todos pudessem apreciar a obra que estava contida na pedra. Isso é trazer à luz, tornando real o que já existia potencialmente, pela energia de um “sopro”, carregado de expectativa positiva. É acreditar, a priori, na possibilidade capturada pelo olhar atento e generoso, ajudando o outro, por quem se responde, a se realizar.
Para tanto, faz-se necessário refletir em torno de alguns questionamentos que ajudam a ampliar a consciência sobre as energias capazes de se transformar em “sopro de vida”. Como adulto responsável, as suas ações revelam uma proximidade com o conceito de raiz, que nutre, alimenta e revigora? Ou com o de âncora, que imobiliza e aprisiona, transformando-o em um ídolo para o seu referente? Seu fazer se concentra no que é possível ou no tornar possível o que é necessário? Suas atitudes promovem a fertilização ou a esterilização do potencial humano daqueles com os quais se relaciona? Seu filho/aluno tem ciência do lugar de valor que ele ocupa em sua vida e das suas expectativas em relação ao seu potencial?
Pertencer ao projeto de vida de um adulto responsável é salutar e indispensável para o desenvolvimento das potencialidades humanas. O sentimento de pertença, uma vez existente, precisa ser cultivado pela qualidade do tempo e da energia investidos nas oportunidades de relacionamento. Cada vez mais se constata que esse sentimento se apresenta como basilar para a realização do projeto de vida dos filhos/alunos que, quando assumidos como um lugar de valor em nossas vidas, são cativados – e acabamos por nos tornar responsáveis, parafraseando Saint-Exupèry.
Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica da Editora Positivo