Cidadão – profissão: prefeito, vice-prefeito e vereador. Essa é a realidade em Mato Grosso para dezenas (centenas ao longo do tempo) de políticos, que fazem de seus mandatos verdadeira atividade econômica principal de suas vidas. Nesse cenário de oportunismo o suplente de deputado federal em exercício, Valtenir Pereira (por enquanto MDB – mas ele troca muito de partido e é recomendável ficar de olho em sua filiação) promove em parceria com a União das Câmara Municipais (UCMMAT), no próximo dia 30, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, o Encontro Municipalista Vereadores/Prefeitos – Unificação das Eleições Uma Causa em Prol do Brasil.
Com apoio da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), por meio de seu presidente Glademir Aroldi e o fogaréu da vaidade de sua representante regional, a AMM e da UCMMAT, Valtenir quer difundir aqui, junto a opinião pública – perante os interessados o assunto é de amplo domínio -a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do deputado Rogério Peninha (MDB/SC), que pede a prorrogação dos mandatos dos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores até 31 de dezembro de 2022, para – isso na justificativa de Peninha – coincidir as eleições municipais e estaduais, em nome da economia com os gastos eleitorais.
Valtenir é o relator dessa PEC na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), e emitiu parecer favorável a ela.
Em busca do fortalecimento de seu sim à proposta, Valtenir entra em cena com encontros iguais a esse em Cuiabá. E pelo jeito, a adesão será bem grande no Senado, nos governos estaduais e na Presidência da república, pois a PEC pede que os mandatos dos senadores aumente de 8 para 10 anos, e dos governadores, e vices, presidente e vice-presidente, e dos prefeitos e vices, para cinco anos a partir de 2022.
Dificilmente o Brasil conseguirá impedir esse golpe, pela fragilidade do Congresso Nacional e a força política dos interessados, nos municípios, nos governos, no Senado e na Presidência da república. Mesmo em se tratando de uma causa quase perdida temos que lugar contra essa aberração.
Não pensem que a PEC de Peninha abraçada por Valtenir seja inédita. No regime militar o mago da articulação, general Golbery do Couto e Silva também aprontou algo semelhante. Numa das manobras de Golbery, os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos em 1976, que cumpririam mandatos até o final do ano 1980, ganharam mais dois anos de poder, com uma prorrogação que os garantiu no cargo até o começo de 1983.
A manobra de Golbery foi abraçada Brasil afora. Nenhum prefeito renunciou ao término de seu mandato original. O mesmo fizeram os vice-prefeitos. Entre os vereadores, apenas dois: um de Petrópolis (RJ) e outro de Cuiabá (Leiam o boxe DIGNIDADE).
Creio que aceitação da PEC de Peninha será massacrante nesta ensolarada e abençoada Terra de Rondon, onde é comum se deparar com vereador cumprindo o oitavo ou nono mandato consecutivo. Entre os prefeitos são muitos os que administraram três ou quatro vezes seus municípios – em alguns casos considerando-se o mandato em curso. Para não tornar a matéria cansativa, não relacionei todos nessa situação, mas um grupo de prefeitos e ex-prefeitos para simbolizar a concentração do poder municipal.
José Domingos Fraga Filho foi prefeito de Sorriso em três mandatos. Érico Pianna, quatro vezes, em Primavera do Leste; Adriano Pivetta é prefeito de Nova Mutum pela quarta vez. Percival Muniz, três vezes, em Rondonópolis. Lindberg Ribeiro Nunes Rocha, três vezes, em Poxoréu. O senador Jayme Campos, três vezes em Várzea Grande. Cidinho dos Santos, três vezes, em Nova Marilândia. Raimundo Nonato Abreu Sobrinho, três vezes, em Barra do Bugres, considerando o mandato em curso. Fernando Gorgen, com o mandato atual, três vezes, em Querência. O vice-governador Otaviano Pivetta, três vezes, em Lucas do Rio Verde. Carlos Roberto da Costa, o Nezinho, três vezes em Nossa Senhora do Livramento. E Jerônimo Samita Maia Neto, quatro vezes, em Alto Araguaia
Além dos prefeitos com três ou mais mandatos, há outros, que administraram mais de um município. Ramon Itacaramby, em Jaciara e Juscimeira. E Elias Leal Mendes Filho, em Curvelandia e Mirassol D’Oeste -Elias foi reeleito em Mirassol,mas seu registro de candidatura foi cassado, uma vez que ele tem condenação colegiada por crime de improbidade administrativa.
DIGNIDADE – Em 1976, com 1.056 votos, Moisés Martins foi eleito vereador por Cuiabá filiado a Aliança Renovadora Nacional (Arena) para mandato de quatro anos. Enquanto exercia a vereança o governo federal prorrogou os mandatos municipais em dois anos, para que as eleições coincidissem com o pleito estadual em 1982.
Moisés Martins não aceitou a prorrogação, porque a mesma não tinha o respaldo das urnas. Cumpriu o mandato até o último dias os quatro ano e renunciou – usando uma figura política, apresentou seu pedido de exoneração ao presidente. Nenhum outro vereador cuiabano o imitou – no Brasil somente dois vereadores tiveram tal atitude: ele e um colega de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Seu suplente, Nélio Carvosier o substituiu.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 e 2 – Agência Câmara
3 – Câmara Municipal de Cuiabá – Divulgação
Devolva propina do VLT corrupto desprezível.