Final de tarde da terça-feira, 11 de julho de 1978. O colonizador Ênio Pipino percorre a pé um trecho da Avenida Marechal Rondon sentindo o cheiro gostoso da terra entremeada por raízes das árvores que tombaram. Está feliz. Naquele instante sua Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop) acaba de concluir a abertura daquela e da Avenida Gaspar Dutra. De sua ousadia nascia na quinta etapa do projeto de colonização da Gleba Celeste, a vila de Cláudia, destinada a ser cidade em Mato Grosso.
Certa feita, em Cuiabá, citando que se tratava de registro histórico perguntei ao colonizador se Santa Carmem tinha algo a ver com Carmem Miranda, e ele negou qualquer ligação. Num sorriso à meia-boca comentou baixo: “Carmem (Carmem Ribeiro Pitombo) é nome de uma tia da dona Nilza (a mulher dele)”. Espichei pra Cláudia. É pela atriz? No primeiro momento ele não respondeu diretamente. Ajeitou os óculos, espichou a mão em despedida e foi enfático: “que mulher é essa Cláudia Cardinale”.
Túnis, 15 de abril de 1938. Nasce Claude Josephine Rose Cardinale, filha de um casal siciliano. Morenaço. Boca carnuda. Bunda e dentes perfeitos. Seios grandes e empinados. Cabelo preto. Cinturinha fina. Rosto de traços suaves e firmes. Olhar envolvente. Com tantos atributos assim, essa ítalo-tunisiana virou musa, sex symbol, estrela de Hollywood adotando o nome artístico de Claudia Cardinale.
Pelas mãos, ousadia e os sonhos do colonizador Ênio Pipino, Claudia Cardinale está para sempre no Nortão. Pena que ela não saiba disso.
Divisor das águas dos rios Xingu e Teles Pires, 15 horas do sábado 11 de agosto de 1979. Na clareira aberta pelo colonizador Ênio Pipino para a implantação daquela que seria a cidade de Cláudia, nasce sem médico e sem parteira o primeiro bebê da região: Cláudia Neuza da Silva, filha do casal Maria Aparecida e Leonardo Ortolani.
Foi um parto sem médico e sem parteira. Forte, dona Maria Aparecida se virou como pode com a ajuda da vizinhança. O nome Cláudia é agradecimento dos pais a cidade homônima que ajudaram a construir nos confins da Amazônia Mato-grossense.
Os Ortolani, pais de Cláudia, trocaram Diamante do Norte, no Paraná, pelo sonho da colonização da Amazônia. Não se arrependem do que fizeram nos anos 1970, quando deixaram uma região com boa infraestrutura e passaram a viver numa área caracterizada pelo isolamento, com alta incidência de malária e infestada por mosquitos.
Cláudia orgulha-se de sua cidadania. É personalidade em seu município e sempre ouve de pioneiros que nos primórdios da colonização corretores e moradores diziam aos interessados em imóveis na então vila, que ali nascera um bebê com o nome do lugar. “Essa citação mexia com o inconsciente daquelas pessoas e acho que contribuiu para que alguns mudassem para cá”, avalia Cláudia.
Casada com Nivaldo Ferreira da Silva e mãe de Eduarda, Henrique e João Vitor Ferreira da Silva, Cláudia vive na cidade onde nasceu e da qual herdou o nome.
Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Divulgação
2 – Álbum de família
PS – Trecho extraído do capítulo dedicado a Cláudia, no livro NORTÃO BR-163: 46 ANOS DEPOIS publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade sem apoio das leis de incentivos culturais