Existe uma brincadeirinha clássica sobre a terra do “já teve”. No quesito cultura Mato Grosso é a terra do está tendo e não sabemos e, se sabemos, não damos o devido valor. Passou…
O que justifica o esforço gigantesco de Domingas e do Grupo Flor Ribeirinha para levantar recursos e ir ali na Turquia para virarem campeões mundiais de folclore?
Ou Bruna da Viola concorrendo ao Grammy Latino da National Academy of Recording Arts and Sciences, com o álbum “Melodias do Sertão”, depois de tomar rumo de Ribeirão Preto, saindo de Mato Grosso para encontrar seu espaço no universo musical?
Clóvis Matos, nosso Papai Noel, está dando uma banda para os lados de Recife com a Brancona, sua Kombi, levando para o litoral do Nordeste seu projeto maravilhoso Inclusão Literária. Volta, amigo!
Por outro lado… Na literatura, o sacode dado por Eduardo Mahon na Academia Mato-Grossense de Letras, continua na gestão de Marília Beatriz Figueiredo Leite. Exemplo do mistura e manda tão pulsante é a poesia de Ivens Scaff, agora dialogando com as linhas coloridas, os tecidos e a estética das Bordadeiras da Chapada dos Guimarães. É Mato Grosso na veia passeando por diferentes linguagens embaladas pela sonoridade musical de Leonardo Yule e os integrantes do Núcleo Chapada em Concerto.
A chegada do Bacharelado em Música da UFMT foi o tijolinho que faltava para revirar, remexer e sacudir a cena musical. Um celeiro de talentos de alto desempenho técnico que multiplica as formações, tanto instrumentais como vocais. Ao interagirem com vertentes populares, apuram a qualidade musical ao beberem na fonte de diferentes tendências que se cruzam e se mesclam no caldeirão cultural local. Imagine essa moçada na mesma vibe do rock mato-grossense, do samba e do remelexo da batida beira rio.
Nas artes plásticas não há como não destacar e lamentar profundamente a histeria com que a sociedade local, outrora usuária e incentivadora, julgou e condenou o trabalho de Gernave de Paula e sua arte contestadora. Os acontecimentos relativos a exposição “Eu amo Cuiabá”, no Shopping Pantanal, serviram para colocar Mato Grosso naquele patamar de casos patéticos que pululam nas redes sociais associados as patrulhas culturais e artísticas, tão em voga ultimamente.
Afinal de contas, esperar o que? Ao preparar os festejos do 300 anos, as primeiras informações que chegam é a participação do supra sumo da pretensão e falta de talento, o brasileiro que se compara a Picasso, Romero Brito, e a criação de um Museu de Cera. Uma quase piada pronta se considerarmos o calor de Cuiabá.
Para finalizar, um cavalo que anda passando encilhado para nossos talentos: a literatura policial. A vertente artística que mais tem nos levado à mídia nacional. Um veio extenso e profícuo. Basta narrar o cotidiano político/policial e alinhavando a realidade. Mais criativa e surpreendente que a ficção, é de fazer inveja as aventuras de Poirot e Arsene Lupin, com overdoses de lances rocambolescos. Segura, peão…
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa matéria faz parte da série “Parador Cuyabano” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com