Nascido na localidade de Biguazal, pouco acima do Porto Cercado, Antonio Rosa ou para os amigos, simplesmente Totó, faz as vinte e quatro horas do dia ser a mesma coisa de 30 ou 40 minutos, pois seu “papo” agradável, empurra o sol rapidamente para o horizonte.
Este foi para mim um dos melhores carnavais que passei, pois com o velho amigo aprendi tantas coisas que tivemos no passado que não tenho o direito de guardá-las só para mim.
Resolvi anotar tudo, para que nossos jovens saibam o quanto foi maravilhosa a navegação pelo nosso lendário rio Cuiabá e pelo majestoso rio Paraguai, e que na margem deles nascia muitos produtos que movimentavam nossa economia.
Começamos pela localidade denominada de “Porto Urbano”, localizado num local chamado Tibaia, que hoje não é mais navegável, abaixo de Barão de Melgaço. Aqui funcionava uma pequena usina. Existiam 19 usinas até Cuiabá, fabricando açúcar, pinga e álcool. As maiores, Itaicy e Conceição, só fabricavam açúcar.
A Usina Flechas já fabricava açúcar e pinga, esta com o nome de “Umburana” e “Flechas”, tipo exportação.
A usina Aricá e Maravilha, fabricavam açúcar e pinga. Esta última com uma boa pinga chamada “Formidável”.
A usina Tamandaré fabricava as excelentes pingas “Verdinha” e “Tamandaré”. A usina Mimosa em Barão de Melgaço, de propriedade da família Damasceno, fabricava a pinga “Mimosa”. A usina São Sebastião, e a usina Santa Maria fabricavam pinga. Desta última, o nome da cachaça era o mesmo da usina.
As usinas Manoel Nobre, na praia grande, São João e São Gonçalo também fabricavam excelentes pingas.
Cachoeirinha, da família do Dr. Silvio Curvo, Cachoeira de pau, São José, Santana, também fabricavam pinga de boa qualidade.
Subindo o rio vinham as ruínas da Itaicizinho e da São Miguel, perto do barranco alto, já desativadas.
Algumas destas usinas fabricavam açúcar, pinga, vinagre e o álcool 42 graus. Usavam este álcool para fazer vários tipos de licor, principalmente o de pequi. Para alguns “pé fofo”, este álcool era essencial no preparo do “desdobrado”, sendo 30 a 40 por cento de água. No bairro do Porto, alguns bolicheiros costumavam escutar de alguns clientes um pedido inusitado: “me dá um desdobrado aí”! Era ingerido como pinga. Isto mais ou menos na metade da década de 50.
Destas dezenove usinas, funcionavam a pleno vapor a Itaicy, Conceição, Flechas, Aricá, Maravilha, Tamandaré, Mimosa, São Sebastião, Santa Maria, Manoel Nobre e São João.
As últimas a funcionar foram as Flechas e Aricá.
A produção das Flechas, Tamandaré, Conceição, Itaicy e Maravilha, alem de abastecer o mercado de Cuiabá, enviavam seus produtos rio abaixo até Corumbá.
Como viajavam estes produtos? Semana que vem lhes conto.
Eduardo Póvoas – Cuiabano
povoas@terra.com.br