Nhaaaaaam! Esse é o som característico dos aviões agrícolas nos rasantes sobre rodovias que cruzam lavouras onde aplicam agroquímicos. O barulho do motor sobre o teto dos carros assusta muitos motoristas. Solitário em sua cabine, o piloto não dá bola ao trânsito rodoviário e prossegue em sua excitante profissão de voar rente ao solo sabendo que qualquer falha mecânica ou erro humano pode ser fatal.
Números do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) mostram que 494 dos 2.194 aviões agrícolas do Brasil estão baseadas em municípios mato-grossenses. Isso corresponde a 22,5% da frota do país. O Rio Grande do Sul é o segundo colocado, com 427, e São Paulo, o terceiro,com 317.
A frota mato-grossenses é composta por aviões de 31 empresas da aviação aeroagrícola e de agropecuárias. A predominância e do Ipanema, brasileiro, produzido pela Neiva, que é subsidiária da Embraer. O norte-americano turbinado Air Tractor (Trator do ar, na tradução livre) tem boa presença nos céus mato-grossenses.
O índice de acidente é considerado baixo. O piloto recebe em média R$ 2,20 por hectare aplicado e voa em média seis horas por dia, mas sua atividade é sazonal, reduzida ao ciclo vegetativo da lavoura, normalmente em rotação de cultura, que lhe assegura trabalho em seis meses do ano. Num bom ano agrícola, revela em Cuiabá o piloto Rodrigo Almeida, o profissional pode alcançar até 60 mil hectares e seu faturamento – com um desempenho assim – gira em torno de R$ 135 mil.
A cadeia da aviação aeroagrícola mato-grossense gera em torno de 1.500 empregos diretos, avalia Cristóvão Kanashiro, que é mecânico de aeronaves. Esse mercado de trabalho inclui piloto, funções administrativas, mecânica, abastecimento e pessoal que manuseia os produtos para serem lançados.
Para Almeida, a boa aplicação depende de uma série de fatores climáticos: baixa umidade e vento calmo – não pode ser vento forte, porque arrasta o produto, nem nulo.
LULINHA – Em 15 de março de 2005 um produtor rural de Sorriso comprou o primeiro Ipanema a etanol, mas o lançamento desse avião somente aconteceria em 19 de abril daquele ano, na Agrishow Cerrado em Rondonópolis.
Essa possante máquina voadora foi o primeiro avião no mundo a receber homologação para voar a etanol. Seu motor de 6 cilindros de 300 cv a gasolina ganha mais 20 cv ao ser produzido para abastecimento com o álcool, combustível que não lança poluentes pesados na atmosfera. A diretoria da Neiva o apresentou a autoridades, pilotos e produtores rurais em Rondonópolis. A Neiva é uma indústria instalada em Botucatu, no interior paulista, e que fabrica o Ipanema na condição de subsidiária da Embraer.
Quem primeiro recebeu informações sobre a máquina voadora movida a álcool, ou etanol – como queiram – foi o então governador Blairo Maggi. Blairo ouvia atentamente a explanação sobre o avião que dispensa gasolina, quando um piloto agrícola que acompanhava a fala do executivo da Neiva espalhou brasa.
O piloto disse que bem antes, “uns dois ou três anos”, a aviação aeroagrícola mato-grossense já ‘convertia’ ao álcool, motores a gasolina, para reduzir o custo operacional do nhaaaaam… nhaaaaam sobre as lavouras e pastagens.
A fala do piloto não causou muita surpresa, porque boa parte dos presentes conhecia tal situação e, alguns até voavam com os motores convertidos ao álcool. O comentário não causaria nenhum constrangimento e a explanação prosseguiria normal, se não fosse a intervenção de outro piloto. Esse sugeriu ao colega:
– Conta pra eles como nós chamamos o avião a álcool!
– Uê, a gente chama ele de Lulinha, porque o danado bebe pra daná!
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Arquivo blogdoeduardogomes
2 – Em arquivo Secretaria de Comunicação Social do Governo de Mato Grosso