Mas para tudo há um limite, não vivemos em um paraíso permanente, os sinais são cada vez mais preocupantes, e digo isso quando observo e analiso o cenário mundial e a situação regional, e aí em me refiro à conglomerado de nações como o Mercosul e a Unasul.
Nestas mau-traçadas linhas o espaço é insuficiente para descrever as causas de minha inquietação, mas ouso resumir que a opção que uma parte dos brasileiros fez, elegendo um político tradicional, mas despreparado, que tinha como grande apelo ser um “outsider” do sistema, é uma aposta perigosa e incerta.
Primeiro que a base da gestão da economia brasileira foi delegada, sem nenhuma exigência de bons resultados como contrapartida, a um grupo de economistas de origem colonialista denominados pejorativamente de “Chicago Boys”. Os originais garotos de Chicago foram um grupo de 25 economistas chilenos, que se formaram em Chicago (origem acadêmica dos nossos futuros gestores da economia), e orientaram o Ditador Pinochet a implantar programas de austeridade contra a pobreza (contra mesmo!) no Chile. O resultado foram revoltas populares e execução de inocentes no Estádio Nacional de Futebol, na Capital Santiago.
Aqui no Brasil, se anuncia para 2019 uma mudança radical no sistema de aposentadorias, que não irá atingir a classe mais abastada, aí incluídos magistrados e militares, justamente os funcionários da força coercitiva estatal.
Lá no Chile, o sistema de aposentadoria foi posto totalmente sobre os ombros dos trabalhadores, que contribuíram para fundos administrados por bancos privados. O resultado, visto claramente em 2018, são pessoas empobrecidas, recebendo menos de um salário mínimo de aposentadoria e pensões, fundos que não cobrem a expectativa de vida dos velhinhos chilenos.
As Administradoras de Fundos de Pensão (AFP) são controladas por instituições privadas e responsáveis pela administração das poupanças e pensões. O Ministério da Saúde chileno, em parceria com o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), publicou estudo mostrando que entre 2010 e 2015, 936 adultos maiores de 70 anos tiraram sua própria vida. São idosos que, sem recursos financeiros para comprar remédio e comida, e sem condições físicas de executar qualquer trabalho, optam pela morte em vez da humilhação de depender de esmolas.
Para finalizar: vejo a ameaça do sistema financeiro, permitindo a alta do dólar e a promessa de diminuição do PIB em 2019 e que a confiança nesse futuro governo pode se deteriorar substancialmente sem as mudanças estruturais para estabilizar a dívida. Isso significa a taxa de câmbio ultrapassando os R$ 4,50 e, consequentemente, levando juro básico no Brasil a subir mais cedo do que o esperado para conter os impactos inflacionários.
E os Chicago Boys brasileiros de 2019 estão virando as costas aos negócios com o Mercosul, um conjunto de 12 países que juntos possuem mais musculatura que a União Européia, e cujas riquezas de fontes energéticas (água, gás, petróleo etc.) rivalizam em iguais condições à OPEP (união países produtores de petróleo). Ao contrário de se manter entre os BRICs, ao lado da China e Rússia, grandes clientes da proteína animal produzida em Mato Grosso, os Chicago Boys querem o Brasil alinhado ao tresloucado Trump, inclusive se colocando como “puliça” subalterna no subcontinente sul americano.
Ou seja, o projeto é acabar com os pobres, nem que seja os condenando a inanição, sem médicos, com gastos congelados em saúde por 20 anos, ameaças a opositores e manifestantes, e censura nas escolas e universidades, onde pensar será altamente proibido.
Vilson Pedro Nery, advogado especialista em direito Público pela UCAM e Mestre em Educação pela UFMT