Rondonópolis inteira (e de graça) no meu texto – leitura imperdível

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

eduardogomes.ega@gmail.com

Pra quem a conhece somente pelos números, superlativo seria o melhor título para Rondonópolis. Mas, os que a vivem no dia a dia sabem que esse rótulo não pode ofuscar na frieza estatística o calor humano diferenciado da cidade que nasceu no solo vermelho à margem do rio Poguba (que chamamos de Vermelho), no ponto onde o Alto Pantanal se funde com o cerrado, sob o olhar distante da Serra da Petrovina e que em 10 de dezembro chega aos 72 anos, com 263.708 habitantes, envolvente, sedutora, irresistível e de braços sempre abertos.

O amanhã é delas

Rondonópolis é uma miscigenação contínua, onde ninguém questiona o berço natal do indivíduo. Lá, todos, independentemente de onde tenham nascido, são rondonopolitanos com os mesmos direitos e deveres daqueles que desde o primeiro suspiro respiram o ar purificado pela mata da reserva Tadarimana, dos bororos, entre os rios Poguba (Vermelho, pra nós), Tadarimana e Jurigue, bem ao lado da cidade.

Em Rondonópolis o errado é não tentar. Lá, sonho não costuma descarrilar. É como o trem da Rumo Logística, que apitou naquela cidade pela primeira vez, em 19 de dezembro de 2012. Pelos vagões da ferrovia, Mato Grosso escoa ao porto de Santos, mais de 20 milhões de toneladas de soja, milho e algodão para exportação, num trajeto de 1.600 quilômetros.

Mais um dia vivido em Rondonópolis

Longe do superlativo, mas o terminal de embarque do trem em Rondonópolis é o maior da América Latina. Mais: é o ponto mais ao Norte da ferrovia, que leva o nome de Senador Vicente Vuolo e foi construída pela obstinação do empresário Olacyr de Moraes.

O trem é a mais nova matriz de transporte de Rondonópolis, que é o ponto de junção e separação das rodovias federais 364 e 163, as duas mais importantes de Mato Grosso e que em seu trecho coincidente rumo Norte até Posto Gil (de Diamantino) formam o maior corredor de cargas agrícolas do Brasil. Além disso, a cidade é interligada a São José do Povo e Guiratinga, pela Rodovia José Salmen Hanze – Zé Turquinho (MT-270) e a Poxoréu e Primavera do Leste pela Rodovia Osvaldo Cândido Moreno (MT-130). Um trajeto alternativo para Cuiabá, pelas bordas do Pantanal, via Mimoso – a terra do herói Marechal Rondon – criou uma rodovia verde, que em seu trecho comum com a MT-270 até Fátima de São Lourenço (de Juscimeira) recebeu o nome de João Antônio Fagundes – João Baiano. O aeroporto local com balizamento noturno opera jatos médios e foi batizado de Maestro Marinho Franco, em homenagem ao mestre do saxofone e fundador da Banda Marinho e Seus Beats Boys, nascido na Boa Terra da Bahia e que fechou os olhos e não está mais entre os forasteiros adotados pelo calor humano rondonopolitano.

O céu azul de Rondonópolis

A cidade é moderna e vibrante. Nas suas ruas planas e largas desfilam carrões dos barões da soja, dos reis do gado, dos donos do poder político, do empresariado, dos industriais e dos pés de chinelo que dão um naco da vida pelo direito de pisarem fundo no acelerador sentado no banco do motorista do possante que só ele põe as mãos. Seu quadrilátero central nasceu das pranchetas do major do Exército Otávio Pitaluga, que criou a denominação Rondonópolis em homenagem ao seu chefe militar Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. O Marechal frequentou Rondonópolis em seus primeiros anos, montou um posto telegráfico à margem do rio, regularizou terras indígenas, tinha amigos entre os bororos e os telegrafistas dos Correios. Rondon é um nome comum por lá e está presente num conjunto habitacional, numa vila, numa loja maçônica, numa das principais avenidas, em prédios; é título de uma comenda da Câmara Municipal.

O município tem 263 4.159,118 km² e o Tribunal de Justiça o reconhece enquanto sede de Comarca de Entrância Especial. A cidade é um polo econômico, universitário, político, industrial, comercial e de prestação de serviços públicos. Mas, numa visão ampliada e sem preocupação com limites territoriais pode se afirmar sem medo de errar, que Rondonópolis é uma região que se estende das divisas com Mato Grosso do Sul e Goiás até o alto da Serra de São Vicente, perto de Cuiabá; do Pantanal de Barão de Melgaço às reservas indígenas em Gaúcha do Norte e Paranatinga; e das nascentes do rio das Mortes a Santo Antônio do Leste e Ribeirãozinho, também na divisa com Goiás.

As carretas marcam encontro em Rondonópolis

O polo de Rondonópolis tem terminais ferroviários; produz álcool, açúcar, biodiesel, ovos e alimentos; extrai calcário, diamante e ouro; gera energia de origem hidráulica; cultiva sementes de soja, forrageiras e outras, na altitude; é coberto por grandes lavouras e extensas pastagens; em grandes frigoríficos abate bovinos, suínos e ovinos; é inesgotável roteiro turístico no Pantanal, Cidade de Pedra e nas águas quentes; é paraíso de esportes radicais como o rafting; é centro de produção de fertilizantes; industrializa couros; envasa cerveja; e fabrica implementos agrícolas e carrocerias. De seu solo, Mato Grosso colhe grãos e produz a carne, o leite e os lácteos que garantem boa parte da política de segurança alimentar nacional.

A ciência agronômica fala mais alto em Rondonópolis, que é sede da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) e da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). A Fundação MT é referência mundial em pesquisa agrícola nos trópicos. A Aprosmat estabelece regra no comércio sementeiro e seu surgimento enxotou o velhaco mercado da chamada bolsa branca – de semente sem certificação.

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Moradores na região de Rondonópolis são comuns entre sua gente. Vão à cidade para tudo, desde a consulta médica ao chopp gelado nos bares da Avenida Lions Internacional, da paquera ao culto evangélico ou à missa celebrada pelo bispo Dom Maurício Jardim, da compra no supermercado à importação de avião executivo ou agrícola, para assistir jogos no Estádio Luthero Lopes ou rodeios na Arena Poteirão no parque de exposições da internacional Exposul – que é uma das principais feiras agropecuárias do Brasil.

O superlativo teima em ressurgir, ora na balança comercial, ora com o PIB e a renda per capita. Ora com a balança comercial mandando para os quatro cantos do mundo, farelo de soja, soja, algodão, milho, óleo, carnes, fertilizantes, biodiesel, máquinas têxteis, embalagens plásticas e etiquetas. No sentido inverso chegam adubos, inseticidas, máquinas, transformadores elétricos, colheitadeiras, aviões agrícolas e executivos, empilhadeiras e outros produtos procedentes da Belarus, Rússia, Estados Unidos, Marrocos, China, Canadá, Argentina, Alemanha etc.

Claro que esse mercado não contabiliza a cocaína boliviana e a maconha paraguaia, que chegam à cidade pelas mãos dos cartéis e além de destruírem vidas de milhares de jovens, são as principais causadoras do alto índice da violência, que não é exclusivamente urbana, pois já avançou pela zona rural. A cidade tem batalhão e comando regional da Polícia Militar; delegacias da Polícia Federal, Civil e da Polícia Rodoviária Federal; batalhão dos Bombeiros; além do 18º Grupo de Artilharia de Campanha do Exército, mas perde seguidas batalhas contra o crime. Quando a justiça consegue julgar traficante, a Penitenciária Regional Major PM Eldo de Sá Corrêa, mais conhecida por Mata Grande, à margem da MT-130, torna-se seu destino.

A localização geográfica de Mato Grosso ao lado da Bolívia e perto do Paraguai abre caminho às drogas e a polícia pouco pode fazer para enfrentar a criminalidade que nasce do narcotráfico e seus desdobramentos como o tráfico formiguinha. Bandido hoje é figura intocável, mas não era assim nos velhos tempos do tenente Adib, que comandava com mão de ferro a Captura naquela cidade. Dizem por lá que na calada da noite as águas do rio Itiquira no ponto em que ele se afunila para desembocar no Pantanal eram o destino dos bandidos que caiam na besteira de mexer com o povo de Rondonópolis. Adib se foi. Virou coronel na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. Agora, é lenda para a coletividade e uma ponta de saudade pros que acham que o fim justifica o meio – o olho por olho – no combate aos marginais.

Tão logo chega à cidade o migrante ou imigrante a adota. Com os gaúchos também é assim, mas eles quando querem se reencontrar com os costumes de sua terra natal correm para o CTG Saudades da Querência. Os vizinhos bororos não precisam mais que algumas dezenas de remadas para cruzarem o rio Poguba e retornarem às suas aldeias. Os baianos são os verdadeiros donos do lugar, a começar pela bandeira do município que tem o vermelho, o branco e o azul das cores oficiais da Boa Terra. Foi deles o pontapé inicial da economia ainda no tempo em que Rondonópolis era distrito de Poxoréu. É bom se lembrar que o primeiro prefeito foi o baiano Rosalvo Farias, que chegou ao cargo por nomeação.

O ciclo do domínio baiano findou-dr com a chegada da leguminosa asiática Glycine Max, que atende pelo nome popular e comercial de soja e que fincou suas raízes em Mato Grosso pelas terras de Rondonópolis, mais precisamente na fazenda São Carlos, do gaúcho que foi radicado no Paraná, Adão Riograndino Mariano Salles, em 1973. A soja é divisor de época na economia rural brasileira e os rondonopolitanos a exemplo dos meus filhos Agenor e Luiz Eduardo sabem muito bem sua importância econômica e seus reflexos sociais, afinal seu município é o maior polo do agronegócio do Centro-Oeste, sem que se precise explicar o porquê.

O poeta e compositor Tibirissá com a música que leva o nome daquela cidade sintetiza muito bem o amor do rondonopolitano por sua terra, com o refrão imortalizado na voz de Olimpio Alvis:

Rondonópolis eu descobri sou seu irmão /

Também corre um rio Vermelho dentro do meu coração

O livro que vai ao ponto

Para conhecer melhor Rondonópolis além de seus limites, em seu polo regional, e entender como os nordestinos, sobretudo baianos, que vinham para Mato Grosso em busca do sonho com a riqueza do dia para a noite nos garimpos em Poxoréu, Guiratinga e Tesouro, foram os sustentáculos da povoação e do crescimento da cidade, leiam gratuitamente em page flip, o livro O lugar é aqui – Uma região diferenciada, de minha autoria, que está disponível na capa do www.blogdoeduardo gomes.com.br com a foto postada ao lado deste texto.

Na obra, sem apoio das leis de incentivos culturais, o autor menciona centenas de figuras rondonopolitanas e da região, que deixaram e continuam deixando suas digitais na construção do melhor lugar do mundo.

O público não conhece muitos vultos, empresas e instituições dessa epopeia e o livro os retira da história oral levando-os para a literatura ao lado de outros, que são famosos.

O educador Dom Vunibaldo
Graças a João Marinho Falcão

Numa citação aleatória, aqui, extraio uma pequena parte dos citados no livro. É a Rondonópolis de Dom Vunibaldo a UFR, de Antônio Estolano a Conrado Sales de Brito, de Anibão a Ana Vitória, da primeira-dama Maria de Lourdes Farias a Edith Pereira Barbosa, de Hermenegildo Reis a Bruna Paes, de Padre Lothar a Pancoso, do Pastor Juvêncio a Lamartine da Nóbrega, da comandante Dagmar Parini a Malagueta, de Daniel Moura a Cláudio Ferreira, de Djalma Pimenta a Adão Riograndino, de Dario Hiromoto a Levanir Gomes, de Afro Stefanini a Carlos Bezerra, de Shelma Lombardi de Kato ao coronel Adib, da Fundação MT ao MST, do CBT 1090 da Somai a Exposul, do sensei Manao Ninomiya a Carmelita Cury, da Dra. Ana Matielli a Elmo Bertinetti, de Zeca D’Avila a Antônio Luiz de Castro, do Armazém Patureba a Casas Pernambucanas, de Dona Zizi ao Padre Miguel, de Jacinto Silva a Nêgo Amâncio, de André Maggi a Aroldo Marmo de Souza, de Marinho Franco a Orestes Miraglia, de Moisés Feltrin a Ivo Ferreira Mendes, de Amélia Stefanini a Celso Jardim Rodrigues da Cunha, de Zé Turquinho a Analy Polizel, de Jose Clemente a Luiz Beni Maia, de Ovídio de Brito a Adroaldo Gatto, do Cabo Marciano ao Coronel Carlos Souza, de Arolda Dueti a Selma Arruda, de Nelson Pereira Lopes a Blairo Maggi, Sátiro Castilho e Candinho, de Marília Salles a Valéria Bevilacqua, do Bar do Roxinho a O Galpão, da Rondolândia a Rivauto, de Carlos Daltro a B. Cunha, do Poeirinha a Rádio Clube, de Anacleto Ciocari a Jones Pagno, de Rosalvo Aguiar a Hermenegildo Reis, de Clarice Vendrame a Adney Pimenta, de Márcia Mancuso a William Rodrigues Dias, de Manfried Zambardino a Jupia Oliveira Mestre, de João Ponce de Arruda a João Marinho Falcão  e de ontem aos dias de hoje.

Parabéns, Rondonópolis! Boa leitura!

 

Fotos:

1 – José Medeiros

2 a 5 – Ednilson Aguiar

6 – Capa do livro: Marco Antônio Raimundo – Marcão

7 – Instituto Memória do Poder Legislativo

8 – Diocese de Rondonópolis/Guiratinga

 

 

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