COP30 e os ecos da Eco-92 em Mato Grosso

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

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BR-158 em Posto da Mata antes da desintrusão

Os entendimentos das conferências do clima (COP), como a de Belém, vão bem além das famosas fotos de famílias. Mato Grosso conhece bem esta realidade e paga um alto preço por ela. Portanto, é bom que o Brasil fique atento para não ser vítima de sua omissão, como aconteceu na Eco-92 quando a indiferença, incompetência ou a soma de ambas resultaram na expulsão de mais de 1.500 família que há décadas ocupavam mansa e pacificamente uma área de 165 mil hectares, nos municípios de Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia e Bom Jesus do Araguaia, e que na região era conhecida como fazenda do Papa e tinha inclusive uma vila estruturada chamada Estrela do Araguaia, apelidada Posto da Mata.

Com a Eco-92 no Rio de Janeiro, em 1992, que teve a participação de 178 países, o Brasil queria mostrar ao mundo que não era o vilão ambiental cantando em prosa e verso pelos quatro cantos do planeta pelo movimento ambientalista internacional a serviço do capital americano e europeu. No clima de euforia que escondia a rendição nacional, a Agip, doou 165 mil hectares de parte da Gleba Suiá-Missu (a fazenda do Papa) ao governo brasileiro, para a criação da Terra Indígena Marãiwatsédé dos xavantes. O ministro da Justiça, Célio Borja, aceitou o presente e o resto é o que sabemos, o que temos.

Polícia lançou bombas sobre os trabalhadores 

Quando da doação da área ao Brasil, as autoridades mato-grossenses foram de incompetência sem tamanho, de desconcertante insensibilidade e de indiferença sem par. Somos um país (e Mato Grosso) em formação, e em 1992, muito mais ainda. Se as autoridades tivessem agido preventivamente, na Eco-92, quando a Agip anunciou o que faria, tal fato não teria ocorrido. Bastaria a argumentação de que a área era antropizada e ocupada por milhares de humildes brasileiros. Como acontece na relação atividade econômica-meio ambiente, bastaria a oferta de uma área maior, na mesma região, para que os xavantes (sem identificação com Marãiwatsédé) fossem aldeados em outro ponto.

A classe política mato-grossense é muito do venha a nós e não consegue representar o Estado e a população como deveria. Nisso resultou a desintrusão em 12 de dezembro de 2012, quando a soldadesca arrancou as famílias de seus lares, derrubou casas, estabelecimentos comerciais, escolas, posto de saúde e a Igreja de Nossa Senhora Aparecida. Os que foram expulsos receberam uma banana do Estado Brasileiro. Foram jogados numa área em Alto Boa Vista, ironicamente apelidada de Saara, por conta de sua aridez e falta d’água.

O que restou de Posto da Mata

No Estado onde o que mais sobra é terra, arrancaram milhares da terra.

Quem poderia ter articulado a negociação por Mato Grosso na Eco-92, não moveu uma palha sequer nesse sentido. Quem eram os representantes mato-grossenses:

Sites e blogs que não recebem recursos dos poderes e órgãos públicos aceitam colaboração financeira. Este blog, também, pelo PIX 13831054134 do editor Eduardo Gomes de Andrade

O governador era Jayme Campos; os senadores, Louremberg Nunes Rocha, Márcio Lacerda e Júlio Campos; os deputados federais, Jonas Pinheiro, João Teixeira, Wellington Fagundes, Tampinha, Augustinho Freitas, Wilmar Peres, Rodrigues Palma e Travassos.

Do grupo que poderia ter ao menos tentado defender Mato Grosso, três permanecem na vida pública: os senadores Jayme Campos e Wellington Fagundes, e o deputado estadual Júlio Campos.

À época, Wilson Santos era deputado estadual e novamente exerce aquele cargo. O conselheiro do TCE, Antônio Joaquim, também era deputado estadual.

Acumulando processos, Riva e Silval se encolheram

MEMÓRIA – Pouco antes da desintrusão, que foi fortemente defendida pelo então juiz federal Julier Sebastião da Silva, sugeri ao governador Silval Barbosa e ao presidente da Assembleia, José Riva, que num ato de resistência cívica pacífica, transferissem simbolicamente a capital de Mato Grosso para Posto da Mata, como forma de ganhar tempo para negociação, mas ambos mergulhados em escândalos de corrupção tiraram o corpo fora – Silval e Riva são réus confessos, pois em delações premiadas assumiram que desviaram milhões dos cofres públicos. Não seria recomendável para eles a resistência contra o Ministério Público Federal, que pedia a desintrusão.

Que Belém se traduza em avanços ambientais para o mundo, mas que não seja novo espinho na garganta de Mato Grosso como a Eco-92 pela fraqueza da classe política.

Foto 4 – Assembleia Legislativa

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