Abílio Brunini (PL) em estado de graça. Não somente ele, mas os prefeitos eleitos e reeleitos que tomaram posse no último dia primeiro em Mato Grosso (não levo para o plano nacional, para não perder minha regionalidade).
Tudo que o prefeito ou a prefeita faz vira manchete e, não raramente, com um textinho auxiliar.
Estamos no cio da mídia institucional municipal. É tempo do acasalamento do texto com o cofre da prefeitura e vice-versa (é preciso fazer as ressalvas tradicionais).
O imã que gruda jornalistas e prefeitos é muito forte, e sem ele, francamente, quase toda a Imprensa desaba, pois Mato Grosso não bota a mão no bolso, muito embora sempre cobre posicionamento jornalístico, mas o faz com prudente discrição sob anonimato que na americanização que avança sobre nós recebeu o name (olha o inglês aí) de off.
Longe do quase orgasmo contratual que se vislumbra, alguma voz na mídia precisa voltar o foco para Abílio, mas sem dourá-lo e desapegada, lembrá-lo que ele foi eleito prefeito de uma capital mergulhada em problemas administrativos e atolada em escândalos que ficaram como herança maldita do seu antecessor Emanuel Pinheiro (MDB).
Abílio no varejo superficial
Creio que Abílio ainda não teve tempo para conhecer as dependências da prefeitura que a população lhe entregou pelo voto em outubro. Mas, ainda assim, pela convicção de sua fala na campanha ele já deveria ter marcado presença com um ato de magnitude, como Cuiabá espera. As luzes sobre Abílio deixam claro que ele não botou o dedo na ferida na Saúde – nesse caso, literalmente. Não deu nome aos bois aos empresários que dominavam a prestação de serviços, execução de obras e fornecimento de insumos para o município – algumas dessas transações resultaram em grandes escândalos, como incontáveis operações policiais amparadas judicialmente nos mostraram.
Em Waterloo um oficial disse ao Duque de Wellington que Napoleão estava na sua alça de mira. A resposta: General não atira em general. Abílio precisa aprender essa lição, sem que a mesma o impeça de derrotar Emanuel Pinheiro nos tribunais, na revelação de seus desmandos, mas de modo natural, sem o famoso BL – banho de luz da TV.
Os 682.932 cuiabanos querem saneamento, pavimentação, regularização fundiária, iluminação pública, habitação; precisam da industrialização da cidade, pois hoje, em muitos lares há viúvas de maridos vivos – que trabalham no agronegócio, construção de estradas e de barragens em outros municípios. Cuiabá luta contra o tempo e não pode se dar ao luxo de ver seu prefeito discutindo falta de ralo no Mercado do Porto. Não; Abílio tem que agir no macro.
O modo intempestivo de Abílio em assuntos de superficialidade é semelhante ao de Jânio Quadros, o mato-grossense que ao assumir a Presidência madrugava nas feiras aferindo balanças e nos postos do Iapetec conferindo lista de presença de funcionários. O período de Jânio no poder foi curto e encerrado por uma renúncia para a qual ele não encontrou justificativa – pela tangente disse que forças ocultas o empurraram ao ato. Abílio não pode buscar inspiração no destemperado presidente que gostava de ser chamado de Homem da Vassoura.
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Cuiabá precisa de um prefeito que transmita confiança ao empresariado para conquistar investimentos que gerem emprego e renda. A capital mato-grossense espera que seu prefeito discuta em pé de igualdade com o ministério do presidente Lula da Silva. A cidade do presidente Eurico Gaspar Dutra e do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon quer alguém que fale por ela e não em nome de ideologia ou de apologia.
O tempo é generoso, cicatrizante. Tomara que no amanhã (amanhã mesmo, 6 de janeiro, o Dia de Reis) Abílio tenha o perfil que se espera do prefeito de Cuiabá. Que a pirotecnia de agora seja curta ou como se diz no linguajar popular: que seja a saideira de um tempo que Abílio não pode manter no exercício do cargo que um dia foi de Frederico Campos e José Meireles.
Quanto ao cio, precisamos de um milagre. De um lado e de outro da relação, em todos os níveis, prevalece o olfato. Que o leitor também cumpra seu papel no contexto. Afinal, ninguém é obrigado a ler as filigranas editoriais regiamente pagas, não para promover o Estado – em sua amplitude – mas quem o administra.
Feliz Dias de Reis, Abílio. Celebremos esta importante data do cristianismo com as tradições idiossincráticas, mas que essa folia não esteja em sua agenda ao longo do mandato, em respeito ao cenário no centro da América do Sul.