O adeus de Renato Gomes Nery, o diamante sem jaça de Santana dos Garimpeiros
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
Mato Grosso perdeu a lucidez de Renato Gomes Nery, o advogado poeta das letras, amante da boa música e da literatura, senhor de textos inigualáveis com os quais brindava Mato Grosso em postagens e publicações.
Renato levou para o túmulo sua têmpera moldada pelos exemplos familiares e seu convívio com o garimpo de diamante.
Por volta de 9 horas da sexta-feira, 5, Renato chegava ao seu escritório na avenida Fernando Corrêa da Costa, bairro Areão, em Cuiabá. Ao descer do carro foi friamente executado quase à queima-roupa por um pistoleiro que o seguiu de moto no trajeto ao seu local de trabalho. Ao menos sete tiros o atingiram. Caído na calçada, numa poça de sangue, foi levado às pressas pelo Samu para o Complexo Hospitalar de Cuiabá. Submetido a uma cirurgia que demorou seis horas para a retirada dos projéteis que o atingiram na cabeça e tórax, Renato resistiu numa UTI até às 5 horas do sábado, 6.
Renato fechou os olhos para sempre aos 72 anos. O delegado Bruno Abreu Magalhães preside o inquérito que apura o homicídio. A polícia recolheu capsulas de balas calibre 9 milímteros no local do crime.
Em nota o Tribunal de Justiça, a OAB e o deputado estadual Júlio Campos lamentaram seu adeus; o parlamentar disse num trecho da nota, “Bala mata o ser humano, mas nem todas as balas do mundo podem matar os exemplos que o Dr. Renato Gomes Nery nos transmitiu”; a Ordem decretou luto de três dias e criou uma comissão para acompanhar o inquérito na Polícia Civil.
Técnico em Estradas com diploma conferido pela Escola Técnica Federal em Cuiabá (agora IFMT), Renato era formado em Direito pela UFMT na turma de 1977. Assumiu a presidência da OAB/MT em 1989 e por duas vezes foi conselheiro federal da Ordem. Gostava de atuar no Direito Agrário.
Em 1952, Renato nasceu em Santana dos Garimpeiros, povoado banhado pelo rio Santana e que pertencia a Diamantino. O lugar fervilhava com o garimpo de diamante e a base de sua população era formada por nordestinos, que à época eram chamados de nortistas.
Em 1953, Santana dos Garimpeiros virou cidade e ganhou o nome de Nortelândia, em homenagem aos nortistas que na verda eram nordestinos. Renato cresceu entre garimpeiros observando o pai, baiano, Tibúrcio Gomes Portela, no corre-corre para atender a freguesia que recorria aos picolés e sorvetes de sua Sorveteria do Tibúrcio, para conseguir suportar o calorão e a poeira daquele recém-emancipada cidade garimpeira no Alto Rio Paraguai. Seo Tibúrcio era figura querida no lugar e a população o elegeu vereador.
Nortelândia era berço e uma das paixões de Renato, mas ficou pequena para ele, que encontrou novo ninho em Cuiabá. Chegou discreto, menino sonhador, pobre, sem influência social e distante dos meios políticos. Ocupou seu espaço. Dignificou a OAB e o exercício da advocacia; atuou também na área empresarial. Semeou exemplos. Foi um diamante sem jaça garimpado pela cidadania mato-grossense nas barrancas do rio Santana.
REVELAÇÃO – Recebi um telefonema de Renato. Queria prefaciar o terceiro livro da trilogia DNA do melhor lugar do mundo, de minha autoria. Disse a ele que seu pedido seria atendido, mas que não me sentia à altura de tamanha deferência. Entreguei a ele o boneco da obra, mas pedi que aguardasse, pois a publicação que estava prevista para maio deste ano seria retardada por conta do anúncio de lançamento de outra, no mesmo sentido, em Rondonópolis, pelo escritor Hermélio Silva.
Expliquei que meu material mesmo anunciado com bastante antecedência conflitaria na factualidade com o livro de Hermélio. Pedi paciência, para a poeira abaixar e, então disponibilizar ao leitor o desfecho de DNA do melhor lugar do mundo. Renato riu, fez um comentário elogioso e continuava a esperar quando sua vida foi ceifada.
Perdemos Renato. Minha obra terá duas páginas em branco como memorial ao prefácio que não foi escrito. O sopro de nossa existência são as páginas de vida que inconscientemente moldamos, mas nem sempre ele nos concede o tempo necessário para literalmente escrever tudo que gostaríamos.
Descanse em paz Dr. Renato Gomes Nery.
Um perda enorme
A morte antinatural do doutor Renato é uma indignidade que não pode ser tolerada pela sociedade. Exige-se que o Governo do Estado se manifeste o quanto antes apresentando os culpados – executor e mandantes – perante a Justiça. Perdemos um cidadão ímpar, um amigo, e como escritores e jornalistas, perdemos um companheiro de lidas literárias e de registro da história do nosso tempo. Justiça para Renato Nery!
Linda homenagem, querido Eduardo Gomes Andrade, muito triste isso. Que esse crime seja elucidado o mais rápido possível, e meus sentimentos aos familiares e amigos do Dr. Renato Gomes Nery.
Vera Araújo, professora ex-deputada estadual – Cuiabá – via Facebook
Parabéns pelo texto Brigadeiro
Evandro Carlos – Jornalista em Vila Rica – via grupo de WhatsApp Boamidia
Muito bom
Vereador Geralmino Neto – Barra do Garças – via grupo de WhatsApp Boamidia
Excleente texto
Hélcio Botelho, economista – Brasília e Cuiabá – via grupo de WhatsApp Boamidia
Maravilhoso o texto e a homenagem, há muito a ser explicado nesse crime, já não cabe debaixo do tapete tanta sujeira e conchavo.
Caro Amigo Eduardo Gomes Andrade, bela redação jornalística, mais belo é o gesto nobre revelado que no seu próximo livro irá conter duas páginas em branco, em homenagem ao Prefácio que o Dr. Renato Nery escreveria. Emocionante a grandeza desse gesto!
Jeferson Arruda – via Facebook – Cuiabá
Uma pessoa especial. Perda irreparável!