Série (X) – Em quem votar ou não votar – Roberto Dorner

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

Roberto Dorner (PL) de Sinop é o décimo pré-candidato a prefeito focalizado pela Série Em quem votar ou não votar, que aborda aleatoriamente os nomes que estão em pré-campanha para a Prefeitura de Cuiabá e dos municípios de Barra do Garças, Várzea Grande, Sinop, Rondonópolis e outras grandes cidades mato-grossenses.

A série começou com Beto Farias (PL), de Barra do Garças; e prosseguiu com Lúdio Cabral (PT) e Victorio Galli (DC), ambos de Cuiabá; Mariano Kolankiewicz (MDB), de Água Boa; Teti Augustin (PT) e Adilton Sachetti (Republicanos), ambos de Rondonópolis; Miltão PSOL), de Várzea Várzea; Vander Masson (União), de Tangará da Serra; e Eliene Liberato (PSB), de Cáceres.

ELERoberto Dorner é catarinense de do distrito de Porto de Santana, de Bom Retiro, na região metropolitana de Lages, na Serra Catarinense. Ainda pequeno mudou-se com a família para o Paraná, onde foi agricultor em Laranjeiras do Sul e Guarapuava.

Em 1979, Dorner trocou Guarapuava pela vila de Sinop, criada em 14 de setembro de 1974 pelo colonizador Ênio Pipino à margem da Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) na calha do rio Teles Pires na região conhecida como Nortão.

Sinop nunca parou de crescer. Com 200 mil habitantes é o quarto município mais populoso de Mato Grosso. Dorner era pobre e sonhador quando desembarcou no solo vermelho da então vila. Antes de mudar de endereço ele visitou a região e vislumbrou um filé que o faria um dos políticos mato-grossenses mais ricos: operação de balsas, pois praticamente não havia pontes para travessias dos médios e grandes rios. A primeira que botou em operação ligava as duas margens do Teles Pires na MT-220, que liga Sinop a Juara e cidades do percurso. Esse empreendimento tinha a participação de familiares. Da 220 Dorner avançou para outras regiões e para Rondônia, Amazonas e Pará. Seu nome ficou tão forte que ele foi eleito presidente do Sindicato dos Marítimos de Rondônia.

Sem pontes, balsas. Com o valor da terra praticamente simbólico, Dorner investiu na compra de glebas. As cidades brotavam do dia para a noite e o vaivém entre elas passava pelos cofres da empresa do dono das balsas. Porém, a galinha dos ovos de ouro começou a morrer no final dos anos 1990, com o programa de Perenização de Travessias implementado pelo então governador Dante de Oliveira. No entanto, quando a penosa fechou os olhos, Dorner era magnata dono de fazendas, de empreendimentos e de quatro emissoras de televisão e três de rádio.

Rico, Dorner abre mão do salário de prefeito e o doa à Associação de Pais e Amigos dos Autistas (AMA), entidade filantrópica em Sinop.

A doação foi prometida por Dorner quando da campanha eleitoral em 2020.

POLÍTICA – Dorner disputou três eleições e venceu somente uma.

Em 2010 Pedro Henry (PP) foi eleito deputado federal pela coligação “Mato Grosso Progressista” formada pelo PP, PRB, PTN, PRP, PHS e PTC. Filiado ao PP, Dorner era o primeiro suplente com 50.480 votos, e Neri Geller, o segundo, também pelo PP, com 45.196. Mesmo em inferioridade nas urnas, Neri reivindicava a cadeira argumentando que após a eleição Dorner trocou o PP pelo PSD de José Riva, o que consistiria em crime de infidelidade partidária. A disputa chegou ao STF; Dorner venceu, pois Neri recuou acatando uma articulação do então senador Blairo Maggi (PR). Com a articulação, Neri caiu para cima. Blairo costurou com a presidente Dilma Rousseff sua nomeação para a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), cargo que exerceu entre 2013 e 2014. Com a articulação, mesmo Dorner sendo um dos barões do agronegócio, sua linha de atuação parlamentar foi extremamente governista – Baronato à parte.

Em 2016 Dorner disputou a prefeitura de Sinop filiado ao PSD pela coligação “Sinop Pode Mais” formada por seu partido com o PSDB/PPS/DEM/PSDC/PEN e PSB concorrendo com dois adversários. Seu vice foi o vereador Fernando de Oliveira Lopes Assunção (PSDB). Sua chapa recebeu 20.593 votos (26,48%). Rosana Martinelli (PR) foi eleita com 23.981 votos.

A terceira disputa eleitoral aconteceu em 2020, quando Dorner elegeu-se para o mandato de prefeito que cumpre. Filiado ao Republicanos e pela coligação “Unidos por Sinop” formada por seu partido com o SD/Patriota/PSDB/PL/PMB e Cidadania, com o vice-prefeito Dalton Martini (Patriota) venceu a disputa com 32.114 votos (49,11%) concorrendo com cinco candidatos, sendo que o deputado federal Juarez Costa (MDB) foi o segundo colocado com 18.097 votos.

Dorner assumiu o mandato e nomeou Dalton secretário de Obras. Seis meses depois os dois eram inimigos fraternos e o prefeito exonerou o vice. Dorner afirma que Dalton não trabalhava; dando o troco Dalton diz que o prefeito não cumpriu com ele – só não se sabe que tipo de compromisso havia entre eles. Chateado, Dalton pegou o boné, nunca mais esteve na prefeitura, filiou-se ao PTB. Em 2022 candidatou-se a deputado federal e recebeu 17.270 votos – o PTB não conseguiu quociente para eleger deputado federal.

Costa Neto e Wellington prestigiaram a filiação de Dorner

CUÍCA RONCA – O sonho de Dorner era assinar ficha de filiação no partido do Mito Bolsonaro, mas tão bolsonarista quanto ele, Rosana Martinelli, segunda suplente do correligionário senador liberal Wellington Fagundes, era filiada ao PL. Para azedar o caso, Dalton correu para o Partido Liberal em outubro de 2023, num ato em Sinop com a presença do cacique nacional Valdemar Costa Neto e do cacique regional Wellington.

Congestionado com Rosana, Dalton e a empresária Mirtes Grotta, o PL precisava de afunilamento para chegar a outubro de 2024. Entrou em cena a cúpula política do poder em Mato Grosso. Wellington saiu do Senado por quatro meses para Rosana e em contrapartida ela deu adeus a 2024. Para Rosana ser senadora, Mauro Mendes mandou Mauro Carvalho (PRD), primeiro suplente, abrir mão da prevalência.

Restaram Dalton e Mirtes na sigla. Ambos descalços, estavam como penetras em baile de gala. Dalton correu para o Podemos, e Mirtes para o Novo. Assim, o PL botou uma balsa para Dorner atravessar rumo à reeleição. De balsa ele entende.

Yanai com Dorner

VICE – Dorner está sacramentado para a reeleição. Resta a definição de seu vice e o nome mais cotado é o do médico Jorge Yanai (PRD) que foi deputado estadual e senador. Yanai tem apoio de seu partido e, consequentemente, de Mauro Mendes, e de Wellington, do qual foi suplente no Senado.

Yanai é pioneiro em Sinop e o médico há mais tempo em atividade naquele município e no Nortão. Quando deputado foi autor do projeto de lei sancionado pelo governador em exercício Osvaldo Sobrinho, que resultou na criação da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), que tem um campus em Sinop. Yanai foi o primeiro senador brasileiro de origem japonesa. No campo social desenvolve várias ações na área de saúde em seu município e região.

ESCÂNDALO – Em outubro de 2023 a Polícia Civil desencadeou a Operação Cartão-Postal para desmantelar um esquema que naquele ano e no anterior teria causado um rombo de 87 milhões na Prefeitura de Sinop, por meio de esquemas na Secretaria de Saúde. A operação cumpriu 32 mandados de busca e apreensão em Sinop, Cuiabá, Várzea Grande e nos municípios paulistas de São Paulo, Praia Grande e São Vicente, e prendeu cinco supostos envolvidos.

O esquema passaria pela Organização Social (OSS) Instituto de Gestão de Políticas Públicas (IGGP), contratada emergencialmente e que controlava a UPA, as UBS’s e o pronto-atendimento 24 horas da Policlínica Menino Jesus. Por trás do IGGP estariam os empresários Célio Rodrigues e Hugo Florêncio de Castro, o primeiro ex-secretário de Saúde de Cuiabá e o outro advogado – ambos foram presos na Operação Cartão-Postal.

Em Sinop as buscas e apreensões foram cumpridas nas casas da secretária de Saúde, Daniela Galhardo, de uma burocrata subordinada de Daniela e do procurador do Município, Ivan Schneider. A Justiça pediu o afastamento de Daniela e Dorner cumpriu a recomendatória neste sentido, mas não sem antes dizer que botava a mão no fogo pela secretária.

Para Daniela, Dorner é velho gagá

Antes de deixar o cargo, Daniela chamou Dorner de velho gagá, num vídeo vazado de uma conversa dela com uma mulher. A secretária também debochou do salário de 14.730,93 que recebia no cargo.

Daniela caiu. Schneider permanece procurador.

A Operação Cartão-Postal também foi uma reação à morte da menina Manuele Tecchio, 3 anos, na UPA, poucos dias antes.

Como costuma acontecer, Cartão-Postal não teve desfecho judicial. Dorner comentou sobre a operação, mas de modo superficial. Pelos fatos que supostamente aconteceram na prefeitura, o prefeito deve falar com clareza, sem rodeio, apresentando documentação, por mais que seu nome não esteja associado ao episódio, mas pelo rito do cargo que tanto concede bônus quanto ônus.

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MÃOS À OBRA – Desde que Ênio Pipino e o ministro da Integração Rangel Reis cortaram a fita inaugural de Sinop, a cidade não parou de crescer. Mesmo assim, sob as bênção do saudoso padre João Salarini, é importante que ela seja administrada por alguém de visão – é o caso de Dorner. Mas, nem por isso ele pode permanecer calado sobre o estranho caso da servidora pela qual botava a mão no fogo e que o chamou de velho gagá.

PS – Continue lendo a série. A postagem dos nomes é aleatória e o texto não focaliza a vida pessoal dos citados.

Permitida a reprodução em sites, revistas, jornais e blogs, desde que na íntegra, mantido o título e informado o nome do jornalista que escreve a série e o endereço eletrônico completo do www.blogdoeduardogomes.com.br

Postado em 2 de julho de 2024