Vuolo, homem de extrema direita; e Lúdio Cabral exatamente o oposto de Vuolo: esquerdista. Más, os insondáveis labirintos da política os coloca no mesmo barco da história; o primeiro carrega o epíteto de Pai da Ferrovia, e o outro, passará a ser chamado de Pai da Embrapa de Cuiabá.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) por meio da Embrapa, planeja instalar uma unidade daquela empresa pública de pesquisa agronômica na capital mato-grossense. O ministro Carlos Fávaro é homem de visão política e articulou com o deputado estadual Lúdio Cabral (PT), para formalizar um pedido nesse sentido; a reivindicação do parlamentar seguramente lhe dará bom discurso político para seu sonho em ser prefeito de Cuiabá, numa caminhada que começa por sua pré-campanha em curso.
A assessoria de Lúdio disparou e-mails e mensagens revelando que o deputado cobrou a instalação de uma unidade da Embrapa de horticultura e fruticultura em Cuiabá, e que tanto Fávaro quanto a presidente da Embrapa Sílvia Massruhá sorriram de canto a canto da boca antes de dizerem “sim”.
O ano de 2024 é eleitoral e o governo federal petista não negaria fogo ao companheiro Lúdio. Ótimo para Cuiabá e melhor ainda para Mato Grosso que tem somente uma unidade da Embrapa, em Sinop, que foi construída pelo presidente Lula em seu primeiro mandato.
E Vuolo?
O senador Vicente Emílio Vuolo ganhou o título de Pai da Ferrovia. Com a Embrapa, Lúdio ganha analogia ao feito de Vuolo. Senão vejamos.
Os militares que assumiram o poder em 1964 queriam se cercar de políticos para dar cunho de legalidade ao governo. Dentre os generais havia um que era o guru político do generalato: o general de divisão Golbery do Couto e Silva. Chefe do Gabinete Civil dos presidentes Ernesto Geisel e João Figueiredo, Golbery cuidou da distensão política preparando o caminho para a redemocratização.
Golbery era hábil e valorizava os aliados políticos transferindo a eles muitos feitos do governo, e assim, a ditadura prosseguia com roupagem senão democrática, quando nada quase isso.
Em 1974 Vicente Vuolo foi eleito deputado federal pela Arena e Golbery jogou em seu colo um projeto de lei que poderia transformar sua carreira política. O mago dos generais mostrou a Vuolo que o projeto para a construção de uma ferrovia ligando o interior paulista a Cuiabá estava no Plano Nacional de Viação para 1976, ainda em elaboração. “Você apresenta um projeto de lei pedindo a ferrovia e seu lugar na história estará garantido”, teria dito em outras palavras. Aprovado, o projeto foi sancionado pelo presidente Ernesto Geisel em 6 de julho de 1976.
Golbery além de articulador político tinha o controle sobre a informação no Brasil. Foi dele a criação do Serviço Nacional de Informação (SNI). Por isso, sabia da demanda de Cuiabá pela ferrovia e que Vuolo era a voz política que mais ecoava clamando pelos trilhos.
A ferrovia pedida pelo projeto de Vuolo foi a mesma defendida décadas antes por Manoel Esperidião da Costa Marques, Euclydes da Cunha e Maria Dimpina Lobo Duarte. Os militares sabiam que a mesma teria importância estratégica para o escoamento de grãos ao porto de Santos e para o mercado nacional; o ministro da Agricultura era Alysson Paulinelli, o homem que revolucionou a agricultura no cerrado e que anteviu a transformação do vazio demográfico de Mato Grosso num dos principais pilares da política de segurança alimentar mundial.
RESUMO – O projeto do deputado federal Vuolo mexeu com Mato Grosso na medida em que o despertou para a importância da matriz de transporte ferroviário, e Vuolo soube trabalhá-lo muito bem. Diversas vezes fui à casa dos Vuolo entrevistar o Pai da Ferrovia e ele além da forte argumentação que era uma de suas marcas, ainda recebia os jornalistas com pão de queijo da hora e cafezinho quente.
A Embrapa que caiu no colo de Lúdio será um centro irradiador de pesquisa na região metropolitana de Cuiabá e suas adjacências, onde a ciência agronômica teima em não chegar, muito embora esteja capilarizada Mato Grosso afora.
Viva o trem e a pesquisa nas áreas da fruticultura e horticultura.