Esporte na veia

O autor

Jogador de bola, treinador e comentarista esportivo, Roberto de Jesus César, o Careca, passou boa parte de sua vida envolvido com o esporte, particularmente com o futebol. Vivendo em Cuiabá desde 1974 – ele veio de Campo Grande, onde jogava no Comercial – Careca guarda boas e divertidas lembranças dos tempos em que a boleirada jogava por amor à camisa e não por dinheiro…

 

De sua passagem pelo Palmeiras, o primeiro clube que defendeu em Cuiabá, recorda Careca que a dedicação dos jogadores aos clubes que defendiam era tanta que muitos chegavam até a recorrer a energéticos para aumentar a resistência física quando entrassem em campo.

Uma prova do amor dos jogadores pelo futebol: em 1974, o Palmeiras jogava justamente contra o Comercial, de Campo Grande, numa quarta¬-feira à noite no Dutrinha, quando Careca disputou uma bola pelo alto com o zagueiro Henrique Pereira e caiu de mau jeito sobre o ombro direito. Na hora o ortopedista e jogador do Comercial, Nestor Muzzi, constatou que Careca tinha sofrido uma luxação na clavícula e mandou que ele saísse de campo.

Mas Careca não quis nem saber: continuou jogando e acabou marcando o gol que deu a vitória ao alviverde, por 1×0. Depois do jogo, ele passou mais 48 horas só na farra, inclusive tomando escaldado e traçando cervejas no famoso restaurante da Madalena, na ZBM do bairro Ribeirão. Só na sexta-feira foi feita a imobilização da clavícula…

Atuando sempre no ataque e por isso acostumado a levar pancadas de zagueiros maldosos, Careca acha que muitas contusões que os jogadores aparentemente sofrem são mais psicológicas do que reais. Ou então são contusões simuladas pelos mais diversos motivos, quando o boleiro não está a fim de jogar.

Lembra Careca que em 1974, o Palmeiras tinha uma partida difícil contra o Mixto pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol. Na semana do jogo, o lateral direito palmeirense Erivélton sofreu uma contusão e depois de examinado teve sua escalação vetada pelo médico do clube.

Porém o massagista Tyresoles, que tinha esse apelido porque possuía uma borracharia onde os clientes podiam encontrar pneus recauchutados pela empresa baiana Tyresoles, sabia que o alviverde precisava de Erivélton e decidiu livrar o jogador da contusão.

Tyresoles pegou uma boa quantidade de maisena, misturou com cola tenaz e imobilizou o tornozelo de Erivélton com a massa e uma atadura. No domingo, o lateral direito foi escalado, contrariando a determinação do médico, jogou os 90 minutos numa boa, sem sentir nada…

PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino