Num ponto da região do Chapadão do Parecis onde as águas se dividem. Para o Norte, os rios amazônicos formadores do Tapajós. Rumo Sul despencam em cachoeiras os afluentes do rio Paraguai, formador da Bacia do Prata. A zona rural é grande e mais da metade pertence a índios. A cidade é polo universitário e de prestação de serviços, tem indústrias e um comércio de cair o queixo. A população cresce e com 105.711 habitantes ocupa o quinto lugar entre os 141 municípios mato-grossenses. Assim é Tangará da Serra, distante 230 quilômetros de Cuiabá por rodovia pavimentada e cercada por todos os lados pela cadeia do agronegócio.
O município é novo. Emancipou-se em 1976 pouco antes da divisão territorial de Mato Grosso para a criação de Mato Grosso do Sul, em 11 de outubro do ano seguinte.
O isolamento no ontem foi quebrado por uma malha rodoviária que abre caminhos a cidade em todas as direções.
O comércio é diversificado, atende à demanda local e a região. A cidade é referência em medicina e na prestação de serviços públicos. Universitários dão colorido especial às noites tangaraenses; são jovens da cidade e de outros lugares matriculados na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e nos cursos particulares.
A soma das atividades urbanas e rurais resultam numa renda per capita de R$ 30.506,85 e influenciam na formação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que numa escala de zero a um alcança 0,729.
No esporte Tangará rende homenagem ao gênio do futebol. O estádio local se chama Mané Garrincha, que era o apelido do endiabrado ponteiro direito das pernas tortas que vestiu a camisa 7 do Botafogo de Futebol e Regatas e da Seleção Brasileira.
Mané Garrincha foi o melhor jogador da Copa do Mundo de 1962. No entanto, a memória do corretor de imóveis Wanderley Martinez, que liderou a fundação da cidade em 23 de maio de 1959 não é reverenciada. Vítima de câncer, Martinez morreu há 14 anos em Curitiba e até agora nenhuma rua, praça, bairro e escola perpetua seu nome.
A cidade cresce num ritmo que atrai investidores, profissionais liberais, operários em busca de mercado de trabalho e enche de orgulho os moradores. Suntuosas residências pipocam por todos os lados, principalmente no Parque das Mansões. O pedreiro e filho de alemães Ernesto Christoph von Manteuffel, trocou Joaçaba, em Santa Catarina, por Tangará, há oito anos, e não se arrepende, ao contrário, adotou a cidade como sua. “Lá (Joaçaba) não encontrava serviço; aqui, não falta, o povo é bom, mas meus filhos demoraram pra se acostumar com o clima, que lá é frio e aqui é quente”.
A frota aumenta, mas o trânsito é exemplar e registra baixíssimo índice de acidentes. Tangará foi a primeira cidade de Mato Grosso a adotar faixa de pedestres nas travessias de ruas. Quem bota o pé no asfalto e sinaliza que quer cruzá-lo é respeitado: os carros param como se fosse coreografia de imaginário balé do respeito à vida.
A população se renova no dia a dia. Novos moradores chegam de todos os cantos em busca de um lugar ao sol apostando no amanhã.
As principais redes comerciais de Mato Grosso hastearam suas bandeiras em Tangará, também recheada de lojas de grife e que se dá ao luxo de ter um shopping.
A cidade é sisuda é seu turismo urbano é de negócios, mas quem busca a combinação de cartão-postal com natureza não precisa ir muito longe. Perto da área urbana o rio Sepotuba mantém em permanente cartaz um espetáculo de rara beleza com suas águas transparentes: o Salto das Nuvens, com infraestrutura turística.
‘Tangará da Seca’
Quando a estiagem é prolongada, como ora acontece, não há como evitar o caos. A saída sonhada pelo prefeito Fábio Junqueira (MDB) se chama Sepotuba – importante rio formador do Pantanal. Paralelamente a esse sonho, Tangará amarga distribuição seletiva, com a água sendo distribuída, mas não em todos os dias e horários.
Água em Tangará continuará cobertor curto, até que a prefeitura consiga captá-la no rio Sepotuba – o maior da região e no qual o rio Queima-Pé – que abastece a cidade – desagua. No ano passado, Junqueira, se reuniu com diretores da Caixa Econômica Federal correndo chapéu por financiamento da obra de captação e adução da água do Sepotuba. Preliminarmente a prefeitura tem um projeto (para solucionar o problema da água) elaborado pela BrDU Urbanismo, empresa presente em vários municípios e inclusive em Tangará, onde atua na área de loteamento urbano.
Um projeto para levar água do Sepotuba a Tangará exige, no mínimo, a construção de 25 quilômetros de adutora em terreno acidentado. Para se chegar à obra será necessário o cumprimento de um ritual ambiental e burocrático sem tamanho. Somem-se a isso a falta de recursos municipais para tanto. A prefeitura teria que recorrer aos governos federal e estadual, receber emendas parlamentares federais e estaduais, e buscar financiamento. Faltando menos de quatro meses para concluir seu segundo mandato consecutivo de prefeito, Junqueira não estará no poder para cortar a fita simbólica da obra, caso a mesma se viabilize – como ele espera, em nome da “segurança hídrica“. Em suma: ao invés de agir, o prefeito Junqueira apenas sonhou. Quem paga a conta é a população.
Superados os quesitos burocráticos e com recursos assegurados, a prefeitura terá que definir se passará a distribuir água exclusivamente do Sepotuba ou se a ela juntará o sistema do Queima-Pé e os poços artesianos. Também terá que prevê o crescimento da cidade, que indiferente a tudo, insiste em crescer.
REALIDADE – Enquanto sonha com chuvarada e o projeto de captação no Sepotuba, Junqueira trabalha com a frieza dos números. O Samae tem capacidade para tratar 340 litros por segundo ou 1.224.000 litros por hora ou ainda 24.480.000 litros em 20 horas de funcionamento diário, o que em média daria 237,6 litros per capita por habitante, sem considerar o consumo industrial, comercial e institucional. Porém diante da redução do volume de água represado, a quantidade tratada cai para 250 litros por segundo ou 18.000.000 diários, o que puxa a média per capita para baixo: 174, 7 litros. Esses números, arredondados, e imaginariamente apurados num sistema que não poderia falhar nem contar com vazamentos nas redes de distribuição – que atormentam todas as cidades brasileiras – que sempre alcançam a casa de dois dígitos.
CRISE – Em 2016 uma grande estiagem provocou racionamento de água na cidade e o nível do volume do sistema Queima-Pé ficou perto de zero. Desde então a prefeitura investe em reservatórios complementares, em terrenos rurais particulares, mas com outorga do município.
A capacidade máxima de armazenamento aumentou com os novos reservatórios, mas para alcançá-la será preciso que chova com intensidade na região. Antes que se alcance o teto, o nível varia de acordo com as questões climáticas. Não há número oficial sobre o máximo da capacidade dos lagos formados pelos reservatórios.
O nível dos reservatórios varia de acordo com a quantidade destinada ao tratamento na ETA, vazão, evaporação e as chuvas na região. Caso se confirmem as previsões do prolongamento da estiagem até meados de outubro, não restará muito aos consumidores, a não ser esperar por milagre para o sistema Queima-Pé resistir enquanto Junqueira sonha.
Memória de Tangará
Antes da implantação da vila de Tangará, a região onde mais tarde se transformaria na cidade de Tangará da Serra era um dos pontos perdidos na ligação de Cuiabá com as grandes agropecuárias que se instalavam às margens dos rios Cravari e Juruena. A fertilidade do solo vermelho e a perspectiva que o mesmo oferecia para a cafeicultura atraíam compradores para a região. Foi assim, que um grupo de corretores de imóveis liderados por Wanderley Martinez fundou a Sociedade Imobiliária Tupã para a Agricultura Ltda. (Sita), empresa que teve vários sócios em diferentes épocas.
Martinez e seu sócio Joaquim Oléas entenderam que se implantassem um projeto urbano que absorvesse os casebres, bar, bolicho e pouso de gado que existiam há cerca de 10 anos e que foram o embrião de Tangará, teriam mais lucro que nas transações de imóveis rurais. Até então, Martinez e Oléas se dedicavam a levar paulistas e paranaenses interessados em parcelas de terra na gleba que possuíam naquela região.
A Sita deu sequência organizada ao processo de colonização espontânea. Posteriormente, município e imobiliárias ampliaram a área urbana.
Em 23 de maio de 1959, Martinez e Oléas lançaram a vila de Tangará, nome escolhido pela então abundância do pássaro tangará ou uirapuru nas matas da região, sobretudo nas margens do rio Sepotuba.
O interesse que havia pela zona rural não se repetia em relação ao perímetro urbano. Esse quadro somente mudou a partir de 1967, quando centenas de famílias do Paraná, ali fixaram residências e, isso levou o governo a criar o distrito de Tangará, no município de Barra do Bugres, em 6 de janeiro de 1969.
INSTITUCIONAL – Os colonizadores Wanderey Martinez e Joaquim Oléas fundaram Tangará da Serra, no município de Barra do Bugres, em 23 de maio de 1959.
O Distrito de Tangará foi criado no município de Barra do Bugres, em 6 de janeiro de 1969, por uma lei do deputado Renê Barbour sancionada pelo governador Pedro Pedrossian.
O município se desmembrou de Barra do Bugres e Diamantino, em 13 de maio de 1976, por uma lei do deputado José Amando Barbosa sancionada pelo governador Garcia Neto.
Integrando a região
O empresário José Carlos Dias militou em São Paulo e Mato Grosso em muitas áreas da Comunicação. Nessa atuação encontrou Tangará e investiu numa emissora moderna de rádio para cobrir o vácuo da integração regional pelo rádio. Assim nasceu a BANDFM 92.1 Tangará da Serra, que funcionou em caráter experimental entre dezembro de 2012 e fevereiro de 2013.
A 92.1 tem alcance com som limpo e sem interferência num raio de 150 quilômetros de Tangará, com uma programação que mescla música de todos os gêneros e jornalismo em rede e local. “Sou agradecido ao povo tangaraense, que me acolheu bem e que interage com a emissora; essa mesma relação também se repete com autoridades e sinto-me cada vez mais motivado a defender as causas do município”, resume Dias.
Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1, 2, 3 e 4 – Lucenio Alberto Carvalho
5, 6 e 7 – Prefeitura de Tangará da Serra – Divulgação
8 – blogdoeduardogomes
A terra dos Maggi
Município que esbanja vitalidade econômica, Sapezal é um dos maiores polos mundiais da produção de commodities agrícolas. Sua renda per capita é R$ 103.551.66 e seus 26.688 habitantes residem numa cidade plana, limpa, com largas avenidas pavimentadas, boa rede escolar, serviços básicos de saúde, mas carente de saneamento. Isso resulta num IDH de 0,732.
No Chapadão do Parecis, perto de Rondônia e distante 510 quilômetros de Cuiabá por rodovia pavimentada via Tangará da Serra, Sapezal tem 13.624,266 km² A cidade é a referência para embarque de commodities agrícolas para o rodofluvial que se inicia com a BR-364 e se conclui com a Hidrovia do Madeira, em Porto Velho, por onde a Hermasa Navegação escoa seus carregamentos para Itacoatiara (AM) na foz do Madeira no Amazonas.
O aglomerado urbano de Sapezal foi criado pelo presidente do Grupo Amaggi, de Rondonópolis, empresário André Antônio Maggi, em 9 de junho de 1988, numa área de 364 hectares. André Maggi era dono de grandes fazendas de produção de algodão, soja, milho, milheto, sorgo, arroz e de sementes e forrageiras no Chapadão do Parecis – onde se situa Sapezal.
A planta da cidade é de autoria do arquiteto Adilton Domingos Sachetti e do engenheiro civil José Renato Fagundes. Adilton foi prefeito de Rondonópolis e deputado federal.
Ao decidir colonizar uma cidade naquela região, o empresário levou em conta o potencial do Chapadão, que tem 22 milhões de hectares no Noroeste de Mato Grosso, Rondônia e Amazonas, o que lhe confere o título de maior extensão contínua de terras agricultáveis do mundo.
André Maggi criou a estrutura urbana de Sapezal com largas e arborizadas avenidas e energia de origem hidráulica gerada pela pequena central hidrelétrica (PCH) Santa Lúcia I, no rio Juruena, em sua fazenda Tucunaré próxima ao perímetro urbano. Posteriormente, em 20 de dezembro de 1993, inaugurou outra PCH, a Santa Lúcia II, no mesmo rio, onde gera 4 MW.
O pioneiro André Maggi (PDT) foi candidato único a prefeito de Sapezal na primeira eleição municipal em 1996. Eleito, abriu mão do salário e fez acordo com o vice Aldir Schneider e com os vereadores para que nenhum deles recebesse dos cofres públicos para o exercício do cargo.
O prefeito André Maggi renunciou ao cargo de prefeito e em seu lugar assumiu o vice Aldir Schneider, que seria reeleito em 2000. Numa entrevista exclusiva a mim concedida, o pioneiro revelou a razão da renúncia. Disse que política tem muita sujeira e justificou a razão por deixar a prefeitura: certa vez se ausentou do município por cerca de um mês, para tratamento médico. Ao retornar encontrou o vice e os vereadores recebendo salário. Não gostou da quebra de compromisso, pois entende que todos (Schneider e os vereadores) deveriam cumprir o prometido por várias razões, sendo o empenho da palavra e o respeito a Sapezal as principais delas.
A produção agrícola de Sapezal é comemorada em maio, com a realização do Baile da Soja. Ainda em maio, a data consagrada à padroeira Nossa Senhora de Fátima, dia 13, é celebrada com uma grande festividade que se estende por dois dias, com quermesse e bingo.
Em setembro, no Centro de Tradições Gaúchas – CTG Chama da Tradição, a colônia do Rio Grande do Sul promove a Semana Farroupilha, com danças e músicas regionais, animados fandangos, campeonato de canastra, jogos de bolão. Em 19 de setembro, um desfile cívico comemora o aniversário da cidade, reunindo estudantes da rede de ensino.
O município tem grande frota de aviões agrícolas e aeronaves da aviação executiva, mas o aeroporto que o atende fica ao lado da cidade, na fazenda Tucunaré, do Grupo Amaggi – tem pista pavimentada e opera voos noturnos.
O município de Sapezal tem grande potencial para o ecoturismo. O Salto Utiariti, com 96 metros de queda e 84 metros de largura nos rios Papagaio e seu afluente Buritizinho, no limite com Campo Novo do Parecis, e, o Salto do Juruena, com 45 metros de queda e 112 metros de largura com uma ilhota ao meio, são dois lugares de rara beleza.
O nome Sapezal foi escolhido pelo colonizador André Maggi em alusão ao rio de idêntica denominação que banha o município e é afluente do Juruena. Sapé é uma espécie de gramínea nativa no cerrado do Centro-Oeste e de outras regiões. Sapezal significa grande quantidade dessa vegetação.
INSTITUCIONAL – Sapezal se emancipou de Campo Novo do Parecis em 19 de setembro de 1994 por uma lei do deputado Jaime Muraro sancionada pelo governdor Jayme Campos. ´É sede de comarca.
Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Prefeitura de Sapezal
2 e 3 – blogdoeduardogomes
Parabéns Tangará que bonita matéria
Ilca Romano