XAVANTE – Povo ameaçado pelo coronavírus e chamado de bando por senador

Uma noite sobre o amanhã Xavante

Além de ameaçados os xavantes foram chamados de bando, pelo senador Wellington Fagundes (PL)

Um povo ameaçado de extermínio pela pandemia do coronavírus. É assim que se encontra a etnia Xavante, com 22.300 indivíduos numa área fragmentada com 68.440 km² em 14 municípios no Vale do Araguaia. Com 21 mortes, 14 hospitalizados, 175 casos confirmados da doença e 32 recuperados os xavantes estão temerosos, segundo Lúcio Xavante, da aldeia Nossa Senhora de Guadalupe, na Terra Indígena São Marcos, em Barra do Garças, e secretário-executivo da  Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso. Além de enfrentar a ameaça do vírus, os aldeados ainda são chamados de bando, pelo senador Wellington Fagundes. Lúcio não aceita a pecha e exige respeito. 
Xavante, povo ameaçado pelo coronavírus

A doença se espalha entre os xavantes. A primeira morte foi a de um bebê de 8 meses, da Terra Indígena Marãiwatsédé em Bom Jesus do Araguaia. Com suspeita da doença, em 10 de maio ele foi encaminhado ao Hospital Regional de Água Boa, onde não há unidade de terapia intensiva (UTI) para paciente com coronavírus, e morreu no dia seguinte.

Depois desse caso a doença se espalhou pelas terras indígenas de diversas etnias e em todas as regiões de Mato Grosso, mas segundo Lúcio, o povo Xavante é o mais atingido.  A facilidade do contágio e a rapidez da propagação foram terríveis para os aldeados em São Marco,s distante 120 quilômetros de Barra do Garças, que é a referência urbana regional para os xavantes. Até recentemente era intenso o vaivém das aldeias para a cidade e vice-versa. Porém, as lideranças xavantes em parceria com a Funai montaram barreiras sanitárias nos acessos às suas áreas em São Marcos, Parabubure, Chão Pedro, Pimentel Barbosa, Areões e nas demais. O quê da questão é que antes desse controle de acesso não havia nenhum tipo de prevenção contra o coronavírus, com as comunidades mantendo suas tradições culturais e a forma de habitação – com muita proximidade entre todos.

Lúcio revela que nas aldeias há resistência de xavantes com sintomas de coronavírus em relação à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Barra do Garças, onde a doença é diagnosticada e tratada. “Eles (os aldeados) defendem que o governo tem que construir um hospital de campanha numa terra indígena;eu também“, salienta. O líder Xavante admite que o índice de alcoolismo entre seu povo seja grande. O chamado choque cultural entre aldeados e sociedade envolvente resulta na abrupta mudança de costume, que sempre deságua no consumo de bebidas alcóolicas, tabagismo, drogas ilícitas e até em suicídio. Esse desarranjo social e cultural é bem visível entre os bororos em Tadarimana, ao lado de Rondonópolis; entre os umutinas, ao lado de Barra do Bugres; entre os karajás nas cercanias de Luciara; e outros povos.

Os xavantes, segundo Lúcio, se esforçam na prevenção, mas as aldeias não oferecem condições para a permanente higienização das mãos, nem para o distanciamento social. Fica a torcida pela vida, pois os povos indígenas são muito vulnerárias a vírus e outras doenças. Enquanto liderança estadual, Lúcio espera que a União, o governo estadual e prefeituras de municípios com áreas indígenas, criem um cinturão sanitário e social para proteção dos aldeados. Além de defender a construção imediata de um hospital de campanha indígena, o suprimento da medicação diversificada nos postos de saúde nas aldeias, o fortalecimento das barreiras sanitárias no acessos às terras índigenas, ele pede que seja mantido fornecimento regular de cestas básicas, álcool gel e máscaras faciais, “pra impedir que a dizimação nos varra da face da Terra”.

Lúcio Xavane: “Bando não; somos povo

BANDO – O povo Xavante – ainda não literalmente – está em pé de guerra com o senador Wellington Fagundes. Num vídeo em que  Wellington  e o ministro Braga Neto (Casa Civil) falam sobre a pandemia nas terras indígenas, Wellington, no contexto de uma explicação, se refere aos xavantes chamando-os de bando. Essa qualificação magoou Lúcio.

Na quinta-feira, 2, numa videoconferência com integrantes da bancada federal e o prefeito de Barra do Garças, Beto Farias (MDB), Lúcio cobrou respeito ao seu povo e lamentou a frase do senador exigindo respeito: “Bando, não; somos povo e queremos ser respeitados”, desafabou.

Wellington não se pronunciou sobre o vídeo, que viralizou.

O líder, também, rebate a ministra Damares Alves (Mulher, da Família e dos Direitos Humanos), que em videoconferência com Wellington se referiu aos xavantes chamando-os de turma.

PS – O vídeo da conversa do senador Wellington com o ministro Braga Neto, onde ele se refere aos xavantes chamando-os de bando, está no ícone VÍDEOS, nesta página.

Redação blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 e 2 – Banavita   

3 – Facebook de Lúcio Xavante

a

manchete