Wellington pisa descalço em brasas.
Por isso, corre com um olho no gato e outro no rato.
O senador e presidente regional do PL, Wellington Fagundes tenta arrastar vereadores para seu partido, aproveitando a janela em vigor, e ao mesmo tempo defende a unificação das eleições para outubro de 2022, o que em outras palavras significa prorrogação dos mandatos municipais. À frente de uma legenda que não tem um vereador sequer em Rondonópolis, seu domicílio, e administra apenas uma das 15 grandes cidades mato-grossenses, que não ocupa cadeira à Assembleia Legislativa e que não tem deputado na bancada federal, Wellington tenta se desdobrar para não correr o risco de ser atropelado em 2022, último ano de seu mandato no Senado.
Político municipalista, bem relacionado e avesso ao radicalismo, Wellington não atravessa uma boa maré política, mesmo liderando o Bloco Vanguarda no Senado, ao qual pertence o DEM do presidente Davi Alcolumbre, e carregando na bagagem um currículo com ´seis mandatos consecutivos de deputado federal, o senador vê seu partido murchar enquanto cura as cicatrizes do fraco desempenho nas urnas, em 2018, quando numa ampla aliança, recebeu 280.055 votos e foi batido em primeiro turno pelo governador democrata Mauro Mendes. com 840.094 votos.
Até recentemente a situação política de Wellington era confortável. Em 2010 seu partido, então denominado PR, o reelegeu deputado federal; o senador Blairo Maggi; e o deputado federal Homero Pereira. Em 2014 ele se elegeu ao Senado e conquistou a maior bancada na Assembleia Legislativa, com cinco nomes: Wagner Ramos, Nininho, Emanuel Pinheiro, Mauro Savi e Sebastião Rezende; em 2013 Homero morreu; e em 2018, Blairo estava filiado ao PP e dos cinco parlamentares estaduais dois se reelegeram, mas por outros partidos: Nininho, pelo PSD, e Rezende, pelo PHS – detalhe que ambos são vizinhos de Wellington em Rondonópolis. Ramos se filiou ao PSD e não se reelegeu, Mauro Savi foi para o DEM e também perdeu. Emanuel se filiou ao MDB e conquistou a prefeitura de Cuiabá em 2016.
Recados de 2016
As eleições de 2016 deram duro recado a Wellington, a começar por Rondonópolis. Naquele município o PR (agora PL) não elegeu nenhum dos 21 vereadores. O partido lançou três nomes, e Ananias Filho, com 1.318 votos foi o mais votado. Ananias presidiu a Câmara e foi prefeito eleito em eleição indireta em 2012; é filho do ex-vereador Ananias Martins e assessora o senador. Os outros dois foram fiascos: Jorger Ferreira Corretor cravou 125 votos e Guiomar Rossoni – na cota das mulheres – não passou de 101 votos.
Na região de Rondonópolis Wellington ganhou a Prefeitura de São Pedro da Cipa, com o reeleito Alexandre Russi, que é irmão caçula a afilhado do deputado estadual e presidente regional do PSB, Max Russi. No município, Zé do Pátio (SD) faturou sem problema; em Guiratinga, Humberto Bolinha (PSDB); em Poxoréu, Nelson Paim (PDT); em Juscimeira, Moisés da Farmácia (PSDB); em Pedra Preta, Juvenal Brito, o Ná (MDB); e em Itiquira, Humberto Bortolini, o Betão (PSD), irmão do deputado Nininho.
Nos grandes municípios Wellington venceu apenas em Sinop, com Rosana Martinelli; Emanuel Pinheiro (MDB) se elegeu em Cuiabá; Lucimar Campos (DEM), em Várzea Grande; Zé do Pátio, em Rondonópolis; Fábio Junqueira (MDB), em Tangará da Serra; Francis Maris (PSDB), em Cáceres; Ari Lafin (PSDB), em Sorriso; Luiz Binotti (PSD), em Lucas do Rio Verde; Getúlio Viana (PSB), em Primavera do Leste – foi cassado e em eleição suplementar Leonardo Bortolin (MDB) faturou em pleito suplementar; em Barra do Garças, Beto Farias (MDB); em Alta Floresta, Asiel Bezerra (MDB); em Pontes e Lacerda, Alcindo Barcelos (PRB); em Campo Verde, Fábio Schroeter (PSB); em Juína, Altir Peruzzo (PT); e em Guarantã do Norte, Érico Stevan Gonçalves (PRB). Wellington não diz, mas Rosana não é certeza de continuidade em sua base municipal de apoio. Em Sinop o tucano Nilson Leitão disputará o Senado na eleição suplementar sem data definida em razão do coronavírus, e Rosana o apoiará por óbvia razão. A prefeita e Leitão teriam feito um acordo pelo casório eleitoral dos dois ao Senado, e a continuidade dessa união na eleição municipal, quando Rosana tentará a reeleição tendo em sua chapa, de vice, Renata Leitão, que é mulher de seu aliado.
Naquele ano, o PR elegeu prefeitos de 12 pequenos municípios: em Figueirópolis D’Oeste, Eduardo Flausino; em General Carneiro, Marcelo de Aquino; em Itanhangá, Edu Pascoski; em Luciara, Fausto Filho; em Poconé, Atail Amaral, o Tata; em Rosário Oeste, João Balbino; em Santo Antônio do Leste, Miguel Brunetta; em Terra Nova do Norte, Valter Khun; em Vila Rica, Abmael Borges; e em Ribeirão Cascalheira, Reynaldo Fonseca Diniz, que foi cassado por abuso de poder político e poder econômico – em pleito suplementar foi eleita a vereadora Luzia Brandão (SD).
Termômetro do prestígio
Wellington viu na eleição suplementar ao Senado, marcada então para 26 de abril, um termômetro para avaliar sua densidade eleitoral. Lançou a candidatura do presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), Neurilan Fraga. Com ele percorreu todas as regiões, Fez das tripas coração. Neurilan, no final do ano passado, deu a arrancada à sua pré-campanha amparado no padrinho senador e no apoio que 102 prefeitos lhe prometeram. O tempo passou, surgiram nomes pra disputa e Neurilan murchou, entrou em parafuso. No dia da convenção, 12 deste março, nem mesmo Neurilan apareceu no auditório da Fiemtec, em Cuiabá, para o ato convencional. Um silêncio cortante deixou os participantes sem entenderem o que acontecia. Nem mesmo o prefeito Edu Pascoski e o pré-candidato liberal a prefeito de Alta Floresta, Edinho Paiva, sabiam o que estava por trás do mistério. O presidente da União das Câmaras Municipais (UCMMAT), Edclay Coelho (PSD), aliado de primeira hora de Neurilan, não se sentia confortável no local.
Resumo: Neurilan encolheu. No dia seguinte alegou em coletiva que prefeitos estariam sofrendo pressão de congressistas para abandonarem sua candidatura, e que em razão de sua filiação ao PL, em tempo legal, porém no limite do prazo, poderia resultar em pedido de impugnação, o que numa campanha manga curta seria fatal. Enquanto Neurilan encolhia Wellington articulava com os pré-candidatos ao Senado Nilson Leitão (PSDB) e Júlio Campos (DEM), para indicar o segundo suplente de um deles. Prevaleceu o entendimento com Campos, e o senador botou seu assessor e ex-vereador por Rondonópolis, Zé Márcio Guedes, para segundo suplente; Zé Márcio foi chefe de gabinete do ex-governador Blairo Maggi, e secretário-adjunto no governo de Silval Barbosa.
O ano de 2020 não começou bem para Wellington. Mesmo assim ele lavrou um tento municipal: filiou Sirlei Theis, ex-PV, que foi sua companhaeira de chapa ao governo, Sirlei deverá se candidatar a vereadora por Cuiabá, onde o PL tem apenas um vereador entre os 25: Chico 2000.
Em política, como em tudo na vida, o amanhã sempre é um ponto de interrogação. Para Wellington, se não houver prorrogação dos mandatos, sua correria terá que ser grande, pois não haverá coligação para vereador e seu quadro de pré-candidatos a prefeito é reduzido – palanque de prefeito puxa voto pra vereador. Diante dessa realidade é bom tentar puxar votos em mão dupla: de prefeito para vereador e vice-versa. Se a prorrogação for aprovada, o senador será o queridinho dos donos do poder municipal, mas sem que isso se traduza em votos para ele, em razão das questões partidárias.
SOZINHO, NÃO – Jorge Yanai (Podemos) é o primeiro suplente de Wellington; Manoel Motta (PCdoB), o segundo. Ou seja, ele não tem correligionário na suplência. Sua nora Janaína Riva Fagundes recebeu a maior votação para a Assembleia Legislativa em 2018, quando se reelegeu ao cargo de deputada, mas é filiada ao MDB do cacique Carlos Bezerra.
Alguém poderia questionar: o senador é um político isolado? Uma resposta isenta seria mais ou menos essa: – Não. Ele é um importante político, líder reconhecido nessa condição, mas por algum motivo entre as quatro paredes no seu gabinete consegue a proeza eleitoral de caminhar numa direção enquanto a lógica partidária segue em sentido oposto. Quem pisa descalço em brasa tem mais é que correr mesmo.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
! – Assessoria do Senado
2 – Josi Pettengill – Site público do Governo de Mato Grosso em arquivo
3 – blogdoeduardogomes em arquivo
4 – Agência AMM em arquivo
5 – Facebook Sirlei Teis
6 – Marcos Lopes – Site público da Assembleia Legislativa em arquivo
Ótima matéria… realmente o senador… até então um grande articulador…está se tornando um lobo solitário
Gastão de Matos – bioquímico – via Facebook no grupo Pais, Filhos e Amigos de Rondonópolis
Gostei da matéria.. não foi tendenciosa .. admiro o SENADOR. que é também muito querido na região do ARAGUAIA. Em nossa região talvez fosse necessário..ser mais presente ou se fazer representar… Com mais vigor por liderança política mais populista… inclusive MULHERES…justo em um município que não tem representatividade FEMININA na câmara.
Geraldina Ribeiro – via Facebook, no grupo Pais, Filhos e Amigos de Rondonópolis
Mais um inútil na política.
Carlos Oliveira – via Facebook no grupo Pais, Filhos e Amigos de Rondonópolis