Sabe qual a diferença entre o governador democrata Mauro Mendes e seu afilhado político Carlos Fávaro (PSD)?
– Fávaro conseguiu cassar a senadora Selma Arruda (Podemos) e sua chapa.
– Mauro quer cassar todos os pré-candidatos ao Senado na eleição suplementar marcada para 26 de abril.
Fávaro entrou com uma ação contra a eleição de Selma Arruda, denunciando-a por abuso de poder econômico e caixa 2. Em 25 de julho do ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cassou a chapa da senadora, pelos crimes denunciados por Fávaro. Em 10 de dezembro o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve a cassação e determinou ao TRE que convocasse eleição suplementar observado o calenário elaborado no ano anterior, sobre esse tipo de pleito.
Terceiro colocado na votação ao Senado em 2018, quando Selma Arruda e Jayme Campos (DEM) foram eleitos, Fávaro reivindicou sua nomeação ao cargo de senador até a posse do eleito (ou eleita) em 26 de abril. Mauro Mendes também o apadrinhou nesse aspecto. O governador pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a nomeação do afilhado, alegando que Mato Grosso estaria sendo prejudicado por contar somente com dois senadores, o que feriria o princípio federativo da representação no Senado. Em 31 de janeiro num plantão forense, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli mandou que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM/AP) desse posse a Fávaro conforme requerido pelo próprio e seu padrinho. Alcolumbre se faz passar por bobo e empurra a ordem com a barriga.
Ainda querendo e muito que o afilhado seja senador, Mauro Mendes enviou na quarta´feira, 4, oficío administrativo do TRE pedindo o cancelamento da eleição em abril. O governador fundamenta que sua sugestão leva em conta a economicidade, pois a Justiça Eleitoral gastará R$ 8 milhões com o pleito e que seu governo terá despesa com policiamento e a utilização de escolas para votação; o fato de a senadora permanecer no cargo; e o governante também pondera que há risco para a população por conta do novo coronavírus; e que é voz corrente que a escolha do substituto ou substituta de Selma Arruda deveria acontecer em 4 de outubro, quando das eleições municipais.
INCOERÊNCIAS – Ao definir a cassação de Selma Arruda o TSE determinou que a despesa com a realização do pleito suplementar seja pago por ela.
Nem a madrinha de batismo de quem defende a ideia de que utilizar escola para votação gera despesa ao governo estadual, concorda com ele.
O emprego da Polícia Militar em votação tem que ser a custo zero fora da folha salarial normal da corporação. O que passar disso é prática quando nada imoral.
Quanto ao suposto clamor popular contrário à realização da votação, o Estado não pode se deixar atropelar por pensamento que fira o princípio constitucional e a democracia.
A fundamentação de Mauro Mendes no tocante ao novo coronavírus foi infeliz e inoportun. Senão vejamos: Mato Grosso não adota nenhum protocolo nem medida para suspender as aulas na rede pública por conta dessa doença. O Estado não elaborou nenhum plano para proteger profissionais de Saúde, população carcerária, pacientes em hospitais da rede pública, cidadãos da terceira idade, creches e outros grupos.
Não há nenhuma medida preventiva nem protocolo internacional adotados por Mato Grosso ao longo dos 983 quilômetros da fronteira do Estado com a Bolívia nos municípios de Poconé, Cáceres, Porto Esperidião, Vila Bela da Santíssima Trindade e Comodoro, onde é intenso o tráfego formiguinha nos dois sentidos – nessa extensão 730 quilômetros são em solo firme.
Mais: a economia mato-grossense tem perfil exportador, o que cria um fluxo intenso de cidadãos chineses, sul-coreanos, japoneses, iranianos (todos de países afetados pelo vírus) para os municípios do agronegócio, especialmente em frigoríficos, onde são observados aspectos sanitários e até princípios religiosos para o abate. O governo de Mauro Mendes sequer tem dados estatísticos superficiais sobre essa realidade.
O presidente do TRE, desembargador Gilberto Giraldelli, revelou que encaminhará a questão ao TSE.
Hábil, Mauro Mendes não citou seu afilhado no expediente ao TRE. Tudo que fez até agora se resume ao pedido ao STF pra que Fávaro tome posse no Senado até a eleição do substituto ou substituta de Selma Arruda, e que a eleição suplementar de 26 de abril seja transferida para 4 de outubro.
No túmulo o general Golbery do Couto e Silva, mago das manobras eleitorais no regime militar de 1964, bate palmas para a postura maquiavélica do padrinho.
Enquanto Mauro Mendes tenta implodir a eleição, partidos começam a definir as datas de suas convenções. Em Cuiabá, no dia 10, o PDT oficializará o nome do vice-governador Otaviano Pivetta; um dia depois, também na capital, o Democratas bate o martelo sobre o ex-governador e ex-senador Júlio Campos; no dia 12, na mesma cidade, o PL do senador Wellington Fagundes sacramenta o presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), Neurlan Fraga; em Sinop, no dia 12, o ex-deputado federal tucano Nilson Leitão recebe as bençãos do tucanato para concorrer ao Senado.
Redação blogdoeduardogomes
FOTO: Flicker de campanha de Mauro Mendes ao Governo em 2018