Basta! Chega de sujeira na Câmara de Cuiabá

Em números redondos a Câmara Municipal de Cuiabá custa anualmente ao contribuinte R$ 60 milhões ou R$ 5 milhões mensais ou ainda R$ 166.666 diariamente faça chuva ou sol. Por si somente essa montanha de dinheiro público a desqualifica moralmente. É inconcebível – embora haja fundamentação legal – que a manutenção de 25 vereadores cause um rombo tão grande nas finanças de uma cidade que não consegue universalizar o tratamento do esgoto, que tenha tamanho déficit habitacional, que seja permeada por uma malha urbana com centenas de quilômetros de ruas sem pavimentação, que tenha milhares de imóveis sem regularizção fundiária, onde a saúde seja caos e a rede escolar não passe de um conjunto de vergonhosos casebres. É nessa tricentenária capital que a base de sustentação do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) empurra o vereador Abílio Júnior (PSC) pra guilhotina da cassação.

Cassar vereador numa Câmara tão perdulária e submissa ao prefeito é algo que merece reflexão por parte do cuiabano.

A justificativa do pedido de cassação é quebra de decoro parlamentar. Qual decoro Abílio teria quebrado num Legislativo que caminha na contramão do decoro?

A Comissão de Ética e Decoro Parlamentar presidida por Toninho de Souza (PSD), relatada por Ricardo Saad (PSDB) e integrada por  Vinícius Hugueney (PP) elaborou e aprovou por unanimidade um relatório que pede a cassação de Abílio por quebra de decoro parlamentar. O rito orgânico da Câmara levará esse documento pra outra comissão, essa de Constituição e Justiça, e depois à votação aberta em plenário, onde a tropa de choque de Emanuel Pinheiro cassará Abílio.

Vergonhosa legislatura que não conhece o limite entre o ético e o aético. Cassarão Abílio por seu destempero ao fiscalizar a área de Saúde, onde havia suspeita de desvio de recursos públicos. O acusam de intempestivo, porque sua ousadia resultou no desencadeamento de uma operação policial que levou à cadeia o ex-secretário municipal de Saúde  Huark Douglas Correia e outros figurões.

Pobre vereador Ricardo Saad, que mesmo sendo médico não conseguiu enxergar no ato do colega Abílio o lado bom do destempero – aquele que tem forças pra estancar maracutaias e abalar poderosos.

Pobre vereador Ricardo Saad, que em nome de sua submissão ao prefeito Emanuel Pinheiro não deve mais mirar o espelho. Muito triste isso na vida de um homem  que sente na pele o peso da idade.

Pobre vereador Ricardo Saad que fez o Juramento de Hipócrates, mas não sabe (ou não quer) adaptá-lo aos crimes na área médica que resultam em prejuízo à Saúde Pública e consequentemente ao cidadão usuário do Sistema Único de Saúde (SUS). A roubalheira nas entranhas da estrutura pública de Saúde é a causa mortis dos que ficam privados de consultas, exames, medicamentos, cirurgias. Abílio, com todo seu destempero e desequilíbrio emocional tentou fazer pela Saúde o que seu colega Saad e seus pares na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar jogam no ralo em nome da submissão ao prefeito Emanuel Pinheiro.

A fúria situacionista contra Abílio pode ser comparada ao ataques das hienas, que devoram até mesmo leões. Somente uma forte reação popular poderia livrá-lo do cadafalso, mas, infelizmente, praticamente todas as  forças política, sindical e comunitária levam vantagem com empregos na prefeitura e na Câmara e isso as silencia.

Como disse o compositor, cantor e humorista  Gordurinha em seus versos sempre atuais, O pau que nasce torto não tem jeito morre torto /… O sistema corrupto e oportunista pariu o duodécimo que engorda os quadros de servidores apaniguados. O lumpesinato se junta e acontece a hienização da vítima, no caso Abílio.

Abílio à parte. Temos uma legislatura tão perdida quanto às últimas. Sejamos cidadãos. Em outubro façamos uma varredura na Câmara. Que nenhum se reeleja ou se eleja a outro cargo, e que na nova composição a mulher tenha forte presença, pois hoje a vereança é masculina.

No corredor da morte Abílio espera os disparos do pelotão de fuzilamento. Parece-me que o Caso Abílio está mais para a memória – memória trágica da Câmara – do que para a realidade. Que eles levem Abilío e que o eleitorado os leve em outubro. Que do voto renasça uma Câmara altiva, independente, que não se preste ao irresponsável ridículo do empreguismo. Que ao invés de engoliar R$ 60 milhoes anuais, reduza seu custeio para R$ 12 milhões. Que devolva R$ 48 milhões anuais ao município, com destinação específica – rubrica – para a construção de escolas. Ao final do ano de 2021 teríamos, no minimo, 12 novas unidades escolares ao invés de vermos essa dinheirama ser torrada por Suas Excelências os inúteis.

Emanuel Pinheiro no episódio Paletó que a Câmara teima em não ver

Que enquanto a justiça popular, pela força do voto, não profira sua sentença, a legislatura prossiga abafando a CPI do Paletó, que deveria apurar o óbvio sobre o grotesco episódio do então dpeutado estadual Emanuel Pinheiro recebendo maços de dinheiro de Sílvio Corrêa, à época chefe de gabinete do então governador Silval Barbosa. Em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal Silval revelou que Emanuel Pinheiro e os demais deputados filmados recebendo dinheiro embolsavam mensalinho.

Que o abafa do Paletó continue. Que ele se reforce com a estranha omissão e ausência do Ministério Público Estadual, que tanto abala o histórico daquela instituição. Que o abafa  seja mantido por parte do Ministério Público Federal, que estranhamente não passou a limpo o papel de Huark no doloroso esquema que tanto dano causou à Saúde Pública em Cuiabá.

Que nas urnas, diante de nossas consciências, em liberdade, possamos gritar: Basta! 

Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes

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