Nesta terça-feira, 10, o TSE retoma o julgamento do recurso da senadora Selma Arruda contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral pela degola de sua chapa partidária (registrada pelo PSL) que se completa com Beto Possamai e Clerie Fabiana. Esse julgamento começou na terça-feira, 3, quando o ministro Og Fernandes, relator da ação, apresentou relatório pela cassação e a realização de eleição suplementar. Os demais ministros não votaram, pois a sessão foi suspensa pela presidente do TSE, ministra Rosa Weber, em razão do adiantado da hora.
A cabeça de Selma Arruda é pedida pelo Ministério Público Federal (MPF); o advogado e escritor Sebastião Carlos, ex-candidato ao Senado pela REDE; e o candidato derrotado a senador Carlos Fávaro (PSD). Sebastião Carlos e Fávaro botaram o jamegão no pedido de cassação ora sendo apreciado pelo TSE. A senadora é acusada de abuso de poder econômico, de prática de caixa 2 e de gasto extemporâneo de campanha; ela nega as acusações.
A senadora foi eleita com 678.542 votos (24,65%) – maior votação em Mato Grosso para o cargo no pleito em 2018. Sua chapa se completou com o empresário rural em Sorriso, Beto Possamai, e Clerie Fabiana, que a assessorava quando juíza de Direito.
Beto Possamai é como se tornou conhecido Gilberto Eglair Possamai, um dos barões da soja em Mato Grosso e que segundo o MPF teria comprado sua suplência por meio de uma generosa doação para a campanha de Selma Arruda. Ao pedir o registro de sua candidatura Beto Possamai declarou patrimônio de R$ 44,3 milhôes à Justiça Eleitoral. Político, o suplente foi vereador por Sorriso, município onde é domiciliado.
Selma Rosane Santos Arruda é juíza de direito aposentada. Se destacou em Mato Grosso quando titular da 7ª Vara Criminal em Cuiabá, onde julgou e mandou para a cadeia coroadas cabeças políticas, condenadas por improbidade administrativa no Governo e Assembleia Legislativa. Sua eleição também foi facilitada por sua identidade com o então candidato a presidente e à época seu correligionário, Jair Bolsonaro. Quando na magistratura Selma Arruda era chamada de Moro de saias.
RESSARCIMENTO – Caso seja condenada, a chapa de Selma Arruda poderá ser responsabilizada pelo gasto com a eleição suplementar, estimado pela Justiça Eleitoral em R$ 11 milhões.
REALIDADE – A Justiça Eleitoral definirá se procedem ou não as acusações contra a senadora, Porém, em 2018, a campanha eleitoral em Mato Grosso foi caracterizada (tanto quanto nos pleitos anteriores) pelo uso generalizado da aviação executiva, sem que houvesse fiscalização para monitoramento do transporte aéreo de candidatos e assessores. Em diversas edições blogdoeduardogomes alertou sobre essa situação, e inclusive de susposta utilização de aviões fretados pelo governo para o transporte do então governador Pedro Taques (PSDB) para eventos das chamadas agendas casadas: atos oficiais e políticos no mesmo dia e cidade. Se os alertas tivessem sido ouvidos, possivelmente boa parte da bancada federal e da Assembleia Legislativa – quem sabe até o governador Mauro Mendes (DEM) – seriam alcançados por crimes de abuso de poder econômico e caixa 2, pois sem controle dos planos de voos era muito fácil decolar longe dos olhos da Justiça Eleitoral.
O passo a passo no Senado
Após a divisão territorial em 1977, que criou Mato Grosso do Sul, Mato Grosso teve uma eleição atípica ao Senado, um senador negro e outro de origem japonesa,; um renunciou; e dois irmãos e duas mulheres se elegeram para o cargo.
SENADO – Na eleição de 1978 haviam três vagas de senador a serem preenchidas por Mato Grosso, e nos demais estados, duas. Isso por conta da divisão territorial que deixou os mato-grossenses sem representação no Senado. À época, o regime militar determinou que um senador fosse biônico, e a escolha recaiu sobre Gastão Müller (Arena), para cumprir mandato de oito anos. Entre os dois que seriam eleitos, o mais votado seria senador por oito anos, e o menos, por quatro, para manter a tradição da renovação alternada entre um e dois senadores.
O mais votado foi Benedito Canellas, da Arena, e Vicente Vuolo, correligionário de Canellas recebeu a menor votação.
Valdon Varjão, suplente de Gastão Müller o substituiu pelo sistema de rodízio parlamentar e, com isso, Varjão se tornou o primeiro senador negro no Brasil.
Jonas Pinheiro era senador pelo DEM, quando morreu em 19 de fevereiro de 2008, no Hospital Amecor, em Cuiabá, onde tratava de complicações do diabetes. Jonas Pinheiro da Silva era veterinário, tinha 67 anos e cumpriu três mandatos consecutivos de deputado federal; Ao morrer exercia o segundo mandato consecutivo no Senado. Seu primeiro suplente e correligionário Gilberto Flávio Goellner o substituiu.
Goellner é empresário do agronegócio, dirigente ruralista e agrônomo; reside em Rondonópolis.
Goeller se licenciou e o segundo suplente Jorge Yanai ocupou sua cadeira tornando-se assim o primeiro senador brasileiro de origem japonesa.
Jorge Yoshiaki Yanai é empresário, pecuarista e médico em Sinop.
Em 2010 Pedro Taques (PDT) se elegeu senador. No final de 2014 renunciou para assumir o cargo de governador, para o qual foi eleito em outubro daquele ano, em primeiro turno. Sua cadeira foi ocupada pelo primeiro suplente José Medeiros (PPS), que ao longo do mandato trocou de partido.
Em 2018 Medeiros chegou à Câmara dos Deputados pelo Podemos.
Em família
Em família. Júlio Campos se elegeu senador em 1990. Em 2006 seu irmão Jayme Campos também se elegeu ao Senado e repetiu o feito em 2018. Ambos são filiados ao DEM desde suas origens na Arena e foram governadores. Jayme por três vezes foi prefeito de Várzea Grande, e Júlio, uma. Aquele município é administrado pela mulher de Jayme, Lucimar Campos (DEM).
Presença feminina
A primeira senadora foi Serys Slhessarenko (PT), que conquistou mandato em 2002. Selma Arruda, a segunda, cumpre seu primeiro ano no Senado.
Os senadores hoje
A representação mato-grossense no Senado é composta por Selma Arruda, Jayme Campos e Wellington Fagundes (PL).
Jorge Yanai (Podemos) que foi suplente de Jonas Pinheiro ocupa a primeira suplência de Wellington Fagundes; o segundo é o professor universitário aposentado Manoel Motta (PCdoB).
Fábio Garcia (DEM) e Cândida Farias (MDB) são os suplentes de Jayme Campos.
Fábio reside em Cuiabá, foi deputado federal na legislatura anterior e preside regionalmente seu partido; é neto do ex-governador Garcia Neto.
Cândida, reside em Barra do Garças, é pecuarista, viúva de Wilmar Peres de Farias, que foi governador, e mãe do prefeito de Barra do Garças, Beto Farias (MDB).
Adeus Mato Grosso
Roberto Campos se elegeu senador pelo PDS em 1982, mas antes do término do mandato transferiu o título para o Rio de Janeiro, onde conquistou dois mandatos consecutivos de deputado federal.
Roberto Campos foi um dos mais respeitados economistas em sua época, integrou a Academia Brasileira de Letras, publicou artigos nos principais jornais brasileiros e foi embaixador, Ocupou ministérios em diversos governos. Respeitosamente era chamado de Embaixador Roberto Campos, mas a oposição o apelidou Bob Fields, por considerá-lo entreguista a serviço dos Estados Unidos..
Cuiabano, Roberto de Oliveira Campos nasceu em 17 de abril de 1917 e morreu em 9 de outubro de 2001.
A eleição do Embaixador Roberto Campos foi um marco na distribuição de dinheiro para os chamados líderes políticos, cabos eleitorais e eleitores. Onde houvesse um opositor, uma verdadeira máquina partidária chegava e negociava apoio para ele.
Dois mandatos em um
Em 1994, Carlos Bezerra renunciou ao segundo mandato alternado de prefeito de Rondonópolis para concorrer e vencer a eleição ao Senado pelo PMDB. Seu vice-prefeito Rogério Salles assumiu o cargo. Quatro anos depois, na metade do mandato, Bezerra se lançou novamente ao Senado, num palanque que tinha o candidato ao governo Júlio Campos do atual Democratas – ambos foram esmagados nas urnas.
Antes do Senado o advogado e empresário Carlos Gomes Bezerra foi deputado estadual, deputado federal, prefeito de Rondonópolis e governador. Em 1990 disputou sem sucesso o cargo de senador. Em 2002 Bezerra tentou se reeleger senador, mas foi derrotado. Em 2006, 2010, 2014 e 2018 conquistou mandatos consecutivos de deputado federal.
Antes do primeiro mandato Bezerra foi filiado ao PTB. Depois, sempre militou no MDB, PMDB e MDB. Regionalmente preside seu partido desde tempos imemoriais.
Político, não; candidato, sim
Desde 1994, quando se elegeu primeiro suplente do senador Jonas Pinheiro, Blairo Maggi disputa eleição, muito embora teime em dizer: não sou político.
Governador eleito em 2002 e reeleito em 2006, sempre em primeiro turno. Campeão nas urnas em Mato Grosso, foi o primeiro – e único – político a superar um milhão de votos em um só pleito: em 2010 recebeu 1.073.039 votos para o Senado encabeçando uma chapa que se completava com Cidinho dos Santos e Rodrigues Palma, ambos então seus correligionários no PR (agora PL).
Cidinho o substituiu no Senado em algumas ocasiões, mas em 12 de maio de 2016, ao ser empossado ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do presidente Michel Temer, Blairo deixou o cargo ao suplente. Ao término do mandato, Cidinho se afastou pelo sistema de rodízio pra que Rodrigues Palma chegasse ao plenário. Para chegar ao Ministério Blairo se filiou ao PP, por razões de fatiamento partidário do governo.
Blairo Borges Maggi é paranaense, mas registrado como se tivesse nascido no Rio Grande do Sul. É um dos maiores empresários da cadeia do agronegócio mundial e agrônomo; reside em Cuiabá.
Senadores 1978 a 2018
Ano 1978
Gastão Müller (Arena), Benedito Canellas (Arena) e Vicente Vuolo (Arena)
Ano 1982
Roberto Campos (PDS)
Ano 1986
Márcio Lacerda (PMDB) e Lourembergue Ribeiro Nunes Rocha (PMDB)
Ano 1990
Júlio Campos (PFL)
Ano 1994
Jonas Pinheiro (PFL) e Carlos Bezerra (PMDB)
Ano 1998
Antero Paes de Barros (PSDB)
Ano 2002
Jonas Pinheiro (PFL) e Serys Slhessarenko (PT)
Ano 2006
Jayme Campos (PFL)
Ano 2010
Blairo Maggi (PR) e Pedro Taques (PDT)
Ano 2014
Wellington Fagundes (PR)
Ano 2018
Selma Arruda (PSL) e Jayme Campos (DEM)
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
ARTE: Marco Antônio Raimundo – Marcão
FOTOS:
1 – Instituto Memória do Poder Legislativo
2 – Fundação MT em arquivo
3 – Maurício Barbant em arquivo
4, 6 e 7 – Agência Senado
8 – Arquivo
9 – Agência Câmara em arquivo
10 – Facebook Blairo Maggi
11 – Jornal Oeste em arquivo
Matéria ao velho estilo do Brigadeiro. Informativa e de tirar o fôlego. Parabéns.
Elizângela Lima – Psicóloga – via Facebook – Cuiabá
Excelente a matéria
Sérgio Rubens – Delegado aposentado da Polícia Civil – via grupo de WhatsApp Boamidia – Cuiabá