Blairo Maggi, Júlio Campos e Cidinho dos Santos. Essa a chapa costurada entre quatro paredes para disputar o Senado caso a senadora Selma Arruda (Podemos) seja cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que retoma na terça-feira, 10, o julgamento de seu recurso contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral pela degola de sua chapa partidária (registrada pelo PSL) que se completa com Beto Possamai e Clerie Fabiana. O triunvirato candidatável nega que esteja em cena pela cadeira de Selma e quando muito admite que caso se confirme esse cenário, Cidinho deverá ser o nome para a disputa. Em política vale tudo – para os políticos – inclusive a tradição de se encomendar a missa de sétimo dia antes do fechamento do caixão. Claro que quem se lança candidato sempre acredita em vitória. Mas, Blairo, que já foi o novo e coleciona vitórias nas urnas teria chance após o surgimento do fator que muda e molda a opinião pública: as redes sociais?
Selma está no corredor da morte eleitoral, mas pode receber clemência, o que parece pouco provável. O relator de sua ação, ministro Og Fernandes, pediu sua cabeça num prato bem grande pra caber também as cabeças de Possamai e Fabiana. Mais, o magistrado pede a realização de eleição suplementar. A sessão começou na terça-feira, 3, mas a um passo da madrugada a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, a suspendeu e definiu sua retomada.
Nem o mais entusiasmado eleitor de Selma botaria a mão no fogo por seu mandato. A senadora, que recebeu 678.542 votos (24,65%) – maior votação em Mato Grosso para o cargo no pleito em 2018, tropeçou em laçadas armadas contra ela pela crônica conspiração que caracteriza a relação de candidato com marqueteiro e guru político. Sua chapa até poderá ser salva, desde que aconteça um milagre, o que não é comum no submundo da política.
Blairo, que nada tem a ver com o calvário da senadora, está de botas e esporas à espera do cavalo que desponta arreado na curva do calendário da eleição suplementar – que seria inédita para o cargo em Mato Grosso.
Um poço de mistério. Assim é Blairo, que não se abre sobre seu amanhã político, embora em meio aos seus afazeres empresariais dedique 25 horas por dia pra articular. Nessa dedicação, em novembro realizou um Estradeiro Saudosista, percorrendo regiões onde esteve quando governador à frente das chamadas expedições Estradeiro. Conversei com Altir Peruzzo (PT), prefeito de Juína, cidade que foi uma das referências do roteiro. Peruzzo sorrindo me disse que aquilo (o Estradeiro) é sinônimo de candidatura (ao Senado). Nos trajetos percorridos, Blairo conversou com Deus, mundo e Raimundo, sem insinuar candidatura, mas em algumas prosas lançou o nome de Cidinho, que não foi bem acolhido.
Seria leviano debitar ao Estradeiro Saudosista a aparentemente irreversível pré-candidatura de Blairo ao Senado caso Og Fernandes receba a cabeça de Selma num prato, como quer, tanto quanto o Ministério Público Eleitoral; o advogado e escritor Sebastião Carlos, ex-candidato ao Senado pela REDE; e o candidato derrotado a senador Carlos Fávaro (PSD). Sebastião Carlos e Fávaro botaram o jamegão no pedido de cassação ora sendo apreciado pelo TSE. Um grupo expressivo e suprapartidário quer Blairo de volta à política e o caminho mais curto e rápido seria por uma eleição suplementar.
Legitimidade eleitoral e política para encabeçar uma chapa ao Senado, Blairo tem. Em 1994 foi suplente do senador Jonas Pinheiro; governou por dois mandatos consecutivos (2003/10) sempre vencendo em primeiro turno; ´campeão nas urnas em Mato Grosso, foi o primeiro – e único – político a superar um milhão de votos em um só pleito: em 2010 recebeu 1.073.039 votos para o Senado encabeçando uma chapa que se completava com Cidinho dos Santos e Rodrigues Palma, ambos então seus correligionários no PR (agora PL). No governo do presidente Michel Temer foi ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Mais: conta com forte apoio suprapartidário, do agronegócio, do empresariado, de grandes caciques e de líderes políticos em pequenos municípios. Porem, as redes sociais – fator que muda e molda a opinião pública, estão em cena bombardeando a cabeça do eleitor.
Isso mesmo! As redes sociais podem mexer com a cabeça do eleitorado. Uma coisa é a comunicação tradicional, disciplinada, ordenada (e às vezes empenhada). Outra é a explosão das redes sociais.
Quem seria capaz de avaliar o tamanho do rombo que Blairo sofreria quando figuras sem rosto, sem CPF, sem endereço e sem profissão começarem a postar que ele liderou um governo formado por Silval Barbosa, Éder Moraes, Eumar Novack, Afonso Dalberto, Pente Fino, Geraldo de Vitto, Vilceu Marchetti, Arnaldo Alves, Waldir Teis, Pedro Elias, Ságuas Moraes, Pedro Nadaf, Yuri Bastos Jorge, Ezequiel Fonseca, Cidinho dos Santos, Vanice Marques, Dorgival Veras e outros?
Quem poderá prever o que aconteceria ao candidato Blairo quando as redes sociais bombarem maliciosas informações sobre sua suposta relação com uma das bandas podres da Assembleia Legislativa no passado, formada por José Riva, Sérgio Ricardo, Alencar Soares, Humberto Bosaipo, Wagner Ramos, Silval Barbosa, Daltinho, Chico Galindo, José Domingos Fraga, Chica Nunes, Gilmar Fabris, Guilherme Maluf, Mauro Savi, Walace Guimarães, Pedro Satélite, Eliene Lima, Sebastião Rezende, Airton Português, Ademir Brunetto, Dilceu Dal’Bosco e outros expoentes desse grupo?
Qual será a reação do cidadão quando o Facebook, WhatsApp e outras mídias sociais martelarem no rumoroso caso que virou ação judicial sobre a propalada compra que Blairo teria bancado, para entregar a cadeira de Alencar Soares no Tribunal de Contas do Estado, ao conselheiro ora afastado judicialmente Sérgio Ricardo?
E quando as redes sociais inundarem os computadores e celulares ressuscitando o vergonhoso caso do Programa MT 100% Equipado, que teria sido marcado por um milionário superfaturamento na compra de 705 equipamentos rodoviários pelo governo Blairo?
TRIUNVIRATO – As redes sociais poderiam jogar por terra o triunvirato inteligentemente costurado com Blairo (PP), Júlio (DEM) e Cidinho (PL). Politicamente forte, regionalmente quase – seria mais ainda com um nome do Vale do Araguaia – uma chapa assim teria fôlego se não fossem essas infernais redes sociais, que já tiram cartas das mangas por aqui: Ulysses Moraes (DC) chegou à Assembleia nas asas das postagens; Nelson Barbudo (PSL) é campeão de votos para deputado federal graças aos internautas que o seguem nas redes sociais; e antes dos dois, em São Félix do Araguaia, uma advogada nordestina ousada feito a peste – como se diz em sua terra – chamada Janailza Taveira (SD) mal desembarcou sua mudança naquela cidade botou os coronéis da política pra escanteio usando sua inteligência por meio de um simples celular – em 2016 ganhou a eleição e agora é a prefeita Janailza Taveira.
Politicamente Blairo teria ao seu lado os senadores Jayme Campos (DEM) e Wellington Fagundes (PL). Jayme é irmão de Júlio e daria quase a metade de seu reino pra que seu mano voltasse ao Senado (onde esteve entre 1991 e 98) e ainda mais sabendo que o titular inevitavelmente disputaria e venceria a corrida ao governo em 2022. Wellington, porque ganharia fôlego para tentar a reeleição num palanque com Blairo candidato a governador.
Que ninguém derrube a tese da dobradinha Blairo/Júlio alegando que o governador democrata Mauro Mendes não a engoliria. Somada as forças de Blairo e dos Campos, Mauro Mendes não seria páreo para eles e seria voto vencido até mesmo nas altas rodas de seu governo. Também levem em conta mais três fatores: O sim de Wellington Fagundes ; a articulação do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), que vive em pé de guerra com o governador; e o apoio do presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM), menos por razões políticas e mais por sua relação empresarial com o grupo que apoia o triunvirato.
Para arredondar sobre o triunvirato, Júlio voltou para Cuiabá após o Estradeiro Saudosista e o vi na avenida Historiador Rubens de Mendonça. Sorria sem poder conter o riso. Está feliz igual criança que ganha pirulito. Claro que não fala sobre o triunvirato, que até o momento certo jamais admitirá tal composição, mas seu caminhar reforça que o acordo foi firmado entre quatro paredes, já que até mesmo o barulho de suas passadas aponta para tal. Quando pisa, o pé direito faz um barulho semelhante a su, e o esquerdo, plência. E assim um dos maiores políticos de Mato Grosso em todos os tempos caminha ao som de su-plência, su-plência, su-plência…
E então?
Tudo iria muito bem politicamente se não fossem as redes sociais. Nenhum Blairo resistiria aos rótulos que seriam lançados sobre seu antigo secretariado e sua base de sustentação parlamentar.
Ainda sobre Blairo ressurgiria o refrão de sua candidatura ao governo em 2002: Tá na palma da mão / Tá na mão de quem sabe… Trazendo para a palma da mão em 2019 o bordão que sacudiu Mato Grosso há 16 anos não passa de um celular, por mais simples que seja, manuseado por alguém que não se interessa politicamente por Selma, nem pelo homem também chamado de Rei da Soja, que um dia esteve à frente de um reino povoado por figuras pouco recomendáveis e que começam a ressurgir das trevas.
RESUMO – Nas redes sociais o ontem cruzará com a trajetória para o amanhã.
Eduardo Gomes – Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 , 3 e 4 – Arquivo blogdoeduardogomes
2 – Valmir Faria – Dom Aquino