Não param. Integrantes das legislaturas da Assembleia Legislativa no período de 1995 a 2014 não conseguem ficar fora do noticiário policial.
Na terça-feira, 22, o ex-deputado Wilson Celso Teixeira, o Dentinho, foi preso pela Polícia Civil na Operação Quadro Negro, que apura um desvio estimado em R$ 10 milhões do extinto Centro de Processamento de Dados de Mato Grosso (Cepromat). Dos parlamentares nesse período de 20 anos, vários foram presos por supostos crimes no exercício do mandato e fora dele.
Durante esses 20 anos a Assembleia foi liderada por José Riva, que acumulou mandatos de presidente e de 1º secretário da mesa diretora. No período Riva foi filiado ao PMN, PSDB, PP e PSD.
Dentinho foi preso preventivamente pela Polícia Civil que cumpriu mandado de prisão preventiva contra ele decretado pela juíza Ana Cristina Silva Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá. Outros cinco também foram presos, com destaque para o empresário do ramo de factoring, Valdir Piran, e o ex-secretário-adjunto de Estado Francisvaldo Pereira de Assunção. Os demais são figuras da arraia-miúda.
A operação foi desencadeada em Cuiabá, Brasília e Luziânia (GO), pela Delegacia de Combate à Corrupção e Delegacia Fazendária, com apoio do Comitê Interestadual de Recuperação de Ativos (CIRA), Delegacia de Capturas, Polícia Interestadual de Brasília e Ministério Público Estadual (MPE).
O esquema teria sido um a mais no mar de escândalos em órgãos públicos no governo de Silval Barbosa (2010/14).
Dentinho presidia o Cepromat. Investigações apontam que a fraude foi praticada para levantar recursos por meio de uma beneficiada com a manobra, a empresa Avançar Tecnologia em Software, com os quais Silval quitaria uma dívida com Piran. Portanto, Piran e Dentinho seriam os principais operadores do mecanismo corrupto.
Piran permanecia preso em Brasília até o final da tarde desta terça-feira e a Polícia Civil não falou sobre sua transferência para Cuiabá.
Efeito dominó
Muitos são os parlamentares do período, envolvidos com a Justiça. Cumprindo mandatos foram presos José Riva (preso também após o término do mandato), Gilmar Fabris e Mauro Savi. Carlos Avalone foi preso pela Polícia Civil na Operação Pacenas, que investigou um escândalo em contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para obras de saneamento em Cuiabá e Várzea Grande. A prisão de Avallone acoteceu antes que ele se elegesse para a Assembleia. Os ex-presidentes da Assembleia Silval Barbosa e Moisés Feltrin (por posse ilegal de armas de fogo) – ambos ex-governadores – também foram levados para o cárcere.
Os ex-deputados Sérgio Ricardo, José Carlos Novelli e Antônio Joaquim (foi deputado federal) são conselheiros do Tribunal de Contas (TCE) e estão afastados judicialmente desde setembro de 2017, acusados de receberem propina de R$ 53 milhões juntamente com outros conselheiros, para não incomodarem o governo de Silval.
Alencar Soares e Humberto Bosaipo, ambos conselheiros aposentados, respondem a ações por improbidade administrativa.
A ex-deputada Luciane Bezerra se elegeu prefeita de Juara em 2016 e foi cassada pela Câmara Municipal, por improbidade administrativa. No mesmo ano, Emanuel Pinheiro (MDB) conquistou a Prefeitura de Cuiabá.
Emanuel Pinheiro responde a ação por suposto recebimento de mensalinho de Silval; o prefeito cuiabano aparece em um vídeo abarrotando o bolso do paletó com cédulas, a tal ponto que um maço caiu, o que lhe rendeu o apelido de Paletó.
Além do vídeo que resultou no apelido de Paletó, outros foram gravados por Sílvio Corrêa, então chefe de gabinete de Silval. Neles aparecem em situações semelhante, no mesmo cenário e com o mesmo personagem pagador – Sílvio – os ex-deputado José Domingos, Luciane Bezerra, Ezequiel Fonseca, Airton Português, Alexandre Cesar e Hermínio Barreto (falecido).
O prefeito de Rondonópolis, Zé Carlos do Pátio (SD), e o ex-prefeito daquele município, Percival Muniz; os ex-prefeitos de Colíder, Nilson Santos; de Várzea Grande, Wallace Guimarães; e de Itiquira, Nininho, respondem a ações por atos praticados em suas prefeituras.
A ex-deputada Chica Nunes acaba de ser condenada a 11 anos de prisão por improbidade administrativa na presidência da Câmara Municipal de Cuiabá.
Dentinho também presidiu a Câmara da capital.
Os deputados Dilmar Dal’Bosco (DEM), Romoaldo Júnior (MDB – ex-prefeito de Alta Floresta), Nininho (PSD – ex-prefeito de Itiquira), Carlos Avallone (PSDB) e Sebastião Rezende (PSC), e os ex-deputados Dilceu Dal’Bosco, Baiano Filho, Zeca Viana, Campos Neto (presidente do TCE), Guilherme Maluf (conselheiro do TCE), Pedro Satélite, Eliene Lima (foi deputado federal), Daltinho, Airton Português (foi prefeito de Araputanga), João Malheiros, Alexandre Cesar (procurador do Estado), Luiz Marinho, Walter Rabello (falecido), Zeca Viana, Teté Bezerra (foi deputada federal e primeira-dama de Mato Grosso), Luizinho Magalhães, Neldo Weirich, José Domingos Fraga (ex-prefeito de Sorriso), Carlos Azambuja, Chico Galindo (ex-prefeito de Cuiabá), Wagner Ramos, Zeca D’Ávila, Maksuês Leite, Alencar Soares (ex-TCE), Humberto Bosaipo (ex-TCE), Sérgio Ricardo (ex-TCE), Gilmar Fabris, Mauro Savi, Emanuel Pinheiro (prefeito de Cuiabá), Luciane Bezerra (ex-prefeita de Juara), Nataniel de Jesus, Juarez Costa (deputado federal/MDB e ex-prefeito de Sinop), Antônio Brito, Renê Barbour (falecido), Wallace Guimarães (ex-prefeito de Várzea Grande), Ezequiel Fonseca (foi prefeito de Reserva do Cabaçal e deputado federal), Silval Barbosa (na lista de Riva), Riva (na lista de Silval) e outros foram denunciados ou por Riva ou por Silval ou ainda por ambos, de receberem mensalinho.
Também daquele período, o deputado Wilson Santos (PSDB) responde a ação por suposto desvio de R$ 30 milhões no Detran, num suposto crime que teria a participação de outras autoridades, inclusive o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM), que no período de 1995 a 2014 não exerceu mandato.
Dos deputados citados na reportagem, somente Riva e Silval admitem terem praticado crimes. Silval assumiu sua mea culpa em delação premiada. Ambos foram condenados em primeira instância. O ex-governador cumpre pena em prisão no regime semiaberto, com medidas cautelares, na cidade de Matupá, da qual foi prefeito. Os demais deputados e ex-deputados juram inocência.
Alguns sofreram condenações em primeira instância, outros tiveram bens bloqueados, muitos figuram em listas de delação ou acusação, o Ministério Público investiga atuais e ex-deputados, e outros perderam o direito político – mas podem recorrer.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1, 3, 6 ,8 e 9 – Assembleia Legislativa – Divulgação
2 – Câmara Municipal de Cuiabá – Divulgação
4 e 10 – Sobre imagem da TV Globo
5 – Arquivo blogdoeduardogomes
7 – Prefeitura de Rondonópolis – Divulgação
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