Mais dois dedos de prosa… é o novo livro de Eduardo Gomes

Mais um livro. O jornalista Eduardo Gomes de Andrade termina a segunda parte da trilogia sobre políticos e outras figuras públicas mato-grossenses, que começou em 2015 com a publicação do livro Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir. A obra, com o título: Mais dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir, à exemplo da primeira, terá 50 capítulos.

Mais dois dedos… mescla humor com informações, denúncias e questionamentos.

Alguns de seus personagens são bem conhecidos – outros nem tanto, mas todos, com presença pública em Mato Grosso.

Até o momento 46 capítulos estão escritos. Alguns são inéditos, outros foram postados ou publicados pelo autor.

Em meados de novembro a obra se completa,

A primeira obra da trilogia

Em dezembro o conteúdo será revisado e os procedimentos legais serão adotados.

Em janeiro de 2020 o material segue para impressão gráfica.

No final de fevereiro, a circulação, mas sem lançamento.

A capa será do designer gráfico Edson Xavier.

O autor do prefácio pediu que seu nome fosse omitido – escreverá um artigo abordando a obra e sua apresentação.

A obra será na versão digital e a exemplo das demais, do autor, não terá apoio das leis de incentivos culturais.

Exemplares poderão ser adquiridos em vendas diretas e em algumas bancas de jornais na capital.

Na sequência, três capitulos de Mais dois dedos…

 

 

Padre, prefeito e torcedor

 

Antonino Cândido Paixão

São José do Povo  com Paixão. Esse o nome da coligação formada pelo PSDB, PFL, PL e PT que em 2000 elegeu o tuano Antonino Cândido da Paixão prefeito de São José do Povo – ao lado de Rondonópolis e do qual foi distrito. Vitorioso nas urnas, Antonino assumiu a prefeitura prometendo o máximo de sua capacidade em defesa do município, mas não abraçou a prefeitura como única atividade. Afinal, ele era padre e teria que dividir o tempo entre a administração e a evangelização.

Ao conquistar a prefeitura o padre Antonino conseguiu duas proezas: foi o primeiro sacerdote católico eleito em Mato Grosso após a divisão territorial que em 1977 criou Mato Grosso do Sul e derrotou Geraldo Eustáquio de Carvalho, o Geraldo da Reserva (PMDB), que tentava a reeleição apadrinhado pelo cacique Carlos Bezerra.

Jovem, culto, amante do teatro e apaixonado pelo Vasco da Gama, o sacerdote e prefeito passou a sofrer resistência por parte de vereadores. Desgostoso com o modelo político sequer tentou a reeleição em 2004. O bispo de Rondonópolis, Dom Osório Stoffel,  ao qual se reportava,  o proibiu de celebrar missa em seu município e autorizou que fizesse celebrações na Igreja São José Operário, em Vila Operária – um dos principais bairros rondonopolitanos.

Prefeito sem base de sustentação na Câmara. Sacerdote sem altar em sua cidade. Padre Antonino pegava a rodovia MT-270 e fazia o curto percurso entre São José do Povo a Rondonópolis, para suas celebrações. Na solidão da viagem, ao volante, com certeza acalentava o sonho de deixar tudo aquilo e voltar pra  Chapada dos Guimarães, sua terra. Mais tarde ele faria isso: saiu da política, aposentou a batina e assumiu sua condição de professor.

NO ALTAR – Manhã de domingo, igreja lotada, padre Antonino ao altar celebra missa. Na homilia, com sua fé e dom oratório, transporta trecho do Evangelho para a realidade do momento. A Igreja o ouve silenciosa. Naquele momento o político não está ali: somente o evangelizador. Ao término, na bênção final, despedindo-se do rebanho católico, ele não consegue evitar que seu lado torcedor fale mais alto. O aspecto partidário era fácil de ser descartado, mas com a paixão – aquela que carrega no sobrenome e dava rótulo  à sua coligação – nada podia ser feito e, ele, a todos os pulmões grita:

–  O Senhor esteja com Vaaaaaaaaaasco!

A igreja, contrita, responde:

– Aaaaaaaaaamém! 

 

Baú em céu de brigadeiro

 

Baú

Em 1973 o mineiro de Lagoa da Prata, José Antônio de Almeida era um jovem piloto em busca do pão de cada dia. Naquele ano, com seu Cessna 172, ele decolou em Paracatu, no seu Estado, com destino aos garimpos de ouro em Itaituba, no Pará, onde pretendia trabalhar. Na rota, pousou em São Félix do Araguaia para prosseguir no dia seguinte.

Em São Félix, pilotos desaconselharam José Antônio de tentar a sorte no Pará. Seu avião, de pequeno porte, não se encaixava no perfil das aeronaves que voavam garimpo. Pensativo, fechou a porta do quarto do hotel pra dormir, sem saber se decolaria ou se ficaria.

Ao clarear o dia o porteiro bateu na porta do quarto de José Antônio: “acorda ó do BAU. Tem um pessoal precisando voar”. Com seus botões ele pensou, “lugar bom pra se ganhar dinheiro”.

Os voos continuaram. Seu coração também bateu asas e o levou ao altar. Nunca mais saiu de São Félix, onde além de tudo que a vida lhe deu, ganhou o apelido do prefixo de seu Cessna, porque seus primeiros clientes não sabiam seu nome e o identificavam como sendo o homem do BAU, mais tarde apenas Baú.

Por duas vezes Baú foi prefeito da cidade lhe rendeu o apelido e onde o encontro das águas do rio das Mortes com o Araguaia resultou no surgimento da lendária Ilha do Bananal.

 

Apelido que virou marca política

 

Zé do Pátio

Com 24 anos e uma Maleta 007 recheada com diplomas universitários, mas desempregado. Era começo de 1983 e José Carlos Junqueira de Araújo procurava um rumo na vida. Chegou a pensar em articular um cargo na prefeitura de Ji-Paraná (RO), onde um rondonopolitano se destacava, mas desistiu por uma boa causa. Seu pai, o Miranda  (dentista Altamirando de Araújo Miranda) – sem trocadilho com a profissão – conseguiu uma boca para o filho, que acabava de desembarcar em Rondonópolis formado em engenharia civil, matemática e inglês. Além de ser oficial R/2, como ele faz questão de destacar.

Com o filho desempregado, Miranda bateu à porta do prefeito Carlos Bezerra (PMDB), seu amigo de longa data e que acabara de assumir o cargo. Pediu emprego para o menino. Foi pra casa feliz: você vai ser o chefe do Pátio de Máquinas da Prefeitura. Consegui com Bezerra – disse radiante.

A função do contratado era cuidar do pátio e atender os encaminhamentos do chefe Bezerra que ora os fazia por meio de bilhetes ora por telefone e até pessoalmente.

Bezerra estava de olho no Palácio Paiaguás (o conquistaria em 1986) e atendia a todos, indistintamente. Quando procurado pra patrolar rua, tirar entulho, resolver problema de vazamento de fossas nas vias públicas e outras demandas parecidas, ele não vacilava e apontava o endereço certo para a solução: vá ao Zé Carlos – dizia. O atendido não sabia de quem se tratava e Bezerra explicava quem era: é o Zé do Pátio. Vá nele, leva meu bilhete e pronto. 

Zé do Pátio pra um, pra dois, pra 10, pra 100 pra mil, pra milhares. Pronto! O José Carlos Junqueira de Araújo saiu de cena e entrou o Zé do Pátio.

Da função pra política não foi preciso nem um passo, porque ela estava nele e ele nela. Virou vereador eleito em três legislaturas consecutivas. Foi deputado estadual em quatro mandatos, mas interrompeu dois para ocupar o cargo de prefeito, para o qual foi eleito em 2008 e 2016. Também sofreu revezes disputando a prefeitura e até mesmo após ser eleito e empossado: em julho de 2012, faltando cinco meses para completar o mandato, foi cassado por crime de abuso de poder econômico na campanha – mandou fazer 500 camisetas temáticas a mais do que o permitido. Em 2014 foi eleito deputado pela quarta vez e após a posse a mesma Justiça Eleitoral que o condenou o absolveu.  Por enquanto, sua última proeza nas urnas foi vencer o pleito para prefeito em 2016, pela legenda do Solidariedade, depois de muitos anos filiado ao PMDB, que trocou a sigla para MDB.

Paranaense de Londrina, mas de família rondonopolitana, Zé do Pátio é professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses e de todos os anos ele está sob o crivo da Justiça por questões relacionadas à sua administração. Parece-me que o Ministério Público teima em judicializar o exercício de cargo eletivo.

Falante, sempre se expressando com rapidez e alto, sem ficar quieto um segundo sequer, Zé do Pátio é chamado por alguns – à distância – de Menino Maluquinho.

Pra agradar Altamirando, Bezerra deu emprego ao seu filho. Para facilitar sua identificação passou a chamá-lo Zé do Pátio. Conscientemente ou não um dos maiores caciques da história política mato-grossense deu a função certa e o apelido ideal para popularizar o apelidado. Assim, nasceu Zé do Pátio, que em 6 de fevereiro de 2019 entrou para a terceira idade carregando a responsabilidade de administrar o principal município do agronegócio brasileiro, Rondonópolis.

PS – Sou grato a Zé do Pátio, que em 5 de dezembro de 1997 enquanto vereador concedeu-me o honroso Título de Cidadão Rondonopolitano.

 

 

PSAs ilustrações dos textos são provisórias. No livro serão outras.

A foto de Antonio Cândido é de seu Facebook

A foto de Baú é arquivo blogdoeduardogomes

A foto de Zé do Pátio é de Marcos Lopes – Assembleia Legislativa de Mato Grosso

 

 

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Comentários (2)
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  • Leo Medeiros

    Que venha logo

    Léo Medeiros – Cuiabá – via Facebook

  • Lucy Ortiz

    Aguardo e quero ser a primeira leitora. Acompanho seus textos há muitos anos, desde uma reportagem que você fez sobre um disco voador que caiu em Nova Brasilândia.

    Lucy Ortiz – Cuiabá – via WhatsApp