Cenário político em Água Boa faltando um ano para as convenções

Imaginem uma cidade aconchegante que esbanje vitalidade. Mais: imaginem que em 2024 o trem cargueiro apitará por aquelas bandas. Continuem imaginando que seja um centro regional de prestação de serviços de saúde e que uma rodovia federal longitudinal pavimentada (BR-158) a atravesse. Depois de tudo, leve em conta que a mesma se localiza no centro geodésico do Brasil. Agora, não é mais preciso exercitar a mente para se saber que lugar é esse. Tá na cara que se trata de Água Boa, que por justiça deveria se chamar Água Muito Boa. Administrar um município assim exige preparo, habilidade política, sensibilidade e disposição pra trabalhar. Ainda faltando praticamente um ano para as convenções municipais que definirão os nomes que concorrerão à prefeitura, políticos costuram entendimentos e, todos, com cautela por conta da engessante legislação eleitoral e, também para não se exporem precocemente, levam a sucessão do prefeito Mauro Rosa da Silva, o Maurão (PSD) em banho-maria.

A cidade, as terras indígenas e a zona rural com suas fazendas e assentamentos da reforma agrária, seguem a rotina diária do trabalho. O Hospital Regional Paulo Jacob Thoma (Paulo Alemão) funciona enquanto referência do Sistema Único de Saúde (SUS), no Médio Araguaia. Na Penitenciária Regional Major PM Zuzi Alves da Silva a população carcerária facilita a visitação de parentes residentes naquele e nos municípios vizinhos. Justiça, Ministério Público, Funai, prefeitura, Câmara Municipal e os demais dentes da engrenagem pública cumprem suas atribuições. O aeroporto municipal com sua pista pavimentada e homologada para voos noturnos garante o fluxo do transporte aéreo regional e a aviação executiva. Os 25.229 água-boenses que se espalham pelos 7.510,635 k² do município sonham com o apito do trem da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), que ligará Água Boa a Mara Rosa (GO) fazendo conexão com a Ferrovia Norte-Sul. Em meio a tudo isso a classe política articula em busca de nomes para a alternância do poder.

Maurão é prefeito reeleito e carta fora do baralho nas urnas.

Quais seriam os nomes para a disputa? Política não é ciência exata e por isso nem sempre é regida pela lógica. Quem melhor a definiu foi o ex-cacique mineiro Magalhães Pinto, “Política é igual nuvem. Você olha, está de um jeito; tornar a olhar, mudou”. Filosofia à parte, os nomes mais lembrados, apresentados em ordem alfabética para não se criar falsa imagem de prevelância: Cesinha, Dr. Eugênio, Dr. Mariano, Maurício Tonhá e Rejane Garcia,

Cesinha é o vereador Luis César de Lara Pinto Filho, que preside a Câmara, cumpre o segundo mandato consecutivo e que foi reeleito pelo PR (agora PL) com 461 votos – para presidente foi candidato único e recebeu todos os votos.

Dr. Eugênio é o nome parlamentar do deputado estadual pelo PSB, José Eugênio de Paiva, que é médico anestesiologista.

O tucano Dr. Mariano é o cirurgião Mariano Kolankiewicz Filho, que em 2012 foi candidato a prefeito e recebeu 49,47% da votação (5.613 votos) e perdeu para Maurão por diferença irrisória. Em 2018 Dr. Mariano coordenou a candidatura do colega Dr. Eugênio.

O empresário Maurício Cardoso Tonhá é filiado ao PL. Cumpriu dois mandatos consecutivos de prefeito e em 2014 tentou junto ao seu partido, o PR (agora PL) o lançamento de seu nome ao governo, mas a cúpula partidária optou pelo apoio à chapa Lúdio Cabral (PT) para governador, e Teté Bezerra (PMDB, agora MDB) para vice. À época a legenda republicana era presidida pelo então deputado federal e agora senador Wellington Fagundes, e em sua composição, dentre outros nomes tinha Pedro Nadaf e Emanuel Pinheiro – agora prefeito de Cuiabá e mergulhado no tristemente famoso episódio do Paletó.

O projeto político de Tonhá foi sufocado. Coincidentemente ou não, Wellington, que presidia a sigla tem grau de parentesco com o ex-prefeito de Água Boa, mas os dois não navegam pelas mesmas águas políticas.

Rejane Schneider Garcia (PSDB) é vice-prefeita. Empresária, administradora de empresa e militante na prestação de serviços sociais, Rejane ~Garcia tem trânsito com a cúpula estadual tucana, que em 2018 a escolheu para uma das suplências ao Senado, na chapa encabeçada pelo então deputado federal Nilson Leitão.

Fora do páreo

 

Tonhá insiste em dizer que não disputará a eleição no próximo ano. Mesmo umbilicalmente ligado a Água Boa e com grandes investimentos no município, suas atividades o afastam do cotidiano da cidade. Oficialmente seu domicílio é água-boense, mas na verdade reside em Cuiabá, de onde comanda seu grupo empresarial Estância Bahia Leilões, que atua nos principais polos pecuários nacionais em vários estados.

Obstinado, quando colocou o nome ao governo, Tonhá foi convidado para disputar outros cargos, mas recusou. Mandato de prefeito ou deputado poderia prejudicar sua atividade empresarial, na área de leilões bovinos – foi ele o criador do maior leilão da pecuária mundial, o Megaleilão.

Mineiro e muito articulado politicamente, Dr. Eugênio é um poço de mistério: não fala nem deixa pistas. Mesmo assim, recentemente, numa conversa franca em seu gabinete, me disse que a Assembleia Legislativa oferece boas condições para o desempenho do mandato, e teceu considerações sobre o Vale do Araguaia, sua base eleitoral.

Único deputado estadual pelo Vale do Araguaia, Dr. Eugênio tem possibilidade de consolidar uma grande liderança regional que lhe assegure tranquila reeleição ou mandato parlamentar federal.

Mesmo sem se lançar candidato Dr. Eugênio terá importante peso na disputa da prefeitura. Sua opção natural seria seu colega e aliado Dr. Mariano. Os dois têm experiência em campanhas municipais. Em 2012 Dr. Mariano foi candidato a prefeito. Quatro anos depois, foi a vez de Dr. Eugênio, que recebeu 32% da votação no confronto com Maurão.

 

Tradição e espaço feminino

 

A Câmara de Água Boa é berço de políticos que se projetaram. A região aos poucos abre espaço político para a mulher. Nesse cenário despontam Cesinha e Rejane Garcia.

Quatro vereadores foram eleitos prefeitos: Luiz Elias Abdalla, Selso Lopes de Carvalho, Tonhá e Maurão; à exceção de Selso, todos em dois mandatos.

Dr. Eugênio, único deputado estadual na trajetória de Água Boa, também foi vereador.

A política mato-grossense é machista – no Vale do Araguaia não é diferente, mas esse cenário muda anos após ano. Rejane Garcia é vice-prefeita de um município em cuja região mulheres conquistaram prefeituras. 

A cada dia a bandeira do empoderamento feminino  ganha mais e mais adeptos. Esse cenário é favorável a Rejane Garcia, que soma a ele seu espaço conquistado junto ao povo do município.

Mesmo com pouco participação feminina na política, não seria inédito em Mato Grosso uma vice-prefeita se eleger prefeita em Água Boa. Foi exatamente isso o que aconteceu em Sinop – quarto município mato-grossense – onde em 2012 Rosana Martinelli  (PL) se elegeu vice-prefeita e quatro anos depois venceu a disputa para a prefeitura, que ora administra.

Em Ribeirão Cascalheira a presidente da Câmara, Luzia Brandão (SD), conquistou a prefeitura numa eleição suplementar.

Antes de Luzia Brandão, Patrícia Fernandes de Oliveira, a Patrícia Vilela foi prefeita e morreu num acidente rodoviário em Goiás, no dia 28 de março de 2013.

A advogada Janailza Taveira (SD) é prefeita de São Félix do Araguaia, município turístico do Vale do Araguaia.

Em Cocalinho, na divisa com Goiás, a prefeita é Dalva Peres (PSDB).

Em Luciara,  a vice-prefeita é Elizeth Nunes de Sousa, que foi eleita pelo PSD.

Railda de Fátima Alves foi vereadora e depois prefeita reeleita em Nova Nazaré, ex-distrito de Água Boa.

A professora e pecuarista Raquel Campos Coelho foi prefeita de São José do Xingu.

A advogada Noely Paciente da Luz foi prefeita de Luciara, cidade fundada por seu avô, Lúcio da Luz.

Em Canarana, Marilei Bier, a Nega, foi vice-prefeita em dois mandatos.

Irene Maria Rocha, a Irmã Irene, foi vice-prefeita de Alto Boa Vista.

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 – Karen Malagoli – Assembleia Legislativa

2, 5 e 6 – Arquivo blogdoeduardogomes

3 – Assessoria

4 – Álbum de família