ALTA FLORESTA 48 ANOS – Dr. Mário Nishikawa
Em 19 de maio Alta Floresta celebra 48 anos de fundação, pelo colonizador visionário Ariosto da Riva. A melhor forma de mostrar aquela grande cidade é focalizar sua gente. Na segunda edição do livro DNA do melhor lugar do mundo, que publiquei em outubro de 2023, tirei da oralidade e levei para a história registrada em literatura, o médico e pioneiro na mediciana naquela cidade, Dr. Mário Nishikawa. Outros personagens também são retratados na obra, e serão postados aqui, na sequência. Fica o convite à leitura no texto que se segue.
Dr. Mário Nishikawa
Médico, fundador e dono do Hospital Geral de Alta Floresta. Dr. Mário vivia intensamente a Medicina que abraçou enquanto cirurgião e voava nas asas da imaginação pelo avanço da logística de transporte em toda sua amplitude na região que adotou como sua nos primórdios da colonização da área onde um dia Ariosto da Riva lançou as sementes de Alta Floresta, Paranaita e Apiacás.
Em visita a Londrina, no Paraná, onde nasceu em 10 de setembro de 1941, Dr. Mário sentiu sintomas do coronavírus. Confirmado que contraiu a doença submeteu-se a tratamento e se recuperou, mas na sexta-feira, 25 de setembro de 2020, não resistiu às sequelas do vírus e aos 79 anos fechou os olhos para sempre, vítima de sequelas da covid.
Jovem, formado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná, no campus de Curitiba, e motivado e incentivado pelo colonizador Ariosto da Riva, Dr. Mário desembarcou naquela cidade em 1979 e dois anos depois inaugurou o Hospital Geral, que sempre foi a grande maternidade alta-florestense.
Em 1995, em minha casa, recebi um telefonema dele. À época eu morava em Rondonópolis. Ele estava em Cuiabá. Conversamos, peguei a estrada e fui encontrá-lo na nossa capital. Almoçamos. Voltei para arrumar a mala, pois uma semana depois ele embarcaria juntamente com um grupo de pesquisadores para uma viagem pelo Teles Pires e o Tapajós, de Paranaíta a Itaituba – onde começa a navegação no chamado Baixo Tapajós.
Dr. Mário queria mostrar a viabilidade da criação de uma rota fluvial ligando Mato Grosso ao Pará. Entre a navegação, as paradas para observação e a coleta de materiais e de informações com ribeirinhos, a viagem demorou seis dias. Ele, humilde, ajudava os dois cozinheiros – ambos disseram isso – mas não se desgrudava dos pesquisadores, se inteirando sobre tudo.
Até nosso encontro em Cuiabá o havia visto uma vez, um ano antes do nosso almoço. Foi em Alta Floresta, onde o entrevistei sobre o (quase) projeto da ligação de Rondônia com o Pará, por uma rodovia Leste-Oeste, cruzando Colniza, Juruena, Nova Monte Verde, Alta Floresta, Carlinda, Novo Mundo e Guarantã do Norte. Ele vibrava com a possibilidade, ainda que remota, da consolidação de uma rota terrestre unindo os três estados. Parte desse trajeto está pavimentado. Há projeto para sua conclusão. Ficou com meu telefone.
Quase um ano depois da entrevista em Alta Floresta veio o convite para o almoço e a revelação que ele faria uma viagem ao estilo da aventura do capitão Antônio Lourenço Teles Pires, só que contando com embarcações e equipamentos bem diferentes daqueles utilizados pelo oficial que morreu num naufrágio no rio São Manoel, o que levou o governo a trocar seu nome para rio Teles Pires.
De avião segui de Cuiabá para Brasília, Manaus e Santarém, onde fiz conexão com um taxi aéreo que tinha frequências diárias para Itaituba, o destino final da navegação. O recebi no cais. Dr. Mário queria ampla cobertura jornalística da viagem para mostrar a viabilidade da navegação no trecho percorrido e sua importância para a ligação de Mato Grosso com o Pará. Após entrevista-lo e conversar longamente com a tripulação e pesquisadores, retornei no mesmo avião para Santarém, onde, no dia seguinte, embarquei num voo da antiga Varig, para Cuiabá, com escalas em Manaus e Porto Velho. Ele retornou para Alta Floresta num carro que o esperava.
O conteúdo sobre essa viagem foi publicado (não confundam com postado) no jornal Diário de Cuiabá. Dr. Mário gostou da reportagem que ganhou manchete domingueira. Sempre que ia a Alta Floresta procurava visitá-lo. O via sonhador e com grande capacidade de armazenar e diversificar sonhos.
Pela defesa da criação de uma rota comercial fluvial de Mato Grosso a Itaituba e consequentemente a Santarém, Dr. Mário foi escolhido presidente da Comissão Pró-Hidrovia Teles Pires/Juruena/Tapajós da Família Rotária de Alta Floresta e em 1996 recebeu o Diploma de Amigo da Marinha, que lhe foi entregue pelo 6º Distrito Naval sediado em Ladário (MS).
Reconhecendo sua importância para o município, a Câmara de Alta Floresta denominou de Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Dr. Mário Nishikawa, a UPA localizada na Perimetral Deputado Federal Rogério Lúcio Soares da Silva.
Alta Floresta perdeu muito com o adeus de Dr. Mário. Mato Grosso, também. O homem passa. É o ciclo da vida, independentemente da causa de sua morte. Porém, seus sonhos ficam como legado de seu caminhar sobre a Terra e sua forma de pensar. Que surjam nomes capazes de levar adiante os sonhos bons do bom Dr. Mário Nishikawa, que agora é uma estrela no firmamento a indicar caminhos ao desenvolvimento de Alta Floresta, do Nortão e consequentemente de Mato Grosso.
Domo arigato!
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