Boa Midia

A sede da Assembleia e as coisas sombrias que ali acontecem

A sede da Assembleia, que recebe nova legislatura, é palco de coisas sombrias desde sua inauguração em 2005

 

Não. Esta não é uma matéria sobre a memória das sedes da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, embora tome a inauguração da atual, em 17 de agosto de 2005, por referência temporal. À época da inauguração o presidente era Silval Barbosa, e seu primeiro secretário, José Riva, que juntamente com o governador Blairo Maggi cortaram a fita simbólica da obra concluída. O Edíficio Governador Dante Martins de Oliveira, como foi batizado o novo endereço do Parlamento, recebe nova legislatura em primeiro de fevereiro.

Silval e Riva davam as cartas em 2005
Silval e Riva davam as cartas em 2005

Observem alguns nomes dos deputados que a integravam à época de sua mudança para aquele endereço e cheguem ao mandato dos atuais parlamentares a um passo do adeus ou de nova posse, eleitos que foram pelo povo – o mesmo povo que costuma criticar políticos, mas sempre lhes acena positivamente nas urnas.

A mesa diretora em 2005 era presidida por Silval e secretariada por Riva. Os dois ordenavam despesas e davam as cartas na Assembleia, com forte inluência no governo. Ambos estiveram presos (Riva várias vezes) e sofreram condenações em primeira instância, por improbidade administrativa.

Sérgio Ricardo estava lá
Sérgio Ricardo estava lá

À época, Humberto Bosaipo, Sérgio Ricardo, Alencar Soares e Campos Neto eram deputados. Depois todos foram nomeados conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Bosaipo responde a processos por improbidade administrativa e, por isso, pediu aposentadoria precoce no TCE, para que suas ações voltassem à primeira instância e, assim, ele ganhasse fôlego na tramitação das mesmas, uma vez que na função de conselheiro teria foro privilegiado, o que reduziria o curso da tramitação.

Sérgio Ricardo está afastado judicialmente do TCE desde setembro de 2017, acusado juntamente com outros quatro conselheiros; os cinco foram delatados por Silval, que os acusa de terem recebido R$ 53 milhões em propina para não atrapalharem seus esquemas de corrupção.  Valter Albano, Waldir Teiss, Antônio Joaquim e José Carlos Novelli são os demais.

Satélite estava lá e agora sai
Satélite estava lá e agora sai

Alencar Soares é denunciado pelo Ministério Público, porque supostamente teria vendido sua vaga no TCE a Sérgio Ricardo.

Riva denunciou à então  juíza Selma Rosane de Arruda, da sétima Vara Criminal de Cuiabá, que teria pago mensalinho a um grupo de deputados estaduais. Dentre os nomes, Campos Neto, ora presidente do TCE.

ONTEM E HOJE – Dos deputados cujos mandatos terminaram em 31 de janeiro deste ano, Sebastião Rezende (PSC) e Pedro Satélite (PSD) compunham a legislatura quando da inauguração da nova sede. Rezende se reelegeu em outubro do ano passado. Satélite não conseguiu a reeleição, Ambos figuram na lista dos supostos mensaleiros denunciados por Riva e numa lista de deputados delatados por Silval enquanto mensaleiros.

Valdir Barranco consola José Domingos, que deixa a Assembleia
Valdir Barranco consola José Domingos, que deixa a Assembleia

HOJE – Da legislatura que terminou em 31 de janeiro deste 2018, teriam recebido mensalinho de Silval: Wagner Ramos, Romoaldo Júnior, Nininho (reeleito), Guilherme Maluf (reeleito), José Domingos, Pedro Satélite, Sebastião Rezende (reeleito), Dilmar Dal’Bosco (reeleito), Baiano Filho, Mauro Savi e Gilmar Fabris. Da mesma também faz parte o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), que deixou a Assembleia em 2016 ao vencer a disputa pela prefeitura da capital.

ONTEM – Da legislatura de 2005 também faziam parte:

Chico Daltro, que foi vice-governador de Silval, cujo governo é considerado o mais corrupto de todos os tempos.

Eliene Lima, que responde a ações judiciais.

José Carlos de Freitas, que em  2005 promoveu a Feira Industrial e Comercial de Várzea Grande (Feicovag), quando a arquibancada da arena de rodeio desabou deixando mais de 400 feridos – o evento não tinha alvará dos Bombeiros, porque o deputado teria ‘carteirado‘ autoridades para que pudesse realizar o evento sem fiscalização. À época da inauguração José Carlos era terceiro secretário da mesa diretora.

João Malheiros era o segundo vice-presidente da mesa diretora em 2005. Em 2012 Malheiros foi eleito vice-prefeito de Cuiabá, mas renunciou ao cargo para continuar cumprindo mandato de deputado estadual (foi reeleito em 2006 e 2010). Nos bastidores comenta-se que ele teria apresentado uma exigência nada republicana para trocar o cargo de deputado pelo de vice.

Zé Carlos do Pátio, agora prefeito de Rondonópolis, era deputado. Zé Carlos responde a ações inclusive por improbidade; em 2012, quando exercia mandato anterior de prefeito de Rondonópolis, foi cassado por abuso de poder econômico na campanha eleitoral. Sua então vice era a tucana Marília Salles, que sofreu a mesma punição.

Zeca D’Ávila era primeiro vice-presidente e figura na lista dos mensaleiros de Riva.

NO ALÉM Jota Barreto era deputado em 2005. Foi incluído na lista de Silval. Barreto morreu em acidente rodoviário. Walter Rabello não era deputado quando da inauguração da nova sede da Assembleia, mas foi eleito em 2014 para a legislatura em curso e está nas duas listas; Rabello morreu após sua diplomação e antes de ser empossado.

PRISÕES – No curso da legislatura de 2015/18 foram presos os deputados Gilmar Fabris e Mauro Savi.

Fabris é acusado de obstrução de justiça.

Savi foi preso na legislatura em curso e que chega ao fim
Savi foi preso na legislatura em curso e que chega ao fim

Savi é apontado enquanto chefe de uma organização criminosa que teria lesado o Detran em mais de R$ 30 milhões – dessa organização também fariam parte, segundo o Ministério Público – os deputados Eduardo Botelho (presidente da Assembleia), Mauro Savi, José Domingos, Wilson Santos, Baiano Filho, Nininho e Romoaldo Júnior. Além deles, também teria participado do esquema: Silval; o ex-deputado federal Pedro Henry, o ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o Doia; o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques (primo do ex-governador Pedro Taques); o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Corrêa; e figuras da arraia-miúda.

Todos os acusados, à exceção de Silval e Riva negam as acusações.

Silval, por ser delator, assume a mea culpa.

Riva assume algumas acusações e rechaça outras.

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTOS: Secretaria de Comunicação Social da Assembleia Legislativa

 

 

 

 

 

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies