A pecuária ocupa um papel central no abastecimento mundial de alimentos e na economia global, mas ainda é um setor frequentemente subestimado em sua importância estratégica. O recente debate realizado durante palestra virtual promovida pela FEDEGAN (Federação Colombiana dos Pecuaristas, ou “Ganaderos” em espanhol) em parceria com Almagán e Saenz Fety destacou as diferentes realidades de Brasil e Colômbia, apontando caminhos para o fortalecimento da atividade em ambos os países.
A Colômbia, internacionalmente reconhecida pela produção de café e rosas, busca ampliar sua presença no mercado pecuário. O país conta atualmente com cerca de 29,5 milhões de cabeças de gado distribuídas em 620 mil propriedades rurais, o que corresponde por 6% do PIB agropecuário. Apesar da relevância dos números, o desfrute do rebanho é de 40% do brasileiro, em torno de 25 mil toneladas equivalente carcaça (TEC) por milhão de cabeças, ao passo que o nosso é de 60 mil TEC/ milhão de cabeças. Esse quadro evidencia o vasto espaço para crescimento por meio da adoção de tecnologias em genética, manejo de pastagens, suplementação e saúde animal.
No Brasil, a realidade é distinta. Com um rebanho de quase 194 milhões de cabeças, o país figura como o segundo maior produtor mundial de carne bovina, somando 11,8 milhões de toneladas em 2024, próximo de ultrapassar a produção estadunidense, de 12,3 milhões de toneladas. A pecuária de corte, segundo o Beef Report 2024 (ABIEC) representa 8% do PIB total e sustenta uma cadeia complexa, com atividades antes e além da porteira. Para cada R$ 1,00 de venda realizada pelos pecuaristas aos frigoríficos, R$ 4,00 estão nos outros elo como insumos, logística e distribuição. O tamanho da Pecuária de Corte no Brasil é equivalente ao do setor de Turismo, todavia há um Ministério do Turismo e raramente a pecuária é tratada com igual importância estratégica.
Nas próximas décadas, deve-se aumentar ainda mais a demanda por proteína animal, impulsionadas pelo crescimento populacional, urbanização e aumento da renda per capita especialmente nos países em desenvolvimento, o que continuará incorporando um enorme contingente de população que antes não dispunha de renda para consumir proteína, especialmente a bovina. No entanto, do lado da oferta, o setor lidará com restrições importantes, como a redução das áreas de pastagem e as exigências ambientais. A intensificação tecnológica se apresenta como o caminho inevitável. Sistemas extrativistas produzem de 1 a 3 arrobas por hectare, enquanto modelos intensivos podem chegar a 38 arrobas. A média do Brasil está por volta de 5 arrobas por hectare. O investimento em nutrição, sementes, fertilizantes e medicamentos será maior, mas o retorno econômico e a sustentabilidade também crescerão.
O ciclo pecuário, por sua vez, mostra que o mundo entra em uma fase de alta de preços. A oferta global de carne bovina é restrita em 2025, enquanto a demanda interna e as exportações seguem em ritmo recorde. Esse movimento deve elevar os preços da reposição, estimular a retenção de fêmeas e reduzir a oferta de animais para abate. No Brasil, os indicadores vem apontando abates e produção de carne em níveis recordes, mas preços acima de R$ 300/@.
A experiência do Grupo Raça Agro ilustra a capacidade de adaptação exigida pelo setor. Após um ciclo de 2022 a 2024 desafiador, marcado pela queda no preço do boi gordo, a companhia reestruturou passivos e redesenhou estratégias de gestão. O resultado foi a transformação de um cenário de crise em oportunidade, com projeção de faturamento próximo a R$ 400 milhões neste ano.
Diante desse panorama, Brasil e Colômbia não devem ser vistos como concorrentes, mas como parceiros estratégicos. O intercâmbio técnico realizado recentemente com Bogotá demonstra o potencial de cooperação em sementes forrageiras e práticas de manejo, fortalecendo a pecuária regional frente às exigências globais.
O futuro do setor será definido pela capacidade de produzir mais com menos, conciliando eficiência econômica e sustentabilidade ambiental. A Colômbia desponta como mercado promissor, enquanto o Brasil reforça sua posição de liderança. A integração entre os dois países pode ser de valiosa contribuição para a pecuária mundial, sobretudo ao se levar em conta que o futuro da pecuária é tropical.
*João Antônio Fagundes Neto é CEO do Grupo Raça Agro e especialista do mercado pecuário
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