A heroica Rua 13 de Junho
Muitos conhecem esta popularíssima Rua da Capital, caminharam por suas calçadas e até fizeram compras em lojas, sem contudo, atinar para o significado das encantadoras histórias. Vamos mergulhar primeiro no significado do nome, uma data marcante de bravias e solitárias lutas desta gente na defesa e recuperação do solo pátrio, contra o caudilho invasor Solano Lopez. Realizando estudos em Paris, ele terminou influenciado pelas campanhas de Napoleão Bonaparte. Comandava as tropas paraguaias da invasão o Coronel Vicente Barrios, cunhado de Lopez, trazia um contingente de 3.200 homens – 4 batalhões, em 3 de janeiro de 1865 Corumbá estava dominada.
Essa mácula nunca foi aceita pelos mato-grossenses, na época Presidente da Província José Vieira Couto Magalhães – fundador de Várzea Grande, faz os preparativos para a reconquista. Designa o meritoso Tenente Coronel Antônio Maria Coelho, futuro Barão de Amambaí e primeiro Governador do Estado na República; comandante das Forças Expedicionárias para a dura missão. Partiram de Cuiabá em 15 de maio de 1867, a tropa compunha-se de 400 homens, 1ª, 5ª e 6ª Companhias, em canoas que foram rebocadas por vapores Alfa, Antônio João, Jauru e Corumbá. Importante, a estratégia adotada que surpreendeu o inimigo, havendo desembarcado sem chamar atenção no local de nome Alegre, depois em difícil marcha e utilizando os batéis nos alagados, logram surpreender o invasor que os aguardava na vertente do Rio Paraguai. Travaram intensa fuzilaria e luta de trincheiras na baioneta, consagraram marcante vitória em 13 de junho de 1867. Visando cultuar a memória, o feito e heróis, o nome vem caracterizar a “Retomada de Corumbá”.
Por outro lado, esta via no percurso até o Rio Cuiabá, em cada trecho recebeu um nome. A parte inicial da Praça da República até a antigamente denominada Avenida Generoso Ponce – hoje Isaac Póvoas, chamava-se “Rua Bela Do Juíz” em razão do romance que marcou o primeiro escândalo amoroso na cidade. O local onde está a Sede dos Correios, ali havia a Casa da Câmara, depois foi a residência dos Ouvidores – juízes, desde o Doutor José Burgos Vila-Lobos em 1730. Tudo inicia em 1753, a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, tinha na época apenas 34 anos.
Uma mulher envolta num manto, altas horas da noite saía da velha cadeia, indo para a casa do Exmo. Ouvidor João Antônio de Vaz Morilas, sendo a entrada principal nessa famosa rua. A porta do casarão ficava apenas encostada havendo apenas uma tênue luz de lamparina que vinha dos aposentos de dormir, onde o Senhorio, já aguardava a visita de sua presa com ansiedade.
Morilas, homem da lei, culto, elegante, a mais alta autoridade, mandava e desmandava nesta vila, vez por outra carregava nas custas, gostava de dinheiro e mulheres, as “Crônicas de Cuiabá” anotam que o mesmo inquietou sua vizinha, mulher casada. Chegou a esta cidade no ano de 1749.
O romance corria às mil maravilhas, mas eram notados no vilarejo os passeios noturnos. Até que chega em Cuiabá em 7 de janeiro de 1752 o Governador da noviça Capitania de Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura Tavares. Estando ambos protagonistas distantes de suas esposas, por destino ou ante a escassez reinante, amaram a mesma beldade, Dona Benta Cardoso ! Após acirrada luta entre as duas autoridades máximas, o Governador em 1762 acusa esse Ouvidor de exercer comércio clandestino, depois envia-o preso para Belém do Pará, encerrando a história.
Nesta trecho inicial, para vislumbrarmos a relevância desta rua, a Casa da Câmara, foi vendido em 1848 ao importante chefe político Capitão Manoel Alves Ribeiro, onde depois funcionou o Liceu Cuiabano. No local da hoje Igreja Presbiteriana, funcionou em 1910 o primeiro cinema. Nesse mesmo lado da quadra, havia uma casa de muitas janelas, era a residência do Barão de Aguapeí – João Batista de Oliveira, Presidente da Província em 1868. Neste casarão durante um suntuoso baile do Partido Liberal, oferecido ao seu Presidente Generoso Ponce, em 8 de dezembro 1889, após a meia noite, chegou a festejada notícia da proclamação da República ! Posteriormente, o imóvel foi adquirido pela Irmãos Haddad & Cia. Ltda, na frente havia o Asilo de Santa Catarina de Sena e o Consulado da Alemanha, onde em 1930 opera a primeira agência aérea, Sindicato Condor. Descendo pelo lado direito, encontrava-se o Palácio Arquiepiscopal de Dom Carlos Luis d’Amour e mais adiante o local onde instalaram a primeira Empresa Telefônica.
O trecho seguinte da via … entre a Generoso Ponce até o Asilo Santa Rita, chamava-se “Cruz das Almas”, em referência às execuções efetuados no local que veio a ser a Praça Ipiranga. Neste intervalo ficava a chácara do Comendador Manoel Nunes Ribeiro, ao seu lado a ARL dos Bodes – Acácia Cuiabana, no lado direito esquina com Dom Bosco, inaugurada em abril de 1891, a estação de Bondes da Cia. Progresso Cuiabano, que ia do Porto até a atual Praça da Mandioca.
O segmento posterior da rua, denominava-se “Lavra Pau”, do já citado Asilo até a Praça Benjamim Constant, em frente ao Arsenal de Guerra – SESC, criado por Dom João VI em 1818.
O curto percurso até o Grupo Escolar Senador Azeredo, atual Casa do Artesão, era chamado “Capim Branco”, ganhava ainda o nome de “Limoeiro” e mais adiante era “Curtume”. Este trecho também chamavam de “Taquaral” e “Chacrinha”, e desta finalizando a via na granja do Dr. Fenelon Müller – Intendente Geral, onde funcionou as instalações da Cervejaria Cuiabana. Falta só agora o prefeito do Paletó iniciar as obras do Metro na Ipiranga ou ali encontrar petróleo !
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