Boa Midia

A cidade do garimpeiro Cacheado

Novo Mundo
Novo Mundo

Novo Mundo completa 24 anos de emancipação neste domingo, 17. 

Cidade com topografia acidentada, Novo Mundo dista 30 quilômetros de Guarantã do Norte pela MT-419 pavimentada, mas com pontes de madeira sobre o rio Braço Norte e sua vazante. Com 5.790,962 km² e 8.549 moradores, o município pertence à comarca de primeira entrância de Guarantã do Norte. A densidade demográfica é de 1,27 habitante por quilômetro quadrado. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alcançou 0,674 numa escala de zero a um.

Sem rede coletora, o esgoto da cidade é lançado em fossas. A água, de mina, chega a todos os domicílios. O município, na calha do rio Teles Pires, tem a vila Cinco Mil, distante 50 quilômetros no sentido de Carlinda, enfrenta problemas agrários e um pequeno hospital atende a saúde básica, mas a referência do SUS é o Hospital Regional de Colíder, distante 180 quilômetros.

Com um rebanho bovino de 349.606 cabeças de mamando a caducando, a pecuária é o principal esteio econômico do município. O Produto Interno Bruto (PIB) é de R$ 115.679.000 e sua economia não exportou nem importou em 2016. O Parque Estadual do Cristalino se estende por Novo Mundo. Sobre ele leia o tópico Preservação, no segundo capítulo.

MEMÓRIA – Novo Mundo e o vizinho Guarantã do Norte tiveram a mesma origem. Ambos praticamente começaram com o Projeto de Assentamento Conjunto Peixoto de Azevedo, de 245 mil ha em área então pertencente a Colíder. Posteriormente outras glebas do Incra somaram-se àquela.

Em 1980, atendendo pedido da irmã Glícia Maria Barbosa da Silva, de Mundo Novo, em Mato Grosso do Sul, o Incra destinou 211 mil hectares na região do rio Nhandu, onde mais tarde surgiriam os municípios de Novo Mundo e Guarantã do Norte, para assentar cerca de 600 colonos daquele município e outros brasileiros que ocupavam ou eram proprietários de terras no Paraguai, os chamados brasiguaios. A execução fundiária ficou a cargo da Cotrel, que dividiu a área em cinco módulos e, em cada um pretendia criar uma comunidade com posto de saúde, campo de futebol, escola e igreja nos moldes das agrovilas idealizadas por Norberto Schwantes. Aquele que deveria ser o módulo chamado Nhandu acabou sendo deslocado para uma vila que surgiu a três quilômetros do local escolhido para sua instalação. Essa vila era a corruptela do Cacheado, às margens do córrego Grotão, e se transformaria em Novo Mundo. Os demais módulos: Cotrel, Linha Fogo, comunidade São Pedro em Nhandu e Salvador Siqueira em Nhandu, foram consolidados.
Coincidentemente com o assentamento dos parceleiros o ouro foi descoberto na região e aconteceram levas migratórias que mudaram seu perfil. Com isso a corruptela do Cacheado ganhou novos moradores.
Alguns chamavam a vila do Cacheado de vila Ouro Novo, porque ela se localizava numa área onde uma mineradora com aquele nome extraía o metal. O nome Novo Mundo foi escolhido em 1983, por assentados oriundos de Mundo Novo. É uma inversão da denominação para diferenciá-lo daquele município e não tem relação com a Ouro Novo.

O garimpo fazia fortuna da noite para o dia. Porém, deixava para trás um rastro de violência com mortes e feridos nas incontáveis brigas por motivos fúteis em cabarés e nos baixões. Acrescente-se a isso a tragédia da malária, que ia além de casos isolados e se transformava em hiperendemia. Quem a enfrentava era o farmacêutico cuiabano e um dos pioneiros, Maurindo Ramos, da Drogaria Ramos. Maurindo era a única arma contra a doença. Com seu microscópio fazia lâmina e medicava garimpeiros, prostitutas e comerciantes do lugar. Além disso, segundo ele, não eram poucos os casos de blenorragia – a famosa gonorreia – e outras doenças sexualmente transmissíveis que infestavam os garimpos.

Cacheado e Maurindo são os dois principais personagens de Novo Mundo. Cacheado tornou-se fazendeiro. Maurindo atendeu mais de 10 mil casos de malária, mas aposentou o microscópio e retornou a Cuiabá.
Novo Mundo pertencia a Guarantã do Norte e emancipou-se em 17 de novembro de 1995 por uma lei de autoria do deputado Jorge Yanai aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Dante de Oliveira.

CACHEADO – Cacheado é o apelido do garimpeiro e primeiro comerciante do lugar, o piauiense de Campo Maior, Antonio Alves da Silva, que chegou ao Nortão em 1979, quando tudo na região se resumia ao garimpo de ouro.

Cacheado sentia na pele o vácuo do Estado na corruptela por ele fundada no garimpo que lhe pertencia. Via seus companheiros de trabalho morrerem vítimas da balária – mistura de bala e malária -, garimpava sem as mínimas condições de segurança, testemunhava o raiar e o ocaso do sol com crianças nas ruas por falta de escola.

Aluno da escola do mundo, Cacheado assina o nome. Ausente do banco escolar pela dureza da vida, retribuiu com grandeza essa adversidade: construiu as duas primeiras escolas de Novo Mundo. Vítima de derrame cerebral, Cacheado se recupera na Estância Repouso, à margem da BR-163. Com dificuldade de fala, resume seu sentimento sobre a cidade que fundou: “Tenho olhos bons para os lados de lá”.

PS – Texto transcrito do livro NORTÃO BR-163: 46 ANOS DEPOIS publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade sem apoio das leis de incentivos culturais.

A população atual de Novo Mundo é de 9.178 habitantes

Redação blogdoeduardogomes com fotos do livro citado

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