271 ANOS – Impunidade dá o tom de Grampolândia Pantaneira
Mato Grosso completa 271 anos e sua população cobra a apuração do maior atentado contra a cidadania: Grampolândia Pantaneira – o grampo ao estilo barriga de aluguel, em massa de adversários do governador Pedro Taques

Transcorridos dois anos de sua divulgação, o escândalo Grampolândia Pantanteira ainda não fechou o cerco sobre seu principal suspeito, o ex-governador Pedro Taques. Até agora as investigações, inquéritos e a esfera judicial divagam sobre a arraia-miúda envolvida. Mesmo assim, existe a possibilidade de uma guinada no caso. Em março deste ano, às vésperas de serem julgados pelo juiz Marcos Faleiros, policiais militares pediram para serem reinterrogados, e rumores dão conta de que todos assumirão suas culpas e apontarão Taques na condição de chefe do esquema.
Os coronéis da PM Zaqueu Barbosa e Evandro Lessco, juntamente com o cabo Gérson Corrèa Júnior serão ouvidos em julho por Faleiros. Porém, até agora, Taques é mantido acima do bem e do mal.
Mato Grosso, 14 de maio de 2017. O Fantástico exibe uma reportagem mostrando que a Polícia Militar fazia gravações clandestinas s usando o artifício chamado barriga de aluguel para conseguir autorização judicial para as escutas. O escândalo ganhou o nome de Grampolândia Pantaneira e abalou a estrutura do governo, apesar da blindagem jornalística ao então governador Pedro Taques. Esse rumoroso caso tem personagens subalternos e intermediários, mas até agora não chegou a Pedro Taques
Nunca um escândalo de tamanha dimensão foi tão mula sem cabeça quando o dos grampos em Mato Grosso, que é chamado de Grampolândia Pantaneira. Tudo e mais um pouco aponta que o chefe desse crime seja o ex-governador Pedro Taques (PSDB), sem prejuízo da presunção da inocência e também respeitando suas negativas sobre o caso: “não sabia”, “não ouvia”, “nem sentia nada” sobre o que sua cúpula policial e a Casa Civil faziam recorrentemente.
Nesse episódio, a exclusão de Taques é ainda mais facilitada pelas reportagens que se multiplicaram detalhando situações da arraia-miúda, como se tudo aquilo não tivesse acontecido no cerne do governo chefiado por Pedro Taques.

O grampo começou em setembro de 2014, na reta final da campanha ao governo. Quem governava era Silval Barbosa (PMDB), que àquela época era figura decorativa no Poder. Conhecedores das entranhas do Palácio Paiaguás sabem bem o que é a bajulação ao que está para assumir e o desprezo com quem está a um passo de sair.
O mundo palaciano de bajulativa falsidade se desmanchava a espera das urnas para se atirar aos pés de Taques (que era filiado ao PDT) e virava a cara para Silval, que não passava de rei morto.
Na reta final da disputa eleitoral em 2014 ao mundo palaciano juntaram-se coronéis ligados a Taques e esse grupo de caserna ficou sob a batuta de Paulo Taques, primo de Taques e então coordenador Jurídico de sua vitoriosa campanha eleitoral.
Formou-se assim um núcleo forte que preparava uma operação limpa-trilhos para o novo governador. Com a posse do eleito, todos foram contemplados com secretarias, a exceção do coronel Zaqueu Barbosa, que ficou no comando da Polícia Militar; Paulo Taques, o guru, recebeu as chaves da Casa Civil.

Com a posse de Taques em janeiro de 2015 os grampos tomaram proporções avassaladoras. A cúpula de Taques mandou gravar adversários, advogados de outras coligações e mais algumas figuras. Além desses grampos que seriam de interesse político, a investigação descobriu que até uma ex-amante de Paulo Taques teria sido gravada – ou seja, o leque de ingerência na privacidade das pessoas ia do palanque aos lençóis na alcova.
Num desabafo, o desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri, disse que “mais de 70 mil foram grampeados”. O número citado não passava da indignação do magistrado, mas que foi descomunal não resta dúvida. Perri cuidava desse caso, até que o mesmo subiu para o STJ onde esteve sob a responsabilidade do ministro Mauro Campbell Marques, que impôs sigilo na ação.

Não se pode fechar o assunto somente sobre grampo. É preciso avaliar com amplitude. Muito provavelmente estivesse em curso um plano de Pedro Taques para dominar o poder por longo tempo. Senão vejamos: em 18 de dezembro de 2014, com Pedro Taques eleito e diplomado, a Delegacia Fazendária desencadeou a Operação Edição Extra, que prendeu os empresários do ramo gráfico e irmãos Dalmi, Fábio e Jorge Defanti e servidores estaduais. A operação nasceu de uma denúncia feita em 2013 pelo Ministério Público Estadual (MPE) para apurar um suposto rombo de R$ 40 milhões em licitação de serviços gráficos e foi comandada pelo delegado Carlos Cunha. Não há nenhuma objeção contra Edição Extra, mas analistas sustentam que a data de seu desencadeamento teria sido arquitetada por Paulo Taques com setores da Polícia Civil ligados a Taques, sem que a Delegacia Fazendária soubesse.
No dia 18 de dezembro de 2014 a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) realizaria eleição para renovar sua diretoria. Taques apoiava o então prefeito de Lucas do Rio Verde Otaviano Pivetta (PDT). O à época presidente da Assembleia, José Riva (PSD) e Silval eram padrinhos de Neurilan Fraga (PSD), que era prefeito de Nortelândia. Franco atirador o prefeito de Alto Paraguai, Adair José (PMDB), também disputava a presidência da entidade municipalista.
No café da manhã nos hotéis em Cuiabá, pouco antes da votação que começaria às 9 horas, prefeitos de todas as regiões acompanharam na TV Centro América o noticiário do Bom Dia Mato Grosso informando que a Polícia Civil prendeu servidores e empresários, e que ocupava a Secretaria de Comunicação do Governo. A televisão chegou ao local da operação antes mesmo que os policiais. Sites, que tradicionalmente são atualizados após as 8h30 madrugaram e venderam a imagem da desgraça administrativa.
Enquanto a imprensa fazia sua parte, figuras ligadas a Taques conversam ao pé do ouvido com o eleitorado da AMM. Riva e Silval reuniram prefeitos e lhes falaram sobre o suposto projeto de Pedro Taques.
Neurilan venceu com 59 votos. O franco atirador Adair José recebeu 32 votos. Pivetta ficou na lanterna em 30 votos. Em Brasília, pra onde coincidentemente vai sempre que acontece operação policial, Pedro Taques amargou a derrota.

De volta aos grampos
O promotor Mauro Zaque era secretário de Segurança Pública e em outubro de 2015 comunicou Taques em ofício protocolado a existência do crime recorrente. Pedro Taques não tomou providência com o vigor que se esperava para um caso de tamanha gravidade e em dezembro daquele ano Zaque deixou o governo. Em outubro o ex-secretário-adjunto de Zaque e promotor de Justiça em Minas Gerais, Fábio Galindo, confirmou o que disse Zaque e ainda acrescentou maiores detalhes sobre a informação que foi passada a Pedro Taques.
Taques tem memória privilegiada. Às vezes, ao microfone falando para multidão, em algum evento, vê alguém e se dirige a ele, “Fulano, você prometeu que traria doce de leite pra mim e não trouxe, rapaz!”. Porém, sobre o comunicado de Zaque sobre os grampos ele sofre amnésia e ainda desqualifica o fato.
A versão oficial do Palácio Paiaguás sobre o episódio era rocambolesca. Segundo ela, no protocolo a que se refere o ex-secretário de Segurança consta um pedido de vereadores por Juara, por obras rodoviárias naquele município.
Depois de muitas versões para o documento, finalmente o chefe da Casa Civil, José Arlindo passou a ser investigado por supostamente ter sido o autor da fraude no protocolo.

GRAMPOS – Em síntese, os grampos eram feitos com autorização judicial, principalmente pelo juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, da comarca de Cáceres.
A mecânica? O cabo Gérson pedia autorização ao magistrado para o Serviço Reservado da PM monitorar supostos telefones de policiais militares que estariam envolvidos com o narcotráfico, e também de figuras ligadas a eles.
A Polícia Militar não tem prerrogativa de polícia judiciária, mas pode internamente apurar atitudes ilícitas de seus efetivos. Só que na verdade não se tratavam de telefones de policiais militares, mas sim de adversários políticos de Pedro Taques, de jornalistas, advogados, médicos etc. É o que se chama de barriga de aluguel.

Dentre os grampeados o jornalista José Marcondes Muvuca e a deputada estadual Janaína Riva (MDB e à época PSD). Uma fonte palaciana revelou que Muvuca era monitorado para se saber quem no Palácio vazava informação à imprensa; Janaína seria considerada uma menina bonita e deslumbrada, mas que teria contato com o grupo que durante duas décadas foi liderado por seu pai, o ex-deputado José Riva.
Estranho nesse fato a facilidade de magistrados na autorização da escuta.
Estranho também que nunca tivessem recebido relatórios sobre os grampos.
Estranho a quantidade de figuras grampeadas.
Também causa estranheza que um volume tão grande de grampos tivesse passado despercebido ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Muito estranho também foi a postura de Zaque, que mesmo sendo membro do Ministério Público não comunicou ao Gaeco tal prática recorrente na cúpula do governo.
Na celebração dos 271 anos Mato Grosso deve refletir sobre o significado de Grampolândia Pantaneira e a forma como uma eficiente blindagem deixou Taques até agora longe do fogaréu daquele ultrajante escândalo.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Mayke Toscano
2 – Prefeitura de Cáceres
3 – José Medeiros
4 – Dinalte Miranda
5 – Vanderlei Meneguini
6 – José Medeiros
7 – Site muvucapopular.com.br
8 – Maurício Barbant – Assembleia Legislativa
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