Daniel Moura, um dos construtores de Rondonópolis

Rondonópolis está no centro das atenções de investidores, de jovens recém-formados em busca de oportunidade no mercado e povoa os sonhos de agricultores que cultivam em outras regiões. Cidade bonita que reúne qualidade de vida com boa taxa de crescimento, com excelente localização geográfica, com boa malha rodoviária, com um aeroporto regional que atende sua demanda e privilegiada por ser o ponto mais ao norte da principal ferrovia que transporta grãos na América Latina – a Rumo ALL Um lugar assim mexe com o imaginário das pessoas. Mas em 1955? Sim, há 64 anos? O que motivaria alguém a trocar sua terra por aquela cidadezinha às margens do rio Vermelho (Poguba para os bororos), que ensaiava os primeiros passos no vazio demográfico mato-grossense? Daniel Moura sabia e acreditava que ali surgiria uma metrópole e que lhe cabia a tarefa de dar o pontapé para a arrancada ao desenvolvimento. Àquela época, ele comemorava a chegada de novos moradores e conhecia muitos deles. Mais: seu dedo político estava por trás de boa parte das mudanças que levavam pioneiros pra a Terra de Rondon.
Nascido em Porto Nacional, no antigo Norte de Goiás, e agora Tocantins, Daniel Martins de Moura deixou aquela cidade e foi pra Rondonópolis em busca do amanhã. Isso, nos anos 1940. De veia política, em 1945, ao lado de Filinto Müller participou da fundação do PSD, que nasceu com a redemocratização após o fim do Estado Novo.
Em 10 de dezembro de 1953 Rondonópolis emancipou-se de Poxoréu por uma lei de autoria do deputado João Falcão, sancionada pelo governador Fernando Corrêa da Costa. À época o governador nomeava o juiz de Paz do lugar para exercer o cargo de prefeito do novo município até a realização de eleição municipal em data comum a todos os municípios. O juiz era Otacílio Fontoura, que não aceitou a função. O suplente de Otacílio, Rosalvo Fernandes Farias, foi convocado, tomou posse em 1º de janeiro de 1954 e ganhou o título de primeiro prefeito de Rondonópolis.
Em 1954 Daniel Moura foi eleito prefeito e empossado em 31 de janeiro de 1955. Rondonópolis tinha 10.400 habitantes, com a maioria na zona rural. No entorno ainda não haviam sido criados os municípios de Dom Aquino, Jaciara, São Pedro da Cipa, Juscimeira, São José do Povo, Pedra Preta e Primavera do Leste. As ruas não eram calçadas; não havia galerias pluviais, esgoto, telefonia, faculdade nem acesso pavimentado e a energia era gerada por motores estacionários dos próprios consumidores. Saúde quase zero e quem precisasse de médico procurava atendimento em Mineiros (GO) ou Guiratinga, distante 110 quilômetros. Ninguém em Mato Grosso sabia que existia uma certa leguminosa de origem chinesa chamada glycine max, que atende pelo nome de soja.
Nos primeiros passos de Daniel Moura na prefeitura a cidade não oferecia atrativos para ganhar moradores. A economia municipal, também não. Havia garimpos de diamante, capazes de virar a cabeça de todo e qualquer aventureiro, mas esses se localizavam em Poxoréu e no Vale do Garças. Mas o prefeito tinha cartas nas mangas.
Após a eleição e antes da posse, Daniel Moura escreveu uma centena de cartas e mandou três homens de sua confiança levá-las, em mãos, aos destinatários no Norte de Goiás. Nelas descrevia Rondonópolis como verdadeiro Paraíso na Terra. O respeito que gozava em sua região natal reforçava o teor de seus textos. Convidava parentes, amigos e conhecidos para viverem em sua nova cidade. Mais: lhes oferecia terrenos urbanos em área nobre, com carta de aforamento da prefeitura, e lotes na zona rural nos projetos pouco antes lançados pelo ex-governador Arnaldo Estevão de Figueiredo.
Muitas famílias deixaram o Norte de Goiás e foram para a embrionária Rondonópolis. Invariavelmente, quando chegavam questionavam Daniel Moura, Ele as acalmava dizendo que em breve a cidade teria tudo aquilo que as cartas continham e que eles teriam que trabalhar para tanto.
Os novos rondonopolitanos acabavam se acostumando e passavam a comemorar as conquistas da cidade – uma delas foi a construção da primeira pequena central hidrelétrica (PCH) da região, no rio Ponte de Pedra, afluente do Vermelho pela margem esquerda, na cabeceira do Pantanal.
Os convidados de Daniel Moura ajudaram a impulsionar o crescimento. Estabeleceram-se com armazénas, bares, restaurantes, hotéis, farmácias, armarinhos, açougues etc. De certa forma e observada as características da época, foi o primeiro fluxo migratório motivado pela economia.
Aos convidados e aos moradores de modo geral, Daniel Moura concedia cartas de aforamento, para que construíssem residências e estabelecimentos comerciais, mas nenhuma carta contemplou membros de sua família. Viveu e morreu pobre – de cabeça erguida.
Na segunda-feira, 14 de abril de 1996, aos 90 anos, lúcido, porém debilitado pela idade, Daniel Moura fechou os olhos para sempre no Paraíso na Terra, onde seu corpo foi sepultado. Rondonópolis lhe rende algumas homenagens. A maior, é a denominação da grande escola de Vila Operária: Escola Estadual Daniel Martins de Moura.
Quatro dias após seu adeus, o senador Júlio Campos proferiu um discurso no Senado e pediu que o mesmo fosse incluído aos anais daquela Casa Legislativa. Em certo trecho, Júlio disse, “A morte é muito frágil para levar alguém como Daniel Moura. Ela só mata aqueles que não ficam nos seus exemplos”.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTO: Acervo Museu Rosa Bororo – Rondonópolis
Que alegria ver um texto tao lindo de uma pessoa tao especial e amada ,meu avo queria que ainda estivesse conosco ,quero parabenizar ao autor pelo trabalho e dedicacao ao faze-lo recordar e viver.
Obrigado Daniel. Seu avô foi um grande homem. Ele sempre me visitava na sucursal do jornal e conversávamos demoradamente. Tenho profundo respeito pela memória do seo Daniel. Passe a ler blogdoeduardogomes regularmente. O texto é sempre esse. Na coluna diária PERSONAGENS reverenciamos várias figuras rondonopolitanas merecedoras.
Eduardo Gomes